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Eu realmente fico impressionado quando algum jogo, de preferência os indies, consegue me surpreender ao propor algo novo ou diferente, e é exatamente isto que Paper Cut Mansion consegue fazer. Desenvolvido pela Space Lizard Studio, este título se propõe em pensar fora da caixa, da direção de arte à maneira como desenvolve o gameplay, para oferecer um roguelite diferentão.

Prepare-se para ter o cérebro amassado e os dedos dobrados neste desafiador e horripilante jogo de sobrevivência que, com certeza, vai conquistar você pela simplicidade e genialidade.

Quase um origami do inferno

No controle do policial Toby, viajamos até uma misteriosa mansão e, após uma sequência inicial por um sombrio caminho perseguindo uma mariposa, acabamos caindo por um extenso buraco até um dos andares deste que será o labirinto principal do jogo.

Seguir a mariposa brilhante é sempre a melhor opção que você terá

Com um “quê” de Alice no País das Maravilhas, inclusive com claras referências à obra de Lewis Carroll como, por exemplo, a “porta falante”, os desenvolvedores também trouxeram elementos que lembram os trabalhos de Tim Burton e Jim Henson, para o visual e a movimentação dos personagens.

Através da estrutura básica de um roguelite, precisamos explorar todos os seis andares (sim, poucos assim) e sobrevivermos para chegar ao fim sem morrer. Através de pistas, coleta de elementos e missões secundárias, oferecidas pelos estranhos habitantes desta mansão, vamos evoluindo e conhecendo mais a história de Toby.

Montando um painel com pistas sabemos mais sobre a nossa jornada e o mistério por trás da mansão e do policial. Nada muito elaborador para a narrativa, mas ela proporciona bons momentos e descobertas interessantes ao longo do jogo, se mantendo atrativa o suficiente para que você continue explorando os andares.

Seu parceiro de jornada reforçará sua principal missão em cada andar

Inclusive o jogo possui finais diferentes que dependem da performance do jogador, totalizando 27 sequências finais e que são liberadas também dependendo da dificuldade em que você jogar (normal, hard ou very hard). Realmente uma tarefa desafiadora e para poucos.

Estranho como um dolorido corte de papel

Desde o início o que chama atenção em Paper Cut Mansion é o estilo artístico, fazendo com que todos os andares, personagens, elementos, cenários e objetos sejam feitos de papel cartão/papelão.

É impressionante a qualidade visual e o nível de detalhe que encontramos, mesmo nos ambientes mais escuros, além da diversidade de objetos disponíveis para interação. Neste ponto, ao interagirmos com o objeto, ele fica em destaque na tela (ao melhor estilo Resident Evil), para utilizarmos o acelerômetro do Nintendo Switch e gigarmos em busca de moedas, pistas ou acessórios.

Não é somente a mansão que possui seus mistérios. Não é mesmo, Toby?

Os personagens também são um ponto importante e interessante durante o gameplay, pois eu ficava ansioso por encontrar alguém para ver qual história bizarra contariam para mim e que tipo de ajuda eles pediriam ao policial. Essas missões são o cerne da exploração, pois você conseguirá os elementos necessários para evoluir seu personagem, além de coletar pistas para chegar ao fim do andar.

A sua progressão é conquistadas por insígnias que você ganhará dos NPCs ao completar as missões paralelas, pendurando em seu casaco como aquelas medalhas do exército. Cada uma delas aumentará um atributo seu e fortalecerá Toby para enfrentar inimigos, sobreviver às ameaças e ter capacidade para abrir baús ou acessar locais.

Além disso, com o passar dos andares, voê também desbloqueará habilidades e equipamentos que poderão ser carregados para outras partidas, caso você acabe morrendo antes de finalizar o sexto andar. No entanto achei estranho que muitas delas parecem ser básicas e deveriam estar disponíveis desde o começo como, por exemplo, pegar ou rolar e esquivar.

Os cenários são muito bem feitos e coloridos, em meio à escuridão e terror

Também acho que poderiam disponibilizar um formato de mapa para auxiliar no reconhecimento do espaço, pois muitas vezes você acaba se perdendo pela quantidade de portas que abre num mesmo andar. Como sua principal missão é sempre encontrar a “porta falante” para chegar até o próximo nível da mansão, um mapa auxiliaria na localização do principal objetivo e não atrapalharia o desafio, já que os andares são criado proceduralmente.

Um upside down para chamar de seu

Além de todos os elementos e referências às obras já citadas, os desenvolvedores conseguiram também trazer um pouquinho de Stranger Things para este universo. Para não ficar um “copia, mas faz diferente” do recente Going Under, que inclusive tem a mesma proposta de ir cada vez mais fundo no mundinho em que se passa, Paper Cut Mansion conta com três dimensões diferentes em todos os andares.

Você normalmente começará na dimensão “padrão”, chamada NeoCortex. Será nesta versão da realidade em que sua jornada acontecerá, com foco na busca por pistas e resolvendo quebra-cabeças. Mesmo com um plot twist que liga Toby e sua realidade, além de nem sempre você começar o andar na NeoCortex, será essencial visitá-la para chegar até a porta falante.

Prepare-se para buscar por muitas pistas para resolver diversos quebra-cabeças

Através do portal cristalizado com cores azuis, você terá acesso ao Sistema Límbico. Neste, igualzinho ao mundo invertido de Stranger Things, você contará apenas com sua lanterna para iluminar os ambientes escuros e sofrerá dano constante por conta do frio. Evite morrer de hipotermia ao encontrar NPC com lanternas ou fontes de calor. Nesta realidade o foco será encontrar itens e evidências relacionadas à mansão, além de caçar os “Memorimps”

Por último você terá o portal com cores avermelhadas, em que transportará Toby para o Complexo Reptiliano e que tem sua realidade focada em combate e sobrevivência. Importante ressaltar que se o andar tiver um chefão, você não conseguirá ir direto em direção à porta falante sem vencê-lo antes.

Esta mecânica de dimensões implica diretamente em duas das três barras de energia de Toby: vida, temperatura e a última, não necessariamente focada em uma dimensão, mas que está relacionada à sua sanidade e será ameaçada pelos fantasmas que habitam os andares e dimensões da mansão.

A interação com os objetos é primorosa e muito interessante

Prepare-se, pois ao surgir uma alma penada, sempre após interagirmos com algum objeto, você precisará fugir dela por 30 segundos ou caso contrário sofrerá dano consideravelmente alto. Não espere para saber se é um inimigo, chefe ou fantasma, apenas se afaste e prepare-se para correr.

Dobre e guarde este jogo no coração

Paper Cut Mansion pode não ser um primor na movimentação do protagonista, ao mesmo tempo em que faz um bom trabalho em criar um estilo 2.5D, além de oferecer uma liberdade imensa para movimentação da câmera para facilitar seu trabalho investigativo.

Pode também não ter a melhor proposta para o combate ou até mesmo inimigos que representem real ameaça, já que basta segurar o botão da mira e do tiro sem se preocupar com limites.

Sua jornada pela mansão não será nada fácil

No entanto a mescla dos fatores relacionados à sobrevivência, as diversas ameaças envolvendo criaturas, armadilhas, fantasmas, ambiente e inimigos, além da tensão que o jogo cria por conta dos mistérios e a oportunidade em explorar os andares em busca de respostas, fazem com que seja um jogo criativo, instigante, desafiador e cativante.

Some tudo isso ao fator artístico e a proposta criada pelos desenvolvedores, que talvez pudessem ter investido mais criatividade na trilha sonora, mas que em nada fica devendo. Este, com toda certeza, tem grandes chances de ocupar o lugar mais alto, senão o primeiro, de jogo indie de 2022.