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Jogo de estreia da dev chinesa SpaceCan, Juicy Realm é um shoot ‘em up roguelite com foco em partidas coop – basicamente consistindo em atirar em tudo que se move dentro de dungeons com seus amigos. Seu objetivo é acabar com um exército de… (pausa dramática) frutas! Frutas essas que tem sede de revolução, que estão cansadas de serem consumidas, cortadas, espremidas, trituradas e transformadas em sucos e vitaminas sem dó nem piedade. Agora elas procuram subir na cadeia alimentar e para isso a guerra contra seus principais inimigos, os humanos, é inevitável.

Suco de frutas

A linha tênue entre o bestial e o vegetal já não existe mais e a cadeia alimentar foi completamente dizimada. Os humanos, ao descobrirem isso, estabeleceram postos avançados ao longo da fronteira do reino das plantas agressivas para se defender e também planejar os próximos passos para a debandada dos vegetais. Você assume o papel de um soldado na linha de frente encarregado de enfrentar esse estranho inimigo.

Como um dos primeiros exploradores do recém-descoberto império das plantas, você deve seguir cada vez mais fundo no covil do inimigo, derrotando frutas bizarras e coloridas enquanto conquista novos equipamentos, armas e recursos para expandir sua base de operações. Essa tarefa não será fácil, afinal, essas frutas não estão apenas armadas, mas também são fortes e vem das mais variadas espécies e tipos.

Imagem do jogo Juicy Realm
Quem é o fofão que quer me matar? Quem é? Quem é?

Juicy Realm remete à clássica franquia de arcades (e rouba-fichas) Metal Slug, da SNK, tanto pelo estilo artístico presente quanto pelos quatros heróis disponíveis para jogar, além da variedade de armas e o humor visual contido nele. Até ouso dizer que se Metal Slug renascesse como um roguelite, poderia ser algo semelhante a Juicy Realm.

Salada de frutas

O jogo traz uma enorme variedade de frutas, que se comportam de maneiras distintas, o que é um ponto bastante positivo. Afinal, elas são o motivo de Juicy Realm existir e roubam a cena, principalmente os chefões de cada área. Isso foi muito bem trabalhado e cada um apresenta uma certa riqueza de detalhes, tanto na maneira que agem como nas suas animações, que impressionam. Alguns usam armas, outros são as armas; alguns são mais fortes, outros mais rápidos; alguns são grandes, outros pequenos.

A grande sacada do jogo é trazer diversas frutas diferentes, desde maçãs, melancias, peras, morangos, até romãs, lichias e pitaias. O mais interessante disso tudo é que o comportamento de cada uma delas foi baseado em suas características mais marcantes. Por exemplo, o abacate lança seu caroço como uma granada, enquanto a lichia vem rolando com sua casca dura, mas quando atingida corre com seu interior molenga em busca de abrigo. Já outras são mais caricatas, como a melancia samurai que corre atrás de você, mas que depois de alguns metros se cansa. São detalhes pequenos, mas que contribuem com o humor e o charme do jogo.

Imagem do jogo Juicy Realm
Aposto que nenhuma fruta nunca apontou uma arma antes.

Porém, nem tudo são frutas, digo, flores. Os inimigos não contam com uma inteligência tão abastada, e apesar de não entrarem inocentemente em fogo cruzado, eles simplesmente não notam sua chegada se você não estiver no campo de visão deles. Até aí tudo bem, porém imagine a seguinte situação: você chega atirando em tudo e matando o que vê pela frente, com vários inimigos enfileirados, mas enquanto você não atirar diretamente neles, eles não vão te notar. Não importa se uma fruta morrer do lado de outra – enquanto você não a atinge ou entra no campo de visão dela, você não será detectado.

Além disso, aparentemente essas frutas tem memória de peixe, pois mesmo quando elas te notam e começam a te perseguir, caso você se afaste uma certa distância elas simplesmente te esquecem, saindo do seu encalço e voltando a fazer o que faziam antes. Tudo bem que, para evitar um pouco disso, alguns cenários são mais estreitos e tem menos campos abertos, mas mesmo assim, isso talvez frustre um pouco os amantes de roguelites que curtem multidões atrás deles. Outra questão é o fato dos cenários não terem tantos inimigos, assim não trazendo tanto desafio ao jogador (isso tendo jogado a campanha sozinho).

A rebelião das frutas

Falando em cenários, eles são bem coloridos e detalhados, com uma boa variedade por sessão. O jogo é baseado em dungeons (masmorras), ou seja, você mata todos os inimigos de uma área, avança para outra e assim sucessivamente. Algo que pode ser irritante durante o gameplay é o personagem ficar preso em alguns cantos do cenário, e isso é recorrente – você está correndo para desviar dos ataques do inimigo e de repente seu personagem fica preso, sendo alvejado por tiros. Não só isso como o cenário também possui objetos danosos espalhados aleatoriamente, mas algumas vezes não fica claro se eles causam dano ou não, então não será raro estar no meio da ação e receber dano sem nem saber o porquê.

Imagem do jogo Juicy Realm
O bando está pronto para o “fruticídio”.

Ainda falando dos cenários, são gerados aleatoriamente em cada início de partida, porém isso muitas vezes fica só na teoria e na maioria das ocasiões eles são exatamente os mesmos e na mesma ordem, mudando apenas o sentido de início e final, itens e objetos distribuídos por eles e um inimigo ou outro, já que nem a variedade deles costuma mudar nessas configurações de fase.

O jogo apresenta quatro personagens bem distintos, cada um com habilidades, armas e ataques únicos, e principalmente suas próprias animações e arte, comportando-se de maneiras cômicas nas mais diversas situações. Além disso, cada personagem tem sua arma padrão e um ataque secundário único, que pode ser usado mediante um cooldown entre os usos.

Nesse sentido Juicy Realm apresenta uma ótima variedade de armas, sejam elas brancas ou de fogo, e algumas são muito cômicas. Durante o gameplay, você pode encontrar armas para aumentar seu poder de fogo contra as frutas, seja no meio de batalhas ou na barraca de armas na troca de sessões do jogo, após derrotar um chefão. Essas armas apresentam uma vasta gama de ações e reações, desde uma galinha de plástico até uma shotgun, passando também por pistolas ou uma chave inglesa.

Imagem do jogo Juicy Realm
Esses descontos são de matar.

Entre as mais engraçadas, está uma chamada “Steam”, que dispara descontos (Gabe Newell tá vendo essa zoeira aí). Tais armas, além de contarem com visuais únicos, também possuem um uso distinto detalhado em suas respectivas estatísticas.

Um problema que encontrei em relação ao combate foi que a mira do jogo se confunde facilmente com o cenário, e isso acontece devido às cores da mira serem as mesmas de alguns ambientes. É algo que não costuma acontecer em outros jogos do gênero (pelo menos eu nunca joguei um no qual acontecesse isso). Outro detalhe que pode incomodar um pouco mas não é alarmante é a forma como a troca de armas é feita. Normalmente, para agilizar, essa troca é feita através do scroll do mouse, mas neste caso específico, você precisa pressionar a barra de espaço para executar essa ação, o que é menos intuitivo.

Um dos maiores destaques do jogo, que fica bem claro de cara, é o estilo visual que ele carrega, bem caricato, com cores vivas, emulando algo entre os quadrinhos e os mangás. A arte é bastante agradável e bem-feita, junto de suas animações bem trabalhadas e fluidas, tantos dos protagonistas quanto dos inimigos. Boa parte do humor visual contido no jogo é derivado disso, como as expressões dos personagens e comportamento dos inimigos, que novamente remetem aos tempos de Metal Slug.

Imagem do jogo Juicy Realm
“O que comem, como se reproduzem, hoje, no seu…”

Quanto aos sons do jogo, os efeitos são bem simples mas não deixam a desejar, cumprindo com o que prometem. Já as músicas poderiam ser melhores, sinto que faltou alguma faixa mais vibrante durante as batalhas para dar um tom mais animado e empolgante à aniquilação das frutas. Além disso, o jogo infelizmente não traz qualquer localização para o português brasileiro, mas isso não faz qualquer falta, pois sequer se presta atenção na história, que fica de pano de fundo para toda a trama em Juicy Realm, agindo mais como uma desculpa para atirar em frutas.

Juicy Realm me surpreendeu em alguns aspectos, mas também deixou a desejar em outros. Não é um jogo perfeito mas diverte, e é isso o que importa no fim das contas. Apresenta uma ótima arte, animações excelentes, humor no ponto, boa variedade de personagens e armas, e claro, os inimigos que roubam a cena por sua incrível presença. Para aqueles que são fãs de jogos roguelite e principalmente shoot ‘em ups, é uma boa pedida, apesar de algumas frustrações (que talvez sejam resolvidas em alguma futura atualização). Lembrem-se de evitar o desperdício de frutas, um dia elas podem se rebelar.

Review – Space Architect

Paulo AlmeidaPaulo Almeida24/11/2024