A série Borderlands sempre nos presenteou com uma combinação perfeita de tiro em primeira pessoa, RPGs, humor, caos e loot para dar e vender. Desde Borderlands 3, é meio difícil esperar algo realmente novo e bombástico vindo da franquia, pois ela vem seguindo uma mesma receita de bolo há 13 anos e dificilmente será alterada no futuro (e não, o jogo da Telltale não conta). Sendo assim, a solução que a Gearbox encontrou foi alterar radicalmente a temática do jogo e colocar o jogador em aventuras ainda mais malucas e espalhafatosas.
Assim nasceu Tiny Tina’s Wonderlands, o mais novo spin-off da série que também é uma sequência direta de Tiny Tina’s Assault on Dragon Keep, DLC do segundo jogo lançado em 2013. Substituindo todo aquele mundo sci-fi caótico que já estamos acostumados por um universo de fantasia medieval, este é na verdade um jogo dentro de um jogo, onde estamos apenas jogando uma partidinha de RPG de mesa com os amigos, só que dentro dos moldes do bom e velho Borderlands.
Zoeira sem limites
Quem jogou a trilogia anterior (ou pelo menos só um dos três títulos) sabe bem que Borderlands traz o equilíbrio ideal entre um enredo cheio de personagens carismáticos e reviravoltas mirabolantes com bastante humor e piadas. Pois bem, aqui as coisas são bastante diferentes, pois eles tiraram toda a parte do enredo envolvente e deixaram só a zoeira. Não que isso seja ruim, é um jogo bem engraçado, mas eu senti falta de ficar mais interessado na história.

O elenco aqui é de tirar o chapéu, com cada personagem sendo brilhantemente interpretado por um comediante famoso lá nos Estados Unidos – com direito até a Andy Samberg, o eterno Jake Peralta de Brooklyn 99. A história do jogo é praticamente inexistente, pois você está apenas jogando uma partida de Bunkers & Badasses (o D&D desse universo) com os outros personagens. O enredo acaba se limitando à campanha do RPG que vocês estão jogando, sendo contada e controlada diretamente pela Tiny Tina, que não é somente a dona do jogo, mas também é a Mestre da campanha.
Diferente dos outros jogos da franquia, aqui você não terá que escolher entre personagens pré-definidos com classes específicas, mas terá a liberdade de criar o seu próprio, assim como em um RPG tradicional. Você poderá customizar sua aparência do zero e selecionar uma dentre várias classes, além de distribuir pontos nos atributos a sua escolha. Isso certamente é mais legal do que jogar com um personagem todo pronto, mas também tira um pouco do dinamismo do multiplayer. Antes cada personagem era criado pensando em complementar as habilidades do outro no campo de batalha; em Tiny Tina’s Wonderlands, parece que todo mundo é igual e tem a mesma build. Ainda assim, não deixa de ser divertido.

A campanha funciona da mesma forma que qualquer outro Borderlands, sendo mais próxima do terceiro jogo – inclusive, quem jogou o 3 vai sentir que está jogando a mesma coisa com skins diferentes. A diferença aqui é que os personagens que estão fora do tabuleiro não calam a boca um segundo e vão te metralhar com a maior quantidade de piadotas por segundo. Quem entende inglês certamente vai tirar proveito e dar boas risadas, já que o jogo não tem dublagem em português, somente legendas. Quem não entende vai ter que se virar para ler os textos ao mesmo tempo que joga, o que pode ser bem chato.
Meu jogo, minhas regras
Como todo Borderlands gira em torno de uma grande infinidade de armas de fogo, é bem maluco imaginar um jogo da série ambientado em um mundo medieval, mas como é a Tina quem faz as regras aqui, está tudo certo. O game em si continua funcionando da mesma forma, onde vamos dropando e encontrando diversas armas com perks e atributos aleatórios, à base do velho esquema de loot. Porém, ao invés de metralhadoras e armamento moderno, aqui tudo foi adaptado para algo com um tom mais cômico e condizente com a temática.

Uma mudança interessante foi com respeito às granadas, que foram substituídas por magias. Existe uma boa variedade de poderes que podemos dropar e equipar, todos mais legais do que atirar uma simples bomba. Já com respeito aos inimigos, talvez tenhamos aqui o pacote de oponentes mais preguiçoso da franquia, seja pelo excesso de reciclagem ou somente pelos clichês. Como estamos em um mundo de fantasia medieval, todos os psicopatas foram substituídos por monstros e outras criaturas já conhecidas, mas na prática não mudou absolutamente nada, apenas as skins. Alguns inimigos se movimentam do mesmo jeito que suas “versões” anteriores, o que acaba sendo bem tosco.
Quanto ao combate, não temos do que reclamar. É o mesmo tiroteio insano e frenético de sempre, onde muitas vezes você morre e nem sabe o que te matou, só sabe que quer mais. O destaque fica mais nas batalhas contra os chefes, que sempre oferecem aquele grau de desafio maior e, dessa vez, com poderes ilimitados. A única coisa que não gostei muito foram alguns encontros que o jogo insiste em enfiar no meio das missões com uma frequência um tanto cansativa. Nesses momentos, você fica preso em uma arena bem pequena e tem um tempo limitado para matar o máximo de inimigos que conseguir, até completar uma barrinha de matança. Resumindo: isso não é legal, não é desafiador e é extremamente desnecessário, já que é o mesmo combate que temos mundo afora.

A campanha dura entre 20 e 30 horas, já considerando que você vá fazer algumas sidequests no caminho. É um tempo bem satisfatório e evita que o jogo acabe ficando cansativo antes do final. O conteúdo pós-game já não é lá tão atrativo, com a adição de um modo chamado The Chaos Chamber, que nada mais é que uma extensão daqueles mesmos encontros de combate com limite de tempo; porém, acaba sendo um ótimo lugar para subir uns níveis e obter armas melhores, algo que pode fazer bastante diferença para quem pretende jogar os vindouros DLCs.
Em suma, Tiny Tina’s Wonderlands é mais um Borderlands digno de respeito, pecando em termos de história e novidades, mas acertando no humor e no gameplay, que na verdade é só mais do mesmo. Quem é fã da franquia vai amar, mas quem já não se interessou pelos demais vai manter a opinião de sempre. Quem é fã do Claptrap também não vai sair desapontado, já que nem em um mundo de fantasia medieval a gente consegue se livrar dele.