Skip to main content

O trabalho da Warhorse Studio com Kingdom Come: Deliverance II é a prova definitiva de que jogos podem ser obras-primas, além de conseguirem redefinir o gênero dos RPGs históricos, elevando a experiência de gameplay a patamares nunca antes vistos. Começar dessa maneira um review está longe de ser um exagero, pois esta aguardada sequência, lançada pela Deep Silver, consegue aprimorar todos os aspectos que tornaram o primeiro jogo memorável, oferecendo uma jogabilidade ainda mais imersiva e cativante.

Continuando do ponto em que o primeiro jogo terminou, a narrativa de Kingdom Come: Deliverance II retoma a jornada de Henry para explorar um guerreiro experiente durante a Idade Média. A trama se expande de forma magistral, entrelaçando habilmente a história principal com conteúdos secundários que se desenrolam de maneira orgânica e convincente. Por meio de uma narrativa riquíssima, repleta de elementos políticas e morais, você precisará definir suas próprias escolhas e conviver com as consequências durante a luta pelo controle da Boêmia medieval.

Kingdom Come: Deliverance II

RPG ou simulador medieval?

Com uma abordagem criativa e uma narrativa extremamente interessante, Kingdom Come: Deliverance II consegue ir muito além dos RPGs lançados nos últimos anos e ainda permite que os jogadores moldem a história de Henry de maneira única e pessoal. Como ponto chave para o desenrolar da história, cada decisão, desde alianças políticas até interações pessoais, pode alterar significativamente o curso da história, fazendo com que a narrativa torne-se complexa e reflita diretamente as escolhas do jogador, que têm consequências ao longo do jogo e muitas vezes inesperadas, como mortes e traições.

Falando sobre traição, os desenvolvedores trabalharam em aprimoramentos para o sistema de reputação, para que essa sequência crie um peso ainda maior nas ações do jogador e reverberem por todo o mundo, afetando desde as relações interpessoais até o desenrolar de eventos históricos maiores. Claro que tudo isso só é possível por conta dos diálogos bem escritos, que totalizam 2,2 milhões de palavras, e atuações convincentes, que dão vida aos personagens complexos e multifacetados. Incitar uma revolta, evitar execuções, criar alianças e se aventurar em romances perigosos são apenas algumas das possibilidades nesse RPG que muitas vezes parece um grande simulador da vida na Idade Média.

Kingdom Come: Deliverance II

E para quem está chegando agora, mesmo perdendo toda a trama anterior, Kingdom Come: Deliverance II se preocupa em apresentar alguns detalhes do primeiro jogo durante as horas iniciais, para depois disso soltar o jogador no papel de Henry, um cavaleiro que parte em uma jornada diplomática ao lado de Sir Hans Capon para entregar uma mensagem ao lorde Otto von Bergow no Castelo de Trosky. No entanto, a missão rapidamente se complica quando a companhia é emboscada por bandidos, fazendo com que você viva uma jornada em meio à luta por poder entre facções durante a guerra civil na Boêmia Central, inspirada em acontecimentos históricos que ocorreram entre 1420 e 1434, e ficaram conhecidos como Guerras Hussitas e Guerra dos Trinta Anos.

Esse review poderia ser apenas sobre a narrativa e os caminhos pelos quais elas criam tramas interessantes, inclusive com missões secundárias que complementam a experiência e não servem apenas para aumentar o tempo de jogo, que ultrapassa as 50 horas apenas na história principal. A competência da Warhorse Studio em criar imersão no mundo medieval é levada a novos extremos em Kingdom Come: Deliverance II, incorporando todo um sistema detalhado de necessidades básicas, como fome, sede e sono, que afetam diretamente o desempenho de Henry.

Kingdom Come: Deliverance II

É surpreendente você encontrar livros com fatos reais históricos para serem lidos e que fazem parte de uma mecânica relacionada à leitura, permitindo que Henry aprimore suas habilidades através do estudo, refletindo a importância e todo o contexto histórico de maneira educativa e que faz sentido para ser buscado. Como se não fosse o suficiente, as tarefas cotidianas, como forjar ferramentas, preparar poções alquímicas ou até mesmo jogar, são recriadas com um nível de detalhe impressionante. Ou seja, não espere facilidade para aprender certas habilidades ou até mesmo conseguir uma simples poção, pois tudo exige investimento de tempo, atenção e dedicação para manusear artefatos ao realizar essas ações que em outros RPGs são automatizadas ou instantâneas.

Lute por sua vida

A partir do feedback da comunidade, os desenvolvedores trabalharam para que a jogabilidade de Kingdom Come: Deliverance II fosse significativamente refinada, oferecendo uma experiência mais fluida e gratificante. Mesmo com melhorias, o sistema de combate, antes muito criticado, retoma seu estilo próprio e carrega fortes inspirações em For Honor. Ainda com aspecto que parece ser duro, truncado e difícil de entender, que podem ser uma boa iniciativa para representar o manuseio de armas nessa época, agora apresenta uma profundidade tática interessante. Henry poderá ser equipado com armas diferentes e que possuem pesos, combos e esquemas de manuseio distintos, permitindo que os jogadores explorem fraquezas e zonas cegas dos adversários, enquanto miram entre as direções do ataque.

Kingdom Come: Deliverance II

Mesmo com uma curva de aprendizado bastante desafiadora, mas extremamente gratificante, ela reflete diretamente o compromisso do jogador com o realismo histórico do jogo. Um ponto de crítica está na dificuldade em alternar entre os sets de equipamentos durante um combate já iniciado, pois muitas vezes estamos em momentos de calmaria e um simples diálogo pode se transformar numa sequência de acontecimentos longa, desencadeando uma batalha na sequência, sem permitir que você altere seus equipamentos e acessórios.

Vale ressaltar que, além das novidades sobre os combos e os tipos de armas, o jogo também incentiva o desenvolvimento das habilidades de combate através da prática constante. À medida que Henry participa de lutas e utiliza diferentes armas, suas habilidades melhoram, desbloqueando novas técnicas e vantagens que podem ser escolhidas para personalizar ainda mais seu estilo de luta. Com uma letalidade alta e a velocidade bem abaixo do normal, Kingdom Come: Deliverance II exige que os jogadores estejam sempre atentos aos movimentos dos inimigos e de olho na estamina, pois sem energia Henry não conseguirá lutar muito menos utilizar o sistema de bloqueio para se defender ou contra-atacar corretamente.

Kingdom Come: Deliverance II

Como se não bastasse, Kingdom Come: Deliverance II ainda é um espetáculo visualmente. A recriação meticulosa da Boêmia do século XV é deslumbrante, com cenários detalhados e uma direção de arte impecável. A cidade de Kuttenberg, recriada em escala real, é um testemunho do compromisso dos desenvolvedores com a autenticidade histórica, sem contar o nível de detalhe impressionante das armaduras, expressões faciais e ambientes, criando um mundo vivo e convincente que convida à exploração e mantém você engajado num jogo gigantesco.

A trilha sonora, composta por Jan Valta e Adam Soka, completa a dobradinha artística e eleva a experiência de jogo. Com mais de 200 faixas exclusivas gravadas por uma orquestra no icônico Rudolfinum, um dos prédios mais importantes de Praga, a música enriquece cada momento do jogo, intensificando a atmosfera medieval e as emoções das cenas. Adicione à trilha uma infinidade de efeitos sonoros, desde o tilintar de armaduras até o burburinho das cidades, que contribuem para criar uma atmosfera autêntica e imersiva.

Kingdom Come: Deliverance II

Kingdom Come: Deliverance II é, sem dúvida, um exemplo da importância de trabalho à longo prazo e a valorização do time de desenvolvedores. Mesmo 2025 começando, nós já temos um grande favorito ao jogo do ano, com um RPG histórico que consegue combinar narrativa, interação com suas escolhas, jogabilidade desafiadora e atenção aos detalhes, históricos e visuais. Apesar de apresentar alguns problemas como bugs pelo cenário ou falhas na IA dos NPCs, o jogo estabelece um novo padrão para RPGs de mundo aberto por sua autenticidade.

Para os fãs de RPGs históricos ou jogadores que buscam por experiências densas e profunda, Kingdom Come: Deliverance II é uma obra-prima imperdível que consegue recompensar generosamente o investimento de tempo e dedicação através de sua imersão. Um jogo que não apenas entretém, mas também educa e desafia, oferecendo uma janela vívida e interativa para um período fascinante da história europeia.

97 %


Prós:

🔺 Narrativa profunda e envolvente, com escolhas impactantes
🔺 Combate tático e estratégico, que exige atenção e habilidade
🔺 Atenção e cuidado na representação visual e histórica
🔺 Mundo grande, aberto e imersivo
🔺 Visual e trilha sonora impressionantes
🔺 Sistema de tarefas que exigem atividade real
🔺 Mecânica de relacionamentos com muitas possibilidades

Contras:

🔻 Alguns travamentos exigem a retomada de salvamentos anteriores
🔻 Glitches no cenário travam ou dificultam a movimentação
🔻 O combate ainda exige refinamento na acuracidade

Ficha Técnica:

Lançamento: 04/02/25
Desenvolvedora: Warhorse Studios
Distribuidora: Deep Silver
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series
Testado no: PS5