Skip to main content

Sabe aqueles jogos viciantes que você começa na primeira fase e, quando percebe, passaram-se diversas horas sem você ao menos se dar conta? Essa é a mágica de Railbound, o novo jogo da Afterburn, desenvolvedora do Golf Peaks, e que não deve ser menosprezado em um primeiro contato. Engana-se aquele que diminuir este lançamento como um simples “joguinho” ou “joguinho de celular”, enquanto ele cresce aos poucos e cria uma imersão incrível.

Com uma proposta simples, belíssima arte, trilha sonora agradável e com uma boa curva de aprendizado, Railbound chega para mostrar que menos pode ser muito mais, sem errar a mão no desafio ou na repetição.

Todos a bordo! Este trem já vai partir

Embarque na história de um maquinista e seu ajudante perdidos por um mundo que você explorará através de oito cenários diferentes, para uma bonita e gratificante imagem de encerramento. Isso mesmo, neste jogo não existem animações e a história fica por conta de oito imagens diferentes, mostradas ao término de cada etapa do jogo.

A cada etapa do mapa, um retrato do maquinista e seu ajudante nesta belíssima jornada

Começando de uma maneira bem clichê, para um título que baseia-se por mapas, o final resume o melhor trabalho dos desenvolvedores: uma jornada bonita, divertida e acolhedora.

Quase como aprender um novo idioma, mesmo que diminuto, o primeiro mundinho servirá de introdução e guia para os desafios crescentes que o jogador encontrará pela frente. Estabelecido sempre em um grid, você precisará criar caminhos, para unir os vagões, inicialmente apenas dois, à locomotiva para que o maquinista consiga prosseguir. O desafio está em realizar esta tarefa respeitando a quantidade limite de trilhos disponíveis e buscando sempre o melhor caminho até a locomotiva.

As ligações dos trilhos são automáticas e as bifurcações surgirão ao unir mais de um caminho, sempre com a opção de alterar o sentido da junção e respeitando a direção de origem dos vagões e que não pode ser alterada inicialmente. Você utilizará trilhos, botões, túneis e cancelas para guiar até quatro vagões ao longo de florestas, praias, desertos, pântanos e montanhas.

A complexidade dos cenários surgem de maneira crescente e sempre exigindo mais do raciocínio lógico

A mágica de conseguir criar uma narrativa, mesmo que breve e mínima, é conduzir mais de 80 fases com desafios diferentes entre elas, por um caminho que, sem você perceber, tem um motivo, com início e fim. A caracterização das etapas de cada mapa possui sentido e ele está diretamente relacionado ao encerramento do jogo, revelando-se na última imagem da história.

Viaje pela beleza das cores e sons

Com o apoio de atalhos, você conseguirá desfazer, solicitar dicas ou até mesmo resetar tudo o que foi feito, sem contar o “play” para acionar a movimentação dos vagões em direção à locomotiva. Entre uma fase e outra, você terá gratas adições de novos recursos para complementar o desafio e a aprendizagem, mas sem comprometer a diversão ou velocidade com que você pode jogar, rejogar e aprender.

Por exemplo, você precisará aprender a controlar o tempo que cada vagão vai percorrer, para alinhar corretamente os seus números, além de usar os diversos elementos deste universo ferroviário para que um mesmo caminho ou bifurcações sejam as respostas necessárias para finalizar o caminho correto.

Prepare-se para ficar mais perdido que o maquinista em alguns desafios

De trilhos simples a plataformas com passageiros, que devem ir de um lugar ao outro antes de partir para a próxima fase, tudo é muito bem representado visualmente e com um estilo artístico que remete aos cenários criados para um jogo da Nintendo. Sempre muito colorido, com sobreposição de tons e detalhamento em todos os elementos em tela, a curiosidade para saber o que vem a seguir é um dos motivadores deste jogo.

A trilha sonora de Railbound poderia muito bem estar em alguma loja de departamento, provador ou elevador. Com clima calmo, pequenas variações em sua evolução e marcante o suficiente para criar a imersão necessária para que você esqueça do tempo voando ao seu redor.

Temos assim uma combinação perfeita de direção de arte e trilha sonora, para um jogo que não merece ser jogado ao som de qualquer outra coisa.

Estamos à zero dias sem acidentes de trabalho

Cuidado para o trem não descarrilar 

Railbound apresenta uma unidade difícil de encontrar, pois normalmente este tipo de jogo acaba se perdendo em seus próprios puzzles, seja pela dificuldade ou repetição ao não agregar nada a cada etapa ou fase. O trabalho da Afterburn é quase perfeito e peca por muito pouco, ao não explorar as fases mais difíceis que o jogo tem para oferecer.

Quando trilhamos o “caminho do maquinista”, vamos pelo mundo 1 ao 8 com fases normalmente de 1 a 9. Ou seja, temos a 1-2, 2-5, 3-7 e assim por diante. Quando eu já estava pelo terceiro cenário, voltei ao mapa principal e notei que existiam fases, representadas pelos tickets de embarque, que não foram rasgados e acompanhados de letras como, por exemplo, a 1-15A.

Trilhe o caminho obrigatório, mas retorne pelas fases com letras para curtir desafios ainda mais complexos

Os desenvolvedores erraram em não escolher que essas fases façam parte da sua trajetória linear ao longo do jogo. Ao voltar para refazer essas fases, notei que são as melhores e mais desafiadoras. Com certeza, os caminhos bifurcados e identificados com letras são a joia deste jogo, em questão de complexidade enquanto puzzle.

É uma leve derrapada para um jogo quase perfeito, mas que ainda assim continua sendo uma boa diversão por pelo menos três a cinco horinhas do seu dia. Invista este tempo e surpreenda-se com a beleza de Railbound, pois com certeza você não vai querer ficar fora dessa viagem!

Review – Space Architect

Paulo AlmeidaPaulo Almeida24/11/2024