Skip to main content

Enfim chegou a oportunidade de retornarmos à região de Kalos com Pokémon Legends: Z-A, um título que desde sua revelação prometeu revolucionar a franquia com batalhas em tempo real e a volta das amadas MegaEvoluções. Desenvolvido pela Game Freak e publicado pela Nintendo, o jogo acontece cinco anos após os eventos de Pokémon X e Y, totalmente ambientado em Lumiose City. A proposta é ousada e representa um passo significativo para a série, mas talvez esse título demonstre como seria uma evolução incompleta e o que impede o jogo de atingir seu verdadeiro potencial.​

Evoluções em todos os sentidos

O maior avanço de Legends: Z-A está no abandono definitivo do sistema de turnos, assim como vimos em Pokémon Legends: Arceus. As batalhas agora acontecem em tempo real, quase como os JRPGs vêm adotando e migrando para um estilo mais aventura, com treinadores e Pokémon se movimentando livremente pelo campo. Cada movimento possui um tempo de recarga específico, eliminando o sistema de PP tradicional, e os ataques têm alcances e áreas de efeito distintas. Essa novidade na mecânica básica da franquia exige consideração não apenas para as vantagens de tipo, ainda apoiada nos tipos de Pokémon, mas também do timing preciso para trocar Pokémon ou executar movimentos.​

Pokémon Legends: Z-A

É uma mudança radical que funciona surpreendentemente bem e ocupa um espaço divertido, tanto de aprendizagem quanto de jogabilidade. O combate ganha camadas de profundidade estratégica, especialmente quando comparado aos predecessores recentes da franquia, fazendo com que você utilize comandos com botões A, B, X e Y, quando travado em um alvo com ZL, adicionando uma dimensão tática que faltava em Legends: Arceus. A possibilidade de rolar para esquivar de ataques enquanto comanda seu Pokémon também cria momentos tensos, especialmente nas batalhas contra Pokémon Rogue Mega-Evolved, ou seja, criaturas MegaEvoluídas e fora de controle.​

No entanto, a partir dessa excelente adição ao jogo, encontramos o primeiro problema do jogo com o sistema de câmera se tornando um problema. Isso acontece porque você precisa manter ZL pressionado durante todo o combate para travar no alvo é desconfortável, porém o analógico direito também funciona para a troca de alvos ao mesmo tempo que para a câmera, exigindo que você solte ZL para mover sua visão. Foram várias as vezes em que esse sistema falhou ao detectar o Pokémon correto, especialmente ao trocar de alvos, além de tornar complexa a movimentação de câmera durante o combate frenético.

Pokémon Legends: Z-A

Após muitos anos ausentes, as MegaEvoluções retornam como elemento central de Pokémon Legends: Z-A. O sistema foi redesenhado para que quando seu Pokémon causar dano, o oponente solta orbes de Energia Mega, que o treinador precisa coletar manualmente para preencher o Medidor Mega. Uma vez cheio, pressionar o analógico direito ativa a transformação e, diferente de X e Y, em que serviam basicamente como uma certeza de vitória, agora as MegaEvoluções são necessárias para conseguir enfrentar os desafios mais difíceis.​

O jogo introduz vinte e seis novas MegaEvoluções, distribuídas entre as diversas gerações presentes em Lumiose. Assim como Mega Charizard X e Y, por exemplo, Mega Meganium ganha o tipo secundário como Fada e aumenta seu Ataque Especial, exemplificando como essas transformações elevam Pokémon historicamente subestimados. O Medidor Mega diminui lentamente, mas pode ser reabastecido durante a batalha, permitindo múltiplas MegaEvoluções em um único confronto.​

Pokémon Legends: Z-A

Os Rogue Pokémon MegaEvoluídos funcionam como encontros de chefe, lembrando os Pokémon Nobres de Hisui, em Arceus. Eles atacam não apenas seus Pokémon, mas também o protagonista, exigindo esquivas constantes enquanto gerencia sua equipe. São batalhas longas e intensas que representam alguns dos momentos mais memoráveis do jogo, mesmo quando a falta de um Pokémon do tipo certo com capacidade de MegaEvoluir poderia tornar essa experiência como algo frustrante.​

Uma cidade que não respira

A decisão de ambientar totalmente Pokémon Legends: Z-A em uma única cidade foi um feito corajoso, no entanto a execução desse espaço acabou decepcionando bastante. Lumiose City, inspirada em Paris e estruturada como uma roda com raios, deveria ser uma protagonista vibrante assim como sua inspiração. No entanto, a cidade acabou sendo apresentada como um labirinto cinza, enfadonho e repetitivo, com texturas planas e prédios sem vida.​

Pokémon Legends: Z-A

Diferente dos jogos de mundo aberto em que você tem liberdade de entrar e visitar, a maioria dos edifícios em Lumiose City são caixas retangulares com imagens de janelas coladas como texturas em imagem, coladas diretamente do Photoshop. Após muitas horas de jogo, por conta do alto fator replay que a Game Freak sempre adiciona aos seus títulos, você ficará enjoado de olhar para as mesmas texturas de janelas. Comparado com qualquer outro jogo do Switch anterior, até mesmo Arceus, Pokémon Legends: Z-A parece uma geração inteira atrasada.​​

As Wild Zones, habitats especialmente desenvolvidos para os Pokémon prosperarem, são extremamente pequenas e repletas de criaturas aleatórias, de forma nada criativa ou sem critério. Nessa edição temos, pela primeira vez, a perda da proposta de habitat natural e exploração que outros jogos sempre trouxeram, até mesmo Pokémon Legends: Arceus. Encontrar um Hippopotas em caixas de areia artificiais dentro da cidade simplesmente não tem o mesmo impacto de encontrá-lo na lama em Pokémon Scarlet ou Violet.​

Pokémon Legends: Z-A

A cidade também oferece cafés, restaurantes e pequenos estabelecimentos, todos com identidades únicas, e nesses espaços menores percebemos o potencial do jogo. NPCs comem, funcionários trabalham, há vida e charme, diferente da vida ao ar livre. Depois de batalhar em um restaurante bem detalhado, você retorna para as mesmas ruas monótonas com os mesmos prédios copiados e colados. Para uma cidade que deveria representar Paris, a ausência de diversidade arquitetônica é acaba sendo muito estranho.​

A melhor história desde Black & White

Pokémon Legends: Z-A consegue explorar questões interessantes em sua história, trazendo elementos de Pokémon X e Y que não esperávamos. Com AZ ao lado de sua Eternal Floette, que retorna em uma outra missão e que não vamos comentar para não estragar as surpresas, nós conhecemos outros personagens que fazem parte de um núcleo vilanesco e que vai demonstrando suas reais intenções ao longo do jogo. Respostas sobre as MegaEvoluções e Lumiose, se conectando diretamente aos eventos de X e Y, mas se exigí-los como pré-requisito, colocam Pokémon Legends: Z-A no mesmo patamar narrativo de Black e White.​

Pokémon Legends: Z-A

O fenômeno dos Pokémon Rogue MegaEvoluídos ameaçando a cidade serve como linha narrativa principal para justificar a equipe MZ, composta pelo protagonista e personagens como Urbain ou Taunie, principal aliado durante sua estadia em Lumiose, Naveen e Lida, todos com desenvolvimento que surpreende e agrada. Cada personagem com sua missão pessoal, você acompanhará momentos envolventes e que nos fazem se importar com o elenco dessa edição.

Toda construção narrativa também justifica o Z-A Royale, competição noturna em que treinadores batalham em zonas fechadas pela cidade. Enquanto você sobe os rankings de Z até A derrotando treinadores, ganhando Ticket Points e enfrentando oponentes habilidosos em partidas promocionais, esse torneio se entrelaça com a história. A única escolha ruim, na minha opinião, é ver a história fazendo com que você salte a maioria dos rankings por pura conveniência, e as Partidas de Promoção acabam se tornando corridas contra o tempo tornando a premissa inicial em uma fachada narrativa superficial.​

Pokémon Legends: Z-A

Por conta desses fatores, mesmo ao redor de uma história interessante, Pokémon Legends: Z-A acaba desenvolvendo uma progressão repetitiva. Recursos aparecem constantemente sem explicação clara, eliminando o senso de exploração e gerenciamento que Scarlet, Violet e até mesmo Arceus ofereciam. O jogo bloqueia conteúdo atrás de tarefas repetitivas muito simples, que eram um dos maiores defeitos de Arceus, e retornam aqui sem lições aprendidas para demonstrar que a franquia insiste em não evoluir, principalmente quando lançada próximo de Digimon Story Time Stranger, que demonstrou como expandir dentro de sua fórmula.

Beleza que impede a grandeza

Existe um esforço genuíno na direção de arte, com Pokémon finalmente recuperarando suas cores vibrantes que faltavam desde a transição para o 3D, com designs humanos e Pokémons se movendo com graça e realismo adicionais, apresentando as melhores animações que a série já produziu. Muitas cenas parecem serem recortes do animê, mesmo que os brasileiros ainda não possam aproveitar tudo isso com dublagem ou legenda em PT-BR.​

Pokémon Legends: Z-A

Compensando a falta de vida e diversidade em Lumiose City, a trilha sonora de Pokémon Legends: Z-A representa um dos pontos altos do jogo, com composições que incorporaram teclado e acordeão, instrumentos que evocam instantaneamente a atmosfera francesa de Kalos. O tema de Lumiose City recebe múltiplas versões progressivas, além de remixes nostálgicos das locações de X e Y.

No entanto, tudo isso não consegue encobrir uma das maiores decepções por conta da ausência de Lendários. Enquanto Pokémon Legends: Arceus ofereceu várias dessas criaturas para encontrar e explorar, construindo a primeiro Pokédex como registro de lendas, em Pokémon Legends: Z-A temos a sensação de jogar uma história longa e repetitiva sem conhecer o real papel dos Pokémons em Lumiose. Mesmo que a história sobre Zygarde apareça, demorando muito para ser contada, ela está longe de ser uma grande lenda quando comparada aos demais jogos.​

Pokémon Legends: Z-A

No fim, Pokémon Legends: Z-A é um jogo de contrastes brutais, com um sistema de combate em tempo real representando uma inovação genuína e agradável para a franquia. As MegaEvoluções retornaram triunfantes, transformadas de gimmick em mecânica essencial, e a narrativa com bom desenvolvimento para os personagens mostra ambição incomum para os padrões recentes da franquia. Tudo arquitetado com uma trilha sonora que consegue capturar perfeitamente a essência de Kalos reimaginada.

No entanto, essas conquistas colidem constantemente com escolhas desconcertantes em que a Game Freak demonstrou que pode inovar. O problema não é falta de talento ou visão, mas sim a complacência que vem de saber que Pokémon venderá milhões independentemente da qualidade. Pokémon Legends: Z-A é divertido quando funciona, mas frustrante saber o quanto poderia ser melhor com mais tempo de desenvolvimento.

76 %


Prós:

🔺Sistema de batalhas em tempo real dinâmico e estratégico
🔺Retorno das MegaEvoluções com mecânica reinventada
🔺Trilha sonora que reinventa temas clássicos de Kalos
🔺Narrativa amadurecida e interessante

Contras:

🔻Escolha de controles para os combates
🔻Câmera e sistema de travamento de alvo problemáticos
🔻Exploração limitada a apenas Lumiose City
🔻Progresso por tarefas repetitivas e missões pouco inspiradas
🔻Falta de coerência para habitats e Pokédex
🔻Lumiose City não possui vida ao ar livre

Ficha Técnica:

Lançamento: 16/10/25
Desenvolvedora: Game Freak
Distribuidora: Nintendo
Plataformas: Switch, Switch 2
Testado no: Switch 2