Depois da Marvel montar seu império entre quadrinhos e adaptações para os cinemas e séries de TV, não era difícil crer que a rivalidade entre a editora de Os Vingadores com a DC Comics ultrapassasse as linhas das HQs. Hoje é possível ver, igualmente, seriados dedicados ao universo do Cavaleiro das Trevas, bem como adaptações cinematográficas reverenciando os lunáticos do Esquadrão Suicida, a Mulher Maravilha, Super-Homem e, em breve, a Liga da Justiça.
Só que mesmo com todo o engajamento sobre seus personagens, a DC ainda não criou nada tão inesquecível como a sua concorrente fez para TV e cinema. Não é implicância minha, é um fato. Infelizmente, para os fãs – e eu me incluo nessa – não é divertido ver histórias tão profundas serem trazidas ao público de modo tão desleixado. O próprio Esquadrão Suicida tá aí que não me deixa mentir; muito hype, pouca entrega.
Com tantos personagens fortes e cheios de personalidade que a DC criou (e cria, ao longo dos anos), como é possível não explorar isso decentemente? Boon, em conjunto com a NetherRealm Studios, deve ter feito a mesma pergunta e, por isso, entregou o jogo Injustice: Gods Among Us em 2013. Com o sucesso do game, o que era pra ser um jogo de heróis casual e descompromissado, virou uma série com a chegada de Injustice 2.
Quem é o vilão?
Continuando a piração maniqueísta do primeiro jogo, continua-se o dilema moral entre a nova ordem mundial liderada pelo Super-Homem e a força rebelde contra o Homem de Aço encabeçada por Batman. De um lado temos Clark Kent, que após o Coringa ter matado Louis Lane num ataque doentio, acredita que o mal deve ser extirpado pela raiz. Ou seja: estupradores, assassinos, criminosos de um modo geral, devem ser extintos da face da Terra. Bruce, por outro lado, acredita que tudo deve ser resolvido sob os olhos da justiça, acima de qualquer vontade.
Assim como em toda briga ideológica, ambos os lados têm seus apoiadores. Enquanto Batman tenta instaurar a paz novamente, Super-Homem segue colhendo novos simpatizantes para a sua causa. Mas um fator relevante mostra que toda essa treta atemporal é pequena perto do mal que se ergue em paralelo.
Bora para o jogo
Partindo para o que interessa: quando você seleciona pra jogar solo é possível notar, antes de entrar no modo história, que o leque de personagens aumentou. Robin, Supergirl, Espantalho, Hera Venenosa, Monstro do Pântano, Brainiac são alguns dos novos nomes disponíveis. O estilo único criado pela NetherRealm, desde que Mortal Kombat 9 foi lançado, sempre será o agradável diferencial da desenvolvedora sobre a concorrência.
Sem querer entrar em questões técnicas maçantes, o importante é como o game se porta durante as partidas. Quem desbravou Injustice: Gods Among Us irá familiarizar-se rápido com os comandos e a mecânica desenvolvida para a série. Embora muito parecido com o gameplay de MK, não tem fatality aqui. A experiência maior segue em torno da trama que envolve seus personagens e o que os leva para as arenas de luta.
Cada personagem ganhou packs de combos muito fortes, que mesmo ao escolher um nível de dificuldade baixo para jogar, o estrago é grande. O kit de porradaria de cada herói traz um nível de dano bem alto. E o que brinda cada partida, fazendo a experiência ser o mais empolgante possível, são os especiais criados para cada herói e vilão.
Um exemplo: jogar com a Hera Venenosa é fantástico, pois é uma anti-heroína que faz valer sua história, seu visual, bem como as técnicas que usa para silenciar seus adversários fazendo uso da botânica. Ao aplicar seus combos em conjunto com seu especial, uma planta carnívora gigante surge e finaliza o oponente mastigando-o. Cara, como o prazer de fazer isso é grande! E olha que estou falando apenas de uma personagem. Temos aí mais 20 opções entre heróis e vilões para secar todas as habilidades possíveis, por horas a fio.
As transições de um cenário para o outro, como ocorria no jogo anterior, continuam e agora com novas localizações. É possível explorar regiões diferentes relacionadas aos principais personagens da história, como brigar no meio de um pântano, por conta do Monstro do Pântano, ou até mesmo num parque de diversões abandonado inserido nas memórias do vilão Coringa.
Segredo para a diversão
Não importa se quem joga é novato ou não. Qualquer pessoa pode jogar Injustice 2 e esse é o segredo aqui. Você não precisa de um nível de habilidade absurdo para atingir o objetivo do jogo. A lista simplificada de combos dos personagens faz qualquer pessoa se interessar e continuar jogando.
Seja sozinho ou tirando um contra, a diversão estará presente o tempo todo. É um jogo feito sob medida pra quem curte partidas casuais e também pra quem busca algo mais acirrado. A turma viciada do Mortal Kombat vai se sentir em casa com o estilo de gameplay de Injustice 2.
RPG como referência
Injustice 2 traz ao jogador um sistema diferente de interação com os personagens. Os desenvolvedores colocaram à disposição um sistema que permite que você possa dar um upgrade nos heróis e vilões do jogo. O “loot dropping”, como é conhecido por quem joga RPG, traz novas roupas, itens e meios de personalização para que seu personagem tenha desempenhos diferentes ao longo das partidas. Após cada batalha, o jogador é recompensado e este pode gastar seus espólios montando um novo set para seu personagem favorito. Entre os adicionais, é possível ganhar um aumento de status, mudar a aparência dos champs, aumentar a força, a velocidade, a defesa, entre outros pontos que deixam o jogo ainda mais interessante. É possível também desbloquear outros golpes para se dar melhor durante as lutas.
Jogar online é sempre uma diversão a mais quando o assunto é jogos de luta, e no modo multiplayer também é possível sentir um pouco da estrutura de RPG. Os competidores são colocados em níveis de batalha de acordo com sua experiência de gameplay, assim o equilíbrio das tretas se mantém e ninguém pega um apelão pela frente.
Mas nem tudo é perfeito e alguns deslizes podem ser percebidos ao longo do jogo. Há vários erros de tradução em textos e na dublagem, que também sofre com uma troca inexplicável de língua, com personagens falando em inglês durante as cutscenes das batalhas (mesmo o jogo estando configurado para o português).
No mais, Injustice 2 está em dia com os gráficos e a anatomia “bodybuilder”, que parece deixar os personagens ainda mais poderosos. Os novos uniformes, os cenários imersivos, tudo parece ter sido feito com um cuidado ainda maior que a entrega anterior. Este é um ponto muito positivo, provando que a NetherRealm não caiu no “mal da reciclagem” na criação de jogos em sequência.
Injustice 2 traz uma nova cara para os games de luta, bem como a franquia Mortal Kombat o fez ao longo dos anos. Mesmo os personagens trazidos neste já terem personalidades previamente construídas pela DC, é inevitável perceber a releitura genial de Ed Boon e sua equipe para que estes heróis sejam conhecidos pelas novas gerações e por pessoas que nunca imaginaram empunhar um controle para jogar algo do gênero.