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O mundo dos sonhos é uma faca de dois gumes: assim como podemos usufruir de nossos desejos mais profundos, também somos forçados a enfrentar nossos medos mais terríveis. Por mais que muito sonho não pareça fazer sentido algum, sempre temos aqueles que são reais ao ponto de nos fazer acordar abalados ou simplesmente querendo voltar a dormir logo para continuar naquele lugarzinho onde tudo é possível.

DARQ nos convida a desbravar uma visão completamente gótica, melancólica e, acima de tudo, muito bizarra dos sonhos. Na pele de um garoto que se vê preso dentro de seus próprios pesadelos, precisaremos resolver diversos puzzles que brincam com a gravidade e a dimensão das coisas – afinal, nos sonhos tudo é possível. Lançado originalmente em 2019 para PC e consoles, este título altamente premiado agora também se encontra disponível no PS5 e Xbox Series, trazendo todas as suas bizarrices para a nova geração.

Seu pior pesadelo

O enredo de DARQ é um mistério, pois o jogo não possui diálogos e muito menos cutscenes. Logo de cara começamos a jogar em um quarto e devemos dormir para iniciar o que seria a verdadeira aventura: uma série de desafios envoltos ao surrealismo dos sonhos. Nosso protagonista logo percebe que aos poucos tudo está se tornando um grande pesadelo, e o pior: ele não consegue acordar. Logo fica impossível distinguir o que é realidade e o que é sonho (Inception mandou lembranças) e a história fica exclusivamente à mercê da nossa interpretação.

Paralisia do sono resumida em uma imagem.

A campanha é muito curta, contando com apenas sete fases que podem ser concluídas em menos de duas horas, ao todo. Essa edição ainda traz duas fases extras que foram lançadas em forma de DLC gratuito nas outras plataformas, então dá para estender o tempo de jogo para três ou quatro horas, no máximo.

Não precisa jogar muito para perceber que esse jogo tenta ser um Little Nightmares do momento que começa até os últimos segundos. As semelhanças vão além da estética de horror, mas aqui também teremos algumas criaturas feias que vão nos caçar em fases específicas e um final que é praticamente idêntico ao do primeiro Little Nightmares. Isso não é uma coisa ruim, já que estamos falando de um excelente jogo, mas foi impossível não ficar comparando tudo o tempo inteiro.

Eu gostei muito mais das fases em que só precisamos resolver puzzles do que aquelas que nos forçam a ficar se escondendo ou fugindo de monstros. Tudo bem que esses momentos são escassos e estão ali só para agregar valor à atmosfera de pesadelo, mas me passou a impressão de que tudo é encaixado e “forçado” demais. Em Little Nightmares, cada fase oferece um perseguidor diferente que está ligado com a trama e o ambiente de alguma forma, mas aqui são só monstros aleatórios que mais irritam do que amedrontam.

Estou me sentindo em um videoclipe do Good Charlotte.

Existe uma fase em que precisamos resolver um puzzle rapidamente enquanto a câmera fica girando em 360 graus, nos impedindo de enxergar o quebra-cabeça. Ao mesmo tempo, podemos ver uma mulher cadeirante – um dos monstros do jogo – se aproximando lentamente em um corredor escuro. Esse momento tenta fazer o jogador ficar desesperado e morrendo de medo, mas tudo que eu senti foi pura raiva por não conseguir enxergar o puzzle que estava resolvendo, o que me fez morrer várias vezes. Foram coisas como essa que me convenceram de que o fator “terror” de DARQ não ficou legal.

Brincando com a gravidade 

Deixando os monstrengos de lado, no quesito puzzles DARQ não decepciona! Todos os quebra-cabeças são muito criativos e divertidos de resolver, envolvendo atividades variadas como leva e traz de itens, enigmas e a cereja do bolo neste jogo: a capacidade de brincar com a gravidade. Estamos dentro de sonhos, então andar nas paredes ou no teto é algo completamente possível.

O jogo mistura essas mecânicas de “virar” o cenário com outros elementos interessantes, como alterar o plano do lugar em que estamos (indo mais para o fundo ou para trás, por exemplo). O resultado é uma variedade muito boa de desafios que não são tão difíceis, mas também não pegam tão leve. Eu mesmo costumo ter bastante dificuldade com jogos de puzzle e muitas vezes preciso apelar para detonados, mas consegui tirar DARQ de letra. Exige bastante do seu raciocínio, mas em nenhum momento deixa de ser intuitivo e acho que isso é uma virtude que poucos jogos do gênero oferecem.

Fica a dica: NÃO acendam as luzes sem colocar a máscara antes.

Quanto ao restante do pacote, os gráficos são muito simples, mas nada que incomode (principalmente porque o jogo é bem escuro e cinzento). Na nova geração, o jogo está rodando a 60fps constantes e não possui nenhum loading, sendo o primeiro título que joguei no PS5 com resposta instantânea para qualquer coisa. Isso me impressionou, considerando que já joguei jogos tecnicamente inferiores a este e ainda tive que lidar com alguns loadings. Infelizmente este port não explorou nenhum recurso do Dualsense, o que é uma pena. Se tivessem colocado vibrações específicas ao interagir com diferentes tipos de objetos já seria um diferencial legal, mas não tem nada disso.

DARQ é uma experiência muito satisfatória se tratando de puzzles, mas bem decepcionante quando o assunto é terror. Provavelmente teríamos um jogo com uma identidade muito maior se o foco ficasse exclusivamente nas bizarrices que os sonhos podem nos proporcionar e deixasse de lado essas criaturas que não botam medo em ninguém. Ainda assim, não custa nada dedicar duas horinhas do seu tempo para desbravar os perigos da mente doentia desse carequinha sonhador.

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