Stray, lançado recentemente para PC e consoles PlayStation e disponibilizado para os assinantes da PlayStation Plus Extra e Deluxe, é um destes indies que entrou pra história e que todo mundo deveria jogar. Seja você fã de gato ou não, o jogo da desenvolvedora francesa BlueTwelve Studio traz uma proposta original acompanhada de uma história simples, porém recheada de personagens carismáticos e que evolui de forma inesperada.
A aventura começa quando nosso gatinho protagonista se dispersa do bando após um salto perdido, indo parar nos esgotos que levam até a cidade morta. Criaturas estranhas aparecem e não há muito o que fazer exceto fugir. No caminho, seguindo uma estranha comunicação feita através de letreiros neon e TVs, o gato encontra um pequeno robô voador chamado B-12 (nome da desenvolvedora do jogo, abreviado). Sem memórias, o robô oferece ajuda e os dois seguem o rumo até chegar à Favela, uma cidade habitada por robôs esquecidos pelo tempo.
Um gato perdido no mundo
Ao controlar um gato, é de se esperar que o gameplay permita miar, arranhar, se esfregar em alguém, escalar coisas e dar grandes saltos. E para realizar estas ações você utiliza apenas dois botões. Para pular de uma caixa para o alto de um telhado, por exemplo, basta direcionar o gato e apertar o botão quando aparece na tela. Esse gameplay é expandido graças aos recursos do B-12, como ler mensagens escritas, pegar objetos, falar com NPCs, ativar uma lanterna, etc. Ele também oferece um inventário, onde guarda os itens coletados, e ainda dá dicas sobre o que fazer quando você empacar.
Conhecendo sua linguagem, B-12 conversa com os robôs para se situar sobre os últimos acontecimentos. Sem dar spoilers, é interessante ver como os robôs abordam os humanos, chamados de “macios”. Não há sinal deles há muitos anos, e tudo que restou foi muito lixo e poluição, despejado sem dó na Favela pela Neco Corporation. E sair desse lugar, fechado por um teto artificial que impõe uma noite sem fim, não é uma opção tão simples assim.
Evoluídos pelo tempo e com consciência própria, muitos dos robôs aceitaram seu destino enquanto alguns outros tentam achar uma forma de sair para o Exterior. E são exatamente estes aliados que você deve procurar, resolvendo puzzles e concluindo favores pedidos por eles. Ágil e rápido, você é a única salvação contra uma ameaça que fugiu do controle de todos.
A bactéria que deu errado
Com aparência semelhante a de um headcrab (Half-Life), os Zurks foram criados pelos humanos como solução para dissolver o lixo. Quando os humanos desapareceram, essa bactéria sofreu uma mutação e passou a consumir tudo, inclusive robôs. Esta criatura é o principal inimigo no jogo, promovendo perseguições e até um breve combate com uma habilidade adquirida posteriormente por B-12 – neste trecho do jogo, rola uma homenagem ao Doc Brown dos filmes da franquia De Volta para o Futuro.
O jogo promove também algumas sessões de furtividade, com drones fazendo o monitoramento com leitura de áreas. Aqui o jogo presta outra homenagem, à franquia Metal Gear Solid, com direito a caixa de papelão para se esconder. Ou você passa por estas áreas com muita calma e paciência ou sai correndo feito gato doido, o que também funciona.
Os Zurks atacam em grande número, pulando e grudando no gato para sugar seu sangue. Morrer em Stray só acontece desta forma ou com um tiro disparado pelos drones, quando eles detectam sua presença. Você não falha de outras formas, deixando tudo muito fácil. Até os puzzles exigem pouco raciocínio, pedindo que você faça coisas simples como encontrar e conectar/desconectar baterias, rolar um barril, descobrir a senha de uma porta trancada, distrair um NPC para roubar algo, entre outros exemplos.
A beleza de Stray
Não dá pra negar que, até o momento, este seja o indie mais bonito lançado em 2022. Seja pelo visual à lá The Last of Us no começo da aventura e o neon imponente no centro da cidade, no estilo cyberpunk, o game impressiona a todo momento. Tudo é muito chamativo, criativo e carismático. Dá gosto explorar e você até esquece os problemas desse mundo para ver somente a sua beleza. Bem como apreciar a trilha sonora, que combina com tudo. E, claro, aproveitar pra viver como um gato e tirar umas sonecas, derrubar coisas de cima da mesa, brincar, arranhar sofás, etc.
Se fosse possível eu abraçaria cada robô que encontrasse pela frente, mesmo os mais rabugentos. O design deles é sensacional, criando uma conexão forte com o gato – que em algumas ocasiões pode devolver o carinho com uma esfregada na perna. Mas Stray nem sempre é acolhedor: há momentos de pura tensão, mudando o clima do jogo de forma inesperada e eficaz.
A jornada termina rápido, entre 5 a 6 horas, deixando o jogador com algumas dúvidas e querendo mais. É evidente que Stray dá mais foco à história dos robôs e humanos, posicionando o gato quase como um expectador no meio dessa história toda, ao menos podendo interagir e interferir. E funciona muito bem assim, do começo ao fim, por mais simples que seja.
Stray é, definitivamente, um indie para ter na sua coleção de jogos. Ele entrega uma história interessante, um gameplay divertido e, de quebra, lança uma dura crítica à poluição do nosso mundo. Se for pegar pra PC, depois que terminar o jogo pela primeira vez repita a jornada com o mod que substitui o gato por um Bulldog Francês. Os amantes dos cachorros vão adorar!