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Misturar gêneros nem sempre é o caminho para o sucesso. Já vimos muitos estúdios falharem por abraçar ideias em excesso. Eis que a Primal Game Studio, lá da Hungria, conseguiu realizar essa proeza com maestria. Mandragora: Whispers of the Witch Tree é, essencialmente, um metroidvania. Tem mapas imensos interconectados, exploração não-linear, rolagem lateral (side-scrolling), biomas diferentes e habilidades especiais para aprender (pulo duplo, gancho, etc). Em cima dessa base, o jogo apresenta um profundo sistema de RPG que empresta mecânicas de jogos como Diablo e Path of Exile. E por fim adiciona o elemento soulslike, com combates estratégicos e desafio elevado.

Antes fosse apenas um jogo indie que executa os três gêneros muito bem: Mandragora tem ótima história e é bonito demais. Seu visual mistura plataforma 2D com 3D (o famoso 2,5D), enchendo os olhos do jogador a todo momento com suas pinturas à mão. Exceto pela horda de inimigos de uma mesma área do mapa, nada se repete. É tudo muito bem desenhado, com sobreposições incríveis se movendo pelos planos dos ambientes externos (paralax), que valorizam a atmosfera sombria deste game de fantasia.

A história de Mandragora: Whispers of the Witch Tree narra os eventos que levaram os monstros a dominarem o reino de Faelduum. Este mal, a Entropia, é uma força que se mistura com a nossa realidade e a consome. Durante a aventura, vemos portais conectando as realidades – posteriormente podendo explorá-las. Resumindo, pra não dar spoilers, o problema todo começou com a ganância dos homens e uma guerra entre arquimagos e bruxas. Você é um(a) inquisidor(a) seguindo ordens, ajudando pessoas pelo caminho e descobrindo por conta própria a verdadeira história por trás dos eventos e porquê você ouve sussurros.

Mandragora e suas inúmeras possibilidades

Você começa escolhendo uma das 6 classes disponíveis: Vanguarda, Celestial, Vigilante Selvagem, Sombra-da-Noite, Arcanista do Caos e Agente das Chamas. Ou seja, guerreiro, mago, assassino, essas classes tradicionais que conhecemos. Eu comecei como Agente da Chamas e já aviso: é a pior escolha pra começar. O jogo é bastante difícil e, com esta classe, notei um grande desbalanceamento. Só ao alcançar o level 25 que você pode resetar sua Árvore de Talentos e testar outra classe. Esta é a primeira de apenas duas críticas que tenho ao jogo. Mudei pra Vanguarda para me adaptar e deu certo, sendo menos penoso vencer os chefões.

Mandragora

Cada classe possui suas próprias habilidades ativas, sendo desbloqueadas ao longo do game e podendo escolher quais usar nos atalhos dos botões, que são muito bem mapeados. Exceto pelas Habilidades de Assassinato, que são 7 ao total e exigem o uso de adagas, as demais possuem 8 ou 9 opções para escolher e inclusive aprimorar em 3 níveis diferentes. E como esperado você pode fazer a combinação que desejar de arma, escudo, relíquia elemental, elmo, luvas, perneiras, capa, etc. Pra ajudar o jogador, amizades são feitas com NPCs (ferreiro, costureira, cozinheiro, dentre outros) que se reúnem na Árvore da Bruxa, um acampamento onde o jogador faz seus upgrades, compra coisas e melhora o level dos NPCs e suas instalações.

Além das missões principais, há muitas outras secundárias pra fazer e conseguir recompensas em ouro, essências (XP) e itens importantes de criação (minérios, tecidos e mais). Há mini chefes pra todo lado e é preciso cautela para não morrer nas dungeons, pois suas essências são deixadas pra trás (como nos souslikes) e nem sempre dá pra recuperá-las facilmente. Aqui entra minha segunda crítica: a evolução da personagem é bem demorada. Isso resulta em combates mais difíceis contra inimigos comuns, que aguentam muitos golpes antes de morrer e são infernais quando estão em grande número. Também dificulta o acesso aos talentos de outras classes, demorando muito para avançar nas ramificações.

Mandragora

Nas sombras, só a Lanterna da Bruxa salva

Na trama, Mandragora é o líder de um grupo de bruxos. Mas é também a planta que conhecemos, cujo as raízes são usadas para fazer upgrade na Lanterna da Bruxa, um item obtido mais à frente na campanha e que permite adentrar os portais de Entropia para encarar desafios especiais. Nesta realidade, as áreas sombrias consomem sua aura de vida, apressando o jogador a alcançar uma Pedra da Bruxa, que recupera totalmente a sua aura. Cada portal possui um chefe que, ao ser vencido, fecha esse portal no mapa. E adivinha? São difíceis pra caramba!

Por falar em combate, a velocidade da sua personagem depende da build, habilidades e do seu estilo de jogo. Não é um hack ‘n’ slash como Dead Cells, mas oferece duelos bastante divertidos, principalmente se tiver um escudo e quiser dominar o parry. Ou rolar pelo chão como nos soulslike, pra escapar dos golpes. Os inimigos são bem variados e é preciso se acostumar com o padrão (moveset) de cada um. Alguns deles conseguem te matar muito rápido, então é importante manter a calma e atacar na hora certa.

Mandragora

Mandragora é um game tão bem feito que é quase impossível não viciar nele. Joguei no PC e também no Steam Deck, onde está muito bem otimizado. Não consegui terminar antes de escrever este review, pois é um jogo bastante longo (40 horas +), mas vi o suficiente para saber que ele não erra no que se propõe. A trilha é envolvente, o combate é sempre prazeroso e os chefões colocam suas habilidades à prova. Não basta ter bons reflexos para desviar dos golpes, é preciso combinar efeitos passivos com ativos e trocar de build quando necessário. Por exemplo: tá enfrentando um chefe cujos os ataques dão sangramento? Mude o que precisar pra conter melhor esse sangramento.

Há também muitos itens para te ajudar nessa jornada, não só os frascos básicos de vida, mana, anulação de status, etc. O cozinheiro, por exemplo, faz pratos que dão benefícios de status super úteis. Armas e equipamentos encantados com runas também fazem toda a diferença. Como é de se esperar de um RPG de ação, há muitas variáveis para testar e ver o melhor resultado, seja para atacar de perto ou à distância. Vale tudo e o game deixa o jogador à vontade para mesclar talentos de todas as classes.

Mandragora

Metroidvania, RPG e Soulslike de respeito

Mandragora: Whispers of the Witch Tree é uma enorme surpresa entre os indies deste ano. Um game que merece atenção, não só por ser muito bom e bonito, mas por ser um exemplo. Como um metroidvania, segue todas as regras do gênero e adiciona algumas ideias próprias, como a exploração conectada com outra dimensão, a Entropia. No quesito RPG e soulslike, une as melhores características destes gêneros sem complicar demais. Não significa que esteja livre de bugs, como falhar ao tentar agarrar a escada durante a queda, e definitivamente não gostei da decisão do botão de correr ser o mesmo para falar com NPCs e entrar nos lugares, causando ações indesejadas. Ainda assim, de modo geral, é um jogo bastante polido.

A tradução PT-BR está excelente, com ótimas adaptações. Em telas menores, como do próprio Steam Deck, algumas informações acabam ficando nas extremidades, como o menu inferior do mapa, mas nada que atrapalhe muito. Aliás, a participação do escritor Brian Mitsoda, conhecido por seu trabalho em Vampire: The Masquerade – Bloodlines, fez toda a diferença. Os diálogos são tão bons quanto a dublagem original em inglês.

Mandragora

A Primal Game Studio também aproveitou para prestar suas homenagens, como um duende carregando um saco cheio de ouro nas costas à lá Golden Axe, só para citar um exemplo. E ainda que seja um RPG de fantasia com inimigos típicos do gênero (aranha, rato, morcego, zumbi, etc.), Mandragora: Whispers of the Witch Tree traz suas próprias criaturas com bastante criatividade, especialmente nos mini chefes e chefões. Gostei muito e recomendo fortemente pra quem também curte estes gêneros.

92 %


Prós:

🔺História muito bem escrita
🔺Mistura equilibrada dos gêneros
🔺Visual 2,5D maravilhoso, mega detalhado
🔺Seis classes com árvores de talentos únicas para evoluir
🔺Habilidades passivas e ativas a perder de vista
🔺Extremamente viciante

Contras:

🔻Dificuldade desbalanceada para algumas classes
🔻Leveling muito lento, sofrido

Ficha Técnica:

Lançamento: 17/04/2025
Desenvolvedora: Primal Game Studio
Distribuidora: Knights Peak
Plataformas: PS5, Xbox Series, Switch, PC
Testado no: PC