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Depois da experiência com Hellblade: Senua’s Sacrifice (análise), achei que não jogaria outro game no mesmo nível até o final deste mês. Engano meu: Observer é igualmente incrível. Produzido pela polonesa Bloober Team (de Layers of Fear), o jogo se auto-denomina um survival horror mas, na real, é muito mais do que isso. É um passeio por um mundo cyberpunk bizarro, onde a humanidade está se perdendo diante de tanta tecnologia, drogas e injustiças. E é neste ambiente decadente que o jogador, na pele do detetive de elite neural Daniel Lazarski, precisa solucionar um caso policial envolvendo seu filho.

A história se passa em 2084, com Daniel chegando à periferia numa viatura que mistura o estilo retrô com sci-fi – lembra um Delorean. Enquanto recebe informações, o rádio da viatura sofre uma interferência revelando a voz de seu filho, Adam, num estranho pedido de socorro. Cabe ao experiente detetive investigar a fonte do sinal, vinda de um prédio, e conversar com seus moradores para levantar informações importantes.

KPD, abra a porta!

O jogo acontece todo dentro do prédio, localizado numa região de Classe C, que possui três andares principais e muitos moradores para visitar. No salão de entrada, o jogador conversa com o zelador Janus, que informa o número do apartamento de Adam. Ao entrar para iniciar as investigações, um sistema de segurança é acionado confinando todos os moradores dentro de seus aposentos. É neste momento que você aprende a usar duas mecânicas simples de gameplay: a Visão Eletromagnética, para escanear objetos eletrônicos, e a Visão Bio, para escanear evidências biológicas. Além delas, há uma visão noturna e nada mais. Não há arma ou confrontos, você apenas anda pelo prédio interagindo com as coisas.

Vida dura de investigador, indo de porta em porta.

À princípio, a proposta pode parecer sem graça. Mas, logo ao conversar com os primeiros moradores, a curiosidade do jogador cria um forte vínculo com a história. Você vai basicamente de porta em porta, participando de diálogos com múltiplas escolhas, garimpando informações para prosseguir na investigação. Na maioria dos casos você verá estas pessoas em carne e osso, uma vez que elas estão confinadas, mas é interessante a forma como os desenvolvedores criaram caracterizações que vão além do diálogo. Cada porta representa uma persona, tanto pelo visual como pelo painel frontal, onde podemos ver parte de seus rostos em vídeos de baixa qualidade. Há também apartamentos vazios, alguns possíveis de entrar após descobrir a senha de acesso.

O interessante destes diálogos, mesmo com moradores que relutam a colaborar, é o quanto de informação você consegue tirar deles. Tem de tudo: ex-soldado, fanático religioso, traficante de drogas, um médico ilegal, uma garotinha que vê coisas, uma robô prostituta e por aí vai. As linhas de diálogo são muito bem construídas e suas escolhas abrem algumas das poucas missões paralelas não-obrigatórias do game. Felizmente, grande parte da história é centrado na procura pelo filho, sem distrações para prolongar a experiência. Voltando ao protagonista, Daniel Lazarski foi dublado pelo ator Rutger Hauer, o antagonista Roy Batty do filme Blade Runner (1982). Sua dublagem ficou impecável, mas há outros dubladores talentosos no game, como o popular ator polonês Arkadiusz Jakubik, que deu voz à Janus.

Hackeando mentes

Em alguns momentos da história, Daniel precisará hackear o implante cerebral de algumas pessoas. É por conta desta invasão de privacidade, permitida por lei aos policiais, que o protagonista é chamado de “observer”. Ele conecta um cabo à cabeça do investigado para vasculhar sua mente. Este processo dispara o real lado perturbador do jogo: visões materializadas por experiências humanas, como trauma, medo e depressão. Você caminha pelas manifestações da mente do indivíduo em busca de pistas, ao mesmo tempo que se submete à conhecer seu passado e sobreviver às suas loucuras. São nestes momentos inventivos que o jogo oferece seus poucos desafios, alguns deles com a possibilidade de falhar.

Hackear esta senhora, nestas condições, já é bizarro o suficiente.

Além de pentelhar moradores e hackear mentes, você acessa computadores para ler emails, arquivos e jogar um minigame altamente viciante chamado With Fire and Sword: Spiders – uma homenagem dos desenvolvedores aos tempos de Commodore. São 10 fases de lógica em que você deve navegar pelo cenário com cautela, pegando espadas com fogo para matar aranhas e coletar todas as moedas para concluir cada desafio. As fases são desbloqueadas ao longo da campanha, a cada vez que encontrar e acessar um computador.

Mais interessante que o minigame, são as histórias que você descobre ao ler os emails e arquivos. Tudo é devidamente amarrado à trama principal e ainda explora um futuro não tão distante do nosso, em que as pessoas ficaram viciadas em realidade virtual e recorrem à implantes tecnológicos para serem alguém melhor neste mundo decadente. E a Chiron, empresa que controla tudo e a todos, tem um papel importante nisso tudo. Nem mesmo Daniel escapou dos implantes, aceitos em função do emprego. Como qualquer viciado em tecnologia, ele precisa administrar comprimidos de Syncrozyne. Você os encontra espalhados pelo cenário e administra as doses sempre que sua visão começar a ficar turva, devido ao estresse e cansaço do protagonista.

With Fire and Sword: Spiders, tão bom quanto o game principal.

Observer agrada também em seu visual, que apresenta um level design fantástico. Gostaria de escrever mais, dar exemplos além das imagens que ilustram esta análise, mas realmente contei tudo que posso sem dar spoilers. Só posso acrescentar que a criatividade da equipe da Bloober Team me surpreendeu demais. Há vários momentos dignos de um bom survival horror, que existem não apenas para dar medo, mas também para representar sofrimentos do ser humano. É tenso e nos fazer pensar seriamente sobre vários assuntos comuns. Uma experiência única e para aplaudir de pé.

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