Little Nightmares II te leva para mais uma noite de pesadelos perturbadores que, com certeza, vai acabar com a sua tranquilidade. Neste lugar habitado por seres e objetos deformados, Mono e Six, as crianças pequeninas, vão seguir uma jornada desconcertante para localizar a origem de um misterioso sinal de transmissão que parece influenciar as ações de todos por aqui.
Essa nova produção da Tarsier Studios segue os moldes do primeiro título: plataformas, puzzles e mecânicas simples em uma visão 2D de um lindo e obscuro cenário, enquanto que a história traz mais segredos e teorias para este universo. Novamente, o jogo não possui diálogos e todas as interpretações ficam por conta dos jogadores que poderão recorrer às diversas hipóteses criadas na internet ou criar suas próprias ideias, conforme suas experiências neste mundo sombrio.
Dispensa diálogos
Na trama, Mono surge como se tivesse acabado de sair de uma velha TV, objeto que está abandonado em uma floresta tenebrosa. Mais adiante o personagem encontra Six, aquela garotinha da capa de chuva amarela do primeiro título. Juntos, os pequeninos vão em direção ao sinal emitido numa torre distante e, conforme se aproximam, eventos e personagens bizarros surgem, colocando você em diversas situações sufocantes.
Pesadelos projetam os nossos medos mais profundos, criando um estado de insegurança e angústia que nos levam diretamente para locais e situações que queremos evitar. Com isso em mente, Little Nightmares II parece mostrar lugares onde os personagens tiveram experiências ruins como uma escola esquisita e um hospital sombrio, pois são estes alguns dos lugares por onde você percorrerá. E como era de se esperar, todos eles estão extremamente distorcidos e macabros, como um pesadelo deve ser.
A Tarsier Studios utiliza uma fórmula conhecida para proporcionar terror enquanto jogamos. O som do ambiente, por exemplo, é uma das características que estão associadas às intensidades dos eventos que, em conjunto com as aparições inesperadas, faz você andar com muita cautela pelas fases. Em Little Nightmares II isso é ainda mais intenso, as armadilhas, perseguições e surgimentos são impactantes e tornam as fases ainda mais hostis, sem contar que o visual está incrível e resulta numa bela experiência sombria, além de lembrar um pouco mais os títulos da Playdead como Inside e Limbo.
Os cinco níveis estão repletos de puzzles, alguns até que são fáceis de entender, mas há outros que certamente vão te dar um pouco mais de trabalho, daqueles que te fazem pensar bastante até encontrar a lógica. Eles estão sempre associados a um ambiente ameaçador, com inimigos próximos ou até recheado de armadilhas criativas que vão te causar bons sustos, muitas aflições e, claro, várias mortes durante a jogatina.
Enfrentando seus medos
Talvez os puzzles mais terríveis sejam aqueles em que Six não te acompanha. Muitas vezes, a garotinha te aguarda em um local seguro enquanto você assume todo o risco e encara uma sala escura e assustadora. Sério, alguns desafios dão um nó na garganta de tão grotesco. Para piorar, há soluções que são difíceis de executar, diria até que o nível de violência é bastante alto, mesmo não sendo tão explícito.
No geral, os quebra-cabeças de Little Nightmares II são inevitáveis, eles reservam itens importantes como chaves, baterias e objetos que dão acessos a novos locais ou ajudam a enfrentar os inimigos. Por vezes, o percurso pode até parecer confuso, oferecendo mais de um lugar para explorar, mas, no fim das contas, a dinâmica mostra que só há um caminho a seguir.
Explorar todos os cantos é interessante, pois você encontrará itens e cenas curiosas que acabam fazendo ligações com o primeiro jogo ou dá mais indícios do que está acontecendo em Little Nightmares II. Você também pode encontrar novos chapéus que deixam Mono com um visual sempre diferente e Restos Oscilantes, coletáveis que são como memórias de crianças, embora não esteja claro de qual criança se trata.
Uma das mecânicas interessantes do título anterior eram as interações com os diversos objetos do cenário e, felizmente, isso se manteve por aqui. Mono pode pegar diversas coisas, subir em banquinhos, caixas e móveis. A Tarsier Studios brincou ainda mais com todos esses elementos para tornar o level design ainda mais variado e, com isso, os percursos estão mais elaborados e cheios de possibilidades, tanto que a profundidade do cenário se tornou ainda maior, mesmo sendo 2D.
Para enfrentar seus medos, Mono vai encontrar diversos equipamentos pelo caminho. Alguns serão utilizados em momentos específicos como martelos, armas e canos de ferro, mas há outros que vão ajudá-lo por mais tempo, como a lanterna, necessária para iluminar as salas desagradáveis do hospital, e até um controle remoto, útil para os puzzles com as TVs. Isso mostra que Little Nightmares II tem mais do que furtividade e mesmo com medo, você terá que enfrentar seus inimigos.
O combate e a furtividade exigem um bom timing, o que às vezes pode não ocorrer por erro do jogador, mas também devido a problemas do próprio jogo, que em alguns momentos trava a movimentação do personagem, principalmente se estiver muito próximo da Six. Ainda assim será divertido (e medonho) enfrentar esses oponentes, sem dúvidas, eles vão render muitos sustos e aflições.
Interpretando os pesadelos
Não vou entrar em detalhes sobre a narrativa e teorias que fiz sobre o jogo para não estragar as surpresas de Little Nightmares II, basta saber que tudo está muito bem construído e quem já jogou o primeiro título vai querer jogar novamente para notar as conexões entre as histórias. Mas se por algum motivo você ainda não conhece esse universo, não perca mais tempo, pois vale a pena.
Com certeza vai chover teorias, das mais interessantes até as mais estapafúrdias. Há símbolos, imagens e cenas que são impossíveis de não ligar com a primeira história, isso te faz olhar atentamente cada detalhe no cenário em busca de significados e resulta numa experiência extremamente instigante. Em outro momento até podemos compartilhar essas ideias e teorias, quem sabe.
Por mais assustador que seja, esse é um daqueles lindos pesadelos aos quais não queremos acordar, mas talvez ele não dure tanto quanto gostaríamos. Apesar de serem cinco fases um tanto mais extensas, se comparado ao título anterior, a narrativa pode acabar cedo, ainda mais se você não tiver intenção de procurar pelos itens colecionáveis.
O que consola essa brevidade é notar a beleza de Little Nightmares II, a ambientação é sensacional, tanto visual quanto sonora. Confesso que isso me fez tirar mais de cem capturas e entrar em um verdadeiro conflito para escolher as imagens deste review. Mas não é só isso, o combate, a dinâmica das fases e todos os acontecimentos trazem uma camada muito interessante para a jogatina, criando uma experiência bastante agradável que certamente deixará muitos fãs ansiosos por mais pesadelos.
Little Nightmares II te levará, mais uma vez, para um desfecho cheio de surpresas e ainda assim, não entrega todos os pontos, tenha certeza disso. Até porque neste jogo nem tudo é o que aparenta, e é você quem deve interpretar os significados desta história macabra até que novos conteúdos ou teorias apareçam por aí.