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Foram cinco anos de espera, mas Death Stranding 2: On the Beach finalmente foi lançado. Uma continuação que muitos, como eu, acreditavam não ser necessária, uma vez que o primeiro jogo conseguia ter um final extremamente satisfatório. Após 60 horas de uma nova aventura com Sam, Fragile e novos aliados pela Austrália, ainda estou processando todos os eventos e sentimentos que On the Beach me empurrou goela abaixo.

Diferentemente de como sempre antecipo as obras de Hideo Kojima, com Death Stranding 2: On the Beach resolvi não especular ou criar teorias em cima dos trailers e materiais de divulgação – o que, nos artigos que fiz sobre o primeiro jogo, acabou se mostrando correto e tirando um pouco do peso de certas revelações. Mas a pergunta que ainda paira é: a aventura de Sam pela Austrália é tão marcante quanto sua jornada pelos Estados Unidos?

Um recomeço amargo

A narrativa de Death Stranding 2: On the Beach não se passa tanto tempo depois do primeiro jogo, ocorrendo apenas 11 meses após Sam reconectar a América do Norte. Porém, Sam agora vive de maneira isolada com sua filha adotiva. Agora chamada Louise, a antiga BB-28 vive uma vida despreocupada ao lado de Sam, escondidos do mundo, da UCA (Cidades Unidas da América) e de quaisquer outros que possam interferir no crescimento de Lou e na paz de Sam. Mas isso está prestes a mudar.

Death Stranding 2: On the Beach

Fragile acaba localizando Sam e o atualiza sobre o estado da UCA, como a saída de Die-Hardman da presidência e a ascensão do sistema APAC (Companhia de Assistência Pública Automatizada), que substituiu a BRIDGES após sua dissolução. Agora, Sam terá a missão de ligar o México, expandindo ainda mais a Rede Quiral. Algo que parecia simples, mas que infelizmente abriu as portas para serem encontrados por outros.

Ao ligar com sucesso o México, se despedir de um querido amigo e aprender mais sobre a atual situação do mundo pós-Rede Quiral, pós-vida e sobre o alcatrão que abriga todas as EPs, EEs e outras criaturas, Sam recebe o aviso de que seu abrigo está sendo invadido. É neste ponto que Death Stranding 2 já começa a mostrar a que veio, com Sam se deparando com os misteriosos inimigos vermelhos do primeiro trailer e até mesmo com o ninja que apareceria em trailers futuros.

Após um breve confronto com essas máquinas que o procuravam, e ao ver o mesmo ninja se livrar delas antes de desaparecer misteriosamente, Sam corre de volta para seu abrigo, apenas para encontrá-lo vazio. Infelizmente, Fragile não consegue salvar Lou, com o Ka da jovem criança voltando a se manifestar para Sam de dentro da cápsula. Isso faz com que Sam entre em uma espiral depressiva, amaldiçoando o fato de ser um repatriado, incapaz de morrer, independentemente de quantas balas gaste.

Death Stranding 2: On the Beach

Escapando do alcatrão

Depois de meses vivendo na sujeira e rodando tanto o tambor de seu revólver a ponto de gastá-lo, Sam é mais uma vez encontrado por Fragile, desta vez utilizando uma roupa diferente, mais militar em suas linhas. As conexões criadas por Sam abriram novos caminhos de viagem pelo mundo, os chamados Portais Tunelares, a única maneira de se viajar pelo mundo após o Death Stranding. Afinal, tanto pelos oceanos de alcatrão quanto pelas nuvens de quiralium, o ato de viajar além de perigoso era, em 99% dos casos, fatal.

Sendo oferecida uma nova chance de se aventurar junto de Lou, como na sua jornada pela América, Sam aceita a empreitada e parte rumo ao novo continente que é a Oceania, ligando toda a Austrália à Rede Quiral com um novo Q-Pid. Neste novo país, Sam conhecerá novas tecnologias, novos inimigos e até mesmo um novo tipo de EP chamada de Vigia, além de descobrir mais sobre Lou, sobre si mesmo e sobre novos e antigos inimigos.

O primeiro deles é, sem dúvida alguma, Higgs. Usando um corpo cibernético e uma máscara capaz de reproduzir seus sentimentos, ele é o líder das tropas de robôs vermelhos, ainda em busca de acabar com a humanidade, mas de outra maneira desta vez, utilizando os “bastões” da teoria de bastão e corda formulada por Dave Rupert. O segundo é um estranho soldado que, tal como Cliff, consegue invocar soldados esqueléticos do alcatrão e irá lutar com garras e dentes contra Sam, buscando proteger a misteriosa garota que Sam traz do outro lado do Alcatrão consigo enquanto explora a Austrália.

Death Stranding 2: On the Beach

Seu nome é Tomorrow, e ela fará parte da história de Sam mais do que ele imagina. Junto de Fragile, Rainy, Dollman, Tarman e Heartman, a bordo da DHV Magalhães, eles navegarão pelas correntes de alcatrão e juntos irão religar a Austrália a si mesma e ao mundo. A escolha correta é esta? Talvez não seja, mas isso é algo que cabe ao jogador descobrir, enquanto ri, chora e torce pelo melhor nesta narrativa incrível cheia de altos e baixos que é a de Death Stranding 2: On the Beach.

Melhoras e reformulações em obstáculos

Mesmo tendo adorado o primeiro jogo, admito que as melhorias de vida da Director’s Cut pouco fizeram por mim em questão de evolução de gameplay, tendo me aproximado dele da mesma maneira que da sua versão original. Death Stranding 2: On the Beach, no entanto, expande ainda mais o leque de opções com novas tecnologias, inimigos e um sistema de combate repaginado e melhorado. O mapa, na minha opinião, é a estrela do jogo: sendo facilmente acessível e muito mais prático de navegar, diferente do primeiro, que tinha sessões torturantes!

Agora, mesmo o mapa sendo mais fácil de se explorar, ele traz novos obstáculos, como terremotos causados pela movimentação das correntes de alcatrão abaixo da superfície, enchentes em regiões chuvosas e pequenas criaturas de alcatrão que drenam a bateria dos veículos e exoesqueletos de movimentação de Sam. Todo cuidado é pouco na travessia deste novo mundo!

Death Stranding 2: On the Beach

As novas EPs e chefes são excelentes adições à fórmula, com a EP Sentinela fazendo minha alma sair do corpo em nosso primeiro contato – ela me observou com aqueles olhos verdes fulminantes e brilhantes no meio da névoa sangrenta das granadas anti-EP, sendo extremamente rápida, agressiva e voraz! Os robôs fantasmas possuem diferentes unidades também, com o modelo caixão sendo sua versão mais perigosa, até mesmo depois de derrotada.

Os mulas, por sua vez, estão mais avançados. Tornaram-se mais agressivos, porém perderam seu contra-scanner Odradek – algo que muitos temiam no primeiro jogo ao entrar em territórios controlados por eles. Em Death Stranding 2: On the Beach, eles se movem e criam novos postos ao decorrer da história, o que pode transformar áreas antes tranquilas em verdadeiros desafios, principalmente em locais onde instalam suas minas perseguidoras.

Novas armas, antigos costumes

Outra grande adição aqui é a maneira como nos aproximamos dos combates, com alguns permitindo evitar a morte do inimigo e outros sendo absolutamente letais. Um exemplo disso são as novas formas de apanhadores, como a mão, o crânio e até mesmo novos animais. Inicialmente, apenas a derrota deles utilizando a munição MU é viável, mas mais adiante é possível capturá-los! Você pode usá-los em grandes confrontos – pense neles como grandes Pokémon temporários, com direito até a música tema de Kaiju!

Death Stranding 2: On the Beach

Em contrapartida, Higgs possui o apoio de uma grande entidade bélica corporativa agora, o que lhe dá acesso a uma ampla gama de armas e matéria-prima para criar seu exército de robôs com almas presas dentro deles – daí os robôs-fantasmas – e, como era de se esperar, robôs gigantes! Chamados de Kraken, esses imensos inimigos servem como chefes em certas partes do jogo, lutando como uma mescla de inimigos armados e apanhadores.

Para equilibrar a batalha, Sam, além de ter acesso às diversas impressoras quirais e ganhar vários diagramas de armamentos de seus “clientes” enquanto expande a rede pela Austrália, também tem acesso ao APAS 4000. Um sistema de nódulos de memória que permite que ele e seus equipamentos adquiram certas aptidões, caso possuam a pontuação necessária. Funciona como uma árvore de talentos modular, pois permite alocar e retirar os pontos de habilidades a qualquer momento.

A estrela de reputação também foi atualizada, agora com as pontas sendo Portador, Combate, Furtividade, Prestação de Serviços e Elo Social. Cada nível ganho em uma dessas categorias é convertido em um ponto para o APAS 4000. Além disso, é possível ver as estatísticas de Sam em escalada, combate com armas, furtividade e outras. Elas são aprimoradas sempre que você realiza as ações correspondentes, ganhando experiência lentamente em cada área. Após certo tempo, elas evoluem e garantem melhorias definitivas para Sam em Death Stranding 2: On the Beach.

Uma nova gama de amigos

Como era de se esperar, a tripulação da DHV Magalhães está recheada de novos rostos para conhecermos, além de antigos amigos que serão vistos ao longo da jornada, como Heartman e Deadman. Tarman é um dos primeiros, sendo o piloto da embarcação e interpretado por ninguém menos que George Miller! Dollman é um médium que acompanha e auxilia Sam, funcionando como binóculos, tendo sua alma (Ka) presa a um pequeno boneco de ventriloquismo, interpretado pelo igualmente talentoso Fatih Akin.

Rainy é uma das membras da tripulação, que possui o poder de reverter os efeitos da chuva timefall que acelera a decomposição de matéria, sendo capaz de salvar a vida morta pelos efeitos da chuva ao seu redor. Porém, sempre que ela está em espaço aberto, a chuva irá cair em uma grande área. Ou seja, mesmo que ela possa salvar uma pequena área, ela ainda causa dano em grande escala, o que fez com que as pessoas a caçassem até que fosse resgatada por Fragile. Ela é interpretada por Shioli Kutsuna.

Por último, mas não menos importante, temos a adição de Tomorrow, a garota que viria a ser resgatada por Sam de dentro do mundo do Alcatrão. Tomorrow consegue lutar utilizando o alcatrão a seu favor, mergulhando na terra como se fosse água e usando seus pés para deslizar pelo alcatrão, como se patinasse no gelo. Interpretada por Elle Feign, Tomorrow também pode acelerar o tempo de tudo o que toca, algo que tenta excessivamente controlar.

Do outro lado da moeda está Luca Marinelli como Neil Vana, responsável por roubar a cena no trailer de pré-venda de Death Stranding 2: On the Beach. O soldado que substitui Cliff nos combates nas praias dentro do alcatrão luta de maneira tática, consegue convocar soldados esqueléticos para auxiliá-lo e pode flutuar pela praia se movendo por explosões de vidro. Porém, qual a sua ligação com Sam para poder compartilhar eventos de praia com ele?

Um mundo morto, porém cheio de vida

Uma das partes mais importantes de Death Stranding e Death Stranding 2: On the Beach são as pessoas com quem Sam se conecta por meio das entregas como Portador. Com isso, temos acesso a novas tecnologias, diagramas e itens diversos, como melhorias para a mochila – que vão desde bolsas de munição e granadas até baterias extras, núcleos antigravidade que deixam a carga mais leve e carregadores solares. É possível instalar uma gama de patches também em locais sem módulos ou bolsas, além de até dois chaveiros que garantem bônus.

Uma das novidades são modelos diferentes de armas, como rifles imobilizadores, escopetas com lança-granadas e lançadores de foguetes aprimorados, o que torna as batalhas contra inimigos algo mais fácil. Além disso, é possível utilizar tricruzadores e pick-ups off-road para explorar o continente, mas o novo veículo se destaca: a Prancha Caixão. Essa prancha expande a ideia das bases de transporte que podiam ser usadas como skate na Director’s Cut do primeiro Death Stranding.

Também é possível encontrar outros aliados que não fazem parte da história principal, mas demonstram o quanto o mundo ainda está vivo. Meus favoritos entre eles são o Caça-Fantasmas, com seus mistérios espalhados pela Austrália; o Terapeuta de Alcatrão, que garante diferentes formas de usar EPs; e o incrível Pizzaiolo! Este último é especialmente engraçado e divertido de maximizar o elo, já que garante a Sam uma roupa completa de entregador de pizza.

Mas a vida e suas emoções também estão presentes dentro da DHV Magalhães, com interações escondidas embaixo do nariz daqueles pouco curiosos. Caso o jogador tente ler os livros que Tarman entrega, encontrará uma foto dele e seu filho, aprendendo sobre seu passado e como perdeu a mão – que agora o ajuda a sentir as correntes de alcatrão. Já Dollman sempre tem algo a dizer sobre Sam, e caso o jogador escolha ouvi-lo sempre, ele eventualmente se abrirá sobre sua filha e como se tornou uma marionete.

Fotos e mais fotos para rever ouvindo música

Como era de se esperar, a Kojima Productions caprichou mais uma vez na excelente trilha sonora que acompanha o jogador por toda a jornada em Death Stranding 2: On the Beach. Visualmente, o jogo é absurdamente belíssimo e mantém a qualidade de gameplay o tempo todo, mesmo fora do modo performance no PS5 base. As fotos no modo fotos se aproveitam ao máximo da qualidade gráfica, permitindo que o jogador tire fotos incríveis!

O jogo rodou inteiro sem queda de frame sequer, superando minhas expectativas. Especialmente porque o mapa é muito maior que o do primeiro jogo. Há mais elementos no mundo, o campo de visão é mais amplo, Sam carrega mais equipamentos o tempo todo e, mesmo sendo atacado por EPs ou mulas, o jogo se mantém firme!

A trilha sonora também brilha, com novas músicas produzidas por WOODKID, Gen Hoshino, Low Roar e CHVRCHES. Elas tocam em momentos específicos de exploração, criando o clima perfeito para certas áreas. Gen Hoshino também participa do jogo como O Músico na Austrália, permitindo que Sam desbloqueie algumas das primeiras faixas que podem ser ouvidas a qualquer momento no music player.

O único ponto negativo é que, em áreas com inimigos ou fora da cobertura da rede quiral, nem o music player nem a Prancha Caixão funcionam. Isso, no entanto, é facilmente contornável assim que a área é conectada à rede. Há também uma Polaroid que pode ser obtida, permitindo que Sam tire fotos com as garotas na DHV Magalhães, criando memórias e dando pistas ao jogador mais atento.

Death Stranding 2: On the Beach

Apenas cinco anos?

Depois de finalizar Death Stranding 2: On The Beach e escrever este texto, ainda sinto que sequer toquei a superfície deste jogo. No entanto, acreditar que ele está em produção desde o fim do primeiro Death Stranding é uma ilusão da passagem de tempo. Prestando atenção, acredito que a produção tenha começado em março de 2014. A maior pista para isso é a missão secreta Deja Vu em Metal Gear Solid: Ground Zeroes, que possui um objetivo secreto.

Já escrevi sobre isso alguns anos atrás, mas em resumo, nesta missão é possível encontrar os logos de todos os Metal Gears pelo mapa e, sempre que se aponta uma luz especial, aqueles em que Hideo Kojima trabalhou são apagados – algo que preparava para os eventos que viriam durante a produção de “The Phantom Pain”. Após apagar o último logo, Kazuhira Miller se pergunta o que significa Kojima Productions.

Tivemos P.T. e suas mensagens subliminares, que culminaram em pistas para o primeiro Death Stranding, o que na minha visão faz com que as mensagens tenham ocorrido de trás para frente. O primeiro Death Stranding trouxe o que se sentia em P.T., e agora, em Death Stranding 2: On the Beach, tivemos o “fechamento” da visão de Hideo Kojima para sua série Metal Gear Solid.

Death Stranding 2: On the Beach

O jogo é repleto de referências à antiga série de Kojima na Konami. Fora as frases e diálogos que aludem à série, o confronto entre Higgs e Sam remete a Liquid e Solid Snake, até seus momentos finais e embate, me fazendo reviver a batalha no topo do Metal Gear Rex em Shadow Moses e a luta final dos irmãos no topo do Arsenal Gear em Guns of the Patriots.

Enfim, um fechamento?

Há diversas referências aos trabalhos antigos junto à Konami nesta carta de adeus à franquia, elementos que são totalmente impactantes para jogadores novos, mas extremamente carregados para os antigos fãs de Kojima. Como os servidores nas praias, o plano contra a extinção da humanidade criado pelo novo presidente e os servidores se tornando lápides, cada uma com um epitáfio diferente – impactante tanto para antigos quanto para novos jogadores das obras da Kojima Productions.

As referências literárias encontradas pelo mundo do jogo também remetem ao passado, como Moby-Dick e The Phantom Pain, Frankenstein e muitas outras. Histórias que refletem a perseverança humana contra a natureza das coisas, algo sempre citado nas obras da Kojima Productions, além da exploração do avanço militar desenfreado e das guerras causadas pelo avanço tecnológico sem supervisão.

Death Stranding 2: On the Beach

Agora que tanto Hideo quanto seus fãs de longa data tiveram uma espécie de fechamento espiritual de Metal Gear, com direito a rever o Metal Gear Rex no design da DHV Magalhães, um encerramento para Solid Snake tanto em Sam e Higgs quanto em Neil Vana em combates épicos e narrativas tocantes que me fizeram ir do riso às lágrimas em segundos!

Death Stranding 2: On the Beach deixa a porta aberta para uma nova aventura, em um final que mostra que a expansão da rede Quiral abriu novos portais tunelares mundo afora. O mundo continua evoluindo e, mesmo com robôs entregadores, os portadores ainda têm seu espaço no mundo, e aparentemente há um novo portal tunelar à espera daqueles ousados o suficiente para conectar uma nova parte do mundo. Death Stranding 2: On the Beach é uma experiência surreal, que supera e muito o seu antecessor, em peso, gameplay e narrativa.

100 %


Prós:

🔺Excelente narrativa, que prende o jogador do início ao fim
🔺Combate e exploração aprimorados
🔺Funciona perfeitamente no PlayStation 5 base

Contras:

🔻Pode ficar maçante em longas sessões sem pausa e sem seguir a narrativa

Ficha Técnica:

Lançamento: 26/06/2025
Desenvolvedora: Kojima Productions
Distribuidora: Sony Interactive Entertainment
Plataforma: Playstation 5