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Little Nightmares III chegou para reacender suas memórias de infância e medos mais profundos, talvez seja a chance de enfrentá-los de vez ou continuar sentindo aquele friozinho na barriga. O visual sombrio, com suas distorções de formas e tamanhos, faz deste jogo um belo cenário de terror, daqueles que podem nos fazer prender a respiração. O bom é que você não está sozinho, já que agora dá para encarar essa “penumbra” com um amigo on-line.

O terceiro título da franquia está de casa nova: agora nas mãos da Supermassive Games (de Until Dawn e The Quarry). A mudança de estúdio trouxe curiosidade e certa desconfiança, já que a Tarsier Studios, criadora dos dois primeiros jogos, havia estabelecido uma identidade muito própria. Ainda assim, Little Nightmares III mantém grande parte do estilo característico, mas acrescenta a possibilidade do modo cooperativo, o que pode ajudar ou causar ainda mais medo – depende da coragem de quem estiver jogando.

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O espelho dos nossos próprios medos

O jogo continua conhecido por seus enigmas e representações abstratas, mas fica a dúvida: quais as novidades e para qual caminho a nova desenvolvedora levará a série? De cara, sabemos que não se trata de uma continuação direta, e sim de uma nova história dentro do mesmo universo. Apesar disso, há muito o que se descobrir, o que vai atiçar fãs e jogadores a encarar todos esses novos pesadelos.

Como de praxe, a história não é contada de maneira clara – não há diálogos ou introduções. O que temos são as próprias ações dos personagens no mundo sombrio conhecido como Lugar Nenhum. No papel de Low ou Alone, percorremos quatro capítulos: A Necrópole, A Fábrica de Doces, O Parque de Diversões e O Instituto. O objetivo é escapar desses lugares sinistros, e o seu portal de transporte são os espelhos.

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As interpretações, como sempre, ficam a cargo do jogador. Mas dá para notar que a história de Little Nightmares III é mais sobre Low, o que vemos ao longo da narrativa parece refletir seus traumas de infância, e a forma como são representados esses medos é uma das marcas mais valiosas da série. Neste título, porém, as coisas não parecem ter a mesma profundidade e complexidade dos jogos anteriores – ou talvez tenham ficado ainda mais sutis, o que é realmente uma pena.

Ainda assim, é agoniante pensar como os traumas de uma criança poderiam levá-lo a pesadelos tão sinistros. Sem dar spoilers, Low é quem imaginou e se prendeu a tudo isso. Ele sofre não apenas por medo dessas figuras e lugares, mas também por amor à sua amiga Alone. Claramente, ele quer se libertar, mas quer levá-la junto – e é aí que começa um dos maiores mistérios do jogo.

Honestamente, vale a pena conhecer a história. Ela é enigmática e sombria como a série busca ser e, se deixarmos de lado as camadas filosóficas e críticas mais explícitas dos jogos anteriores, percebemos que a proposta continua interessante o suficiente para render boas surpresas – e sustos.

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Medo em dobro em Little Nightmares III

O jogo permite escolher entre jogar com Low, que carrega um arco e flecha, ou Alone, que possui uma chave inglesa. Ao longo da jogatina, ambos também utilizam um guarda-chuva para planar, uma lanterna e, mais próximo ao final, uma boneca especial que cria uma zona entre o presente e o passado simultaneamente, um efeito visual e mecânico muito interessante, que promove puzzles mais elaborados.

A segunda criança sempre estará presente e pode ser controlada pela IA ou por um segundo jogador via multiplayer online. O jogo traz ainda o “passe de amigo”, onde apenas um dos jogadores precisa ter o jogo completo, enquanto o outro entra por convite – algo semelhante ao sistema de It Takes Two. Ambos, no entanto, precisam ter assinatura online. É uma boa forma de partilhar o terror e curtir a experiência em dupla, mas vale dizer que os puzzles são simples, e quem jogou os títulos anteriores vai sacar rapidamente o que fazer.

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Pesadelos problemáticos

Há momentos em que você trava alguns minutos sem saber o que fazer, o que seria ótimo se fosse proposital, mas na maioria das vezes é por erros de colisão ou falhas da IA, que às vezes fica parada ou não responde até que você a chame manualmente. Esses momentos são frustrantes e podem causar mortes desnecessárias ou forçar um reinício de checkpoint.

Quando tudo funciona bem, as mecânicas são sólidas, e os puzzles trazem o mesmo tipo de tensão e ritmo dos jogos anteriores. Há ecos de tudo que já vimos antes – inclusive inimigos e situações que remetem ao hospital de Little Nightmares II, por exemplo. Felizmente, o impacto emocional dessas cenas permanece forte.

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Little Nightmares III está belíssimo. Os cenários e o design que lembram um toque de Tim Burton tornam o Lugar Nenhum um espetáculo assustador. A jornada pela Espiral nos leva a locais de tirar o fôlego: desde a Necrópole, uma cidade abandonada e melancólica, até o temido Instituto. Cada fase reserva momentos perturbadores, mas também cenas de beleza mórbida – mérito da excelente direção de arte.

A trilha sonora mantém o tom intimidador, com sons bizarros e sutis que nos fazem suspirar a cada passo. No entanto, o jogo aposta mais no silêncio, o que pode quebrar um pouco da imersão, especialmente quando combinado com bugs ou falhas de IA.

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A duração da campanha principal gira em torno de 6 horas, o que gerou certa polêmica entre os jogadores na internet. A sensação é de que o jogo termina antes de explorar todo o seu potencial. Em contrapartida, há colecionáveis espalhados pelas fases como bonecas e ecos espectrais, isso incentiva replays e amplia o tempo de jogo.

Convenhamos, nenhum jogo da série é tão longo, além disso, a Supermassive confirmou duas DLCs planejadas, que podem expandir a narrativa e aprofundar as teorias deixadas em aberto. E vale mencionar que o jogo também traz trajes alternativos para Low e Alone, embora seja algo apenas cosmético, eles são bem legais. O ponto é que esses conteúdos são pagos, mas talvez possam valer a pena a espera e investimento – estou na torcida.

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Mesmo com tropeços técnicos e uma dificuldade relativamente baixa, Little Nightmares III é uma jornada perturbadora e visualmente marcante. É um bom jogo se analisado isoladamente, oferecendo momentos intensos e belos, mas dentro da série e considerando tudo que ela representa, ele perde parte da força e pode deixar os fãs de longa data com um gosto agridoce.

78 %


Prós:

🔺Atmosfera sombria e visual impressionante
🔺Modo cooperativo amplia a experiência para dois jogadores
🔺Tem colecionáveis que aumentam o replay
🔺Narrativa simbólica que deixa espaço para interpretação

Contras:

🔻Duração relativamente curta
🔻Alguns bugs de colisão e IA que afetam o ritmo
🔻Puzzles e mecânicas que, vez ou outra, repetem fórmulas dos jogos anteriores

Ficha Técnica:

Lançamento: 10/10/2025
Desenvolvedora: Supermassive Games
Distribuidora: Bandai Namco Entertainment
Plataformas: PS4, PS5, Xbox Series, PC e Switch, Switch 2
Testado no: PS5