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A indústria de games aqui no Brasil continua a todo vapor, e mesmo com poucos recursos os desenvolvedores frequentemente nos agraciam com vários games criativos e únicos. No gênero plataforma estamos muito bem representados por Celeste e Dandara (um jogo que é a cara do Brasil), assim como nas corridas temos Horizon Chase Turbo cumprindo seu papel com muito vigor. Mas um gênero que ainda foi muito pouco explorado por aqui é o de esportes, já que obviamente fica difícil competir com empresas maiores que produzem esses jogos super realistas.

A dupla André Amorim e Taynan Quintino, da Donut Coffeshop Studios, foi ousada o suficiente para entrar nesse meio dos jogos de luta, e se você está pensando que já estamos bem representados por GUTS no gênero, saiba que Cruz Brothers segue uma linha bem diferente. Neste game de boxe os criadores misturaram realidade com fantasia e fizeram algo cheio de identidade e personalidade… E claro, não vamos esquecer das raízes, algo bem brasileiro.

Uma história de superação

No jogo conheceremos os irmãos Cruz, Felipe e Igor, que sonham se tornar lutadores profissionais e assim terem a oportunidade de disputar o Pride Fists, o maior torneio de boxe do mundo. Ambos participavam de lutas clandestinas até que o destino os uniu ao boxeador profissional Marcus Luz, um homem assombrado por traumas do passado que vê uma chance de redenção ao treinar esses meninos cheios de força de vontade.

Ajude os irmãos Cruz a chegarem no topo.

Todas essas pessoas citadas aqui não são personagens ficcionais e sim lutadores de verdade. Em uma entrevista ao IGN, o criador André Amorim disse que sua inspiração veio durante o seu treinamento de boxe, e ele resolveu incluir no título seus amigos, os irmãos Cruz, assim como seu próprio mestre, Marcus Luz. E não para por aí, veremos outras figuras conhecidas do mundo do boxe no jogo, como Cláudio Coelho e Gabriel Ribeiro. Pra quem é ligado no esporte, é bem capaz de curtir o game apenas por essas presenças icônicas.

Dentre os vários modos disponíveis, o jogo também conta com uma campanha contada em 13 capítulos, e é nela que viveremos toda a trajetória dos irmãos Cruz, alternando entre um e outro em algumas lutas que compõem cada capítulo. Tudo é contado em forma de história em quadrinhos, então todas as cutscenes serão naquela forma de “slide narrado” porém de uma maneira mais dinâmica. Foi uma maneira criativa de contar a narrativa, porém inexplicavelmente na versão de console essas cenas enroscam demais, sempre dão umas pequenas travadas e o áudio fica “estourando” diversas vezes, como se o som da sua TV estivesse extremamente alto.

Por falar no áudio, toda a dublagem está em inglês, e infelizmente não temos dublagem no nosso português brasileiro. Você pode acompanhar todas as frases em PT-BR nos balões de diálogo das cutscenes, mas ainda assim a ausência de uma dublagem nacional em um jogo tão brasileiro deixou a desejar. Ainda podemos tirar algum proveito disso, pois em diversos momentos os personagens usam xingamentos e expressões exclusivamente brasileiras, e quando isso se mistura com as falas em inglês os diálogos ficam hilários. Um bom exemplo disso é nas aparições do lutador Cláudio Coelho, que se refere a todo mundo como “arrombado”, então tente encaixar essa palavra em alguma frase toda em inglês para ter uma noção do que estou falando.

A história é contada de uma forma bem objetiva mas ainda assim é bem construída e tem um começo, meio e fim. Me incomodei um pouco apenas com o arco contado do capítulo 10 até o 13, pois muitos plots que pareciam ser realmente importantes acabaram sendo deixados de lado sem mais nem menos. Ainda assim, não é nada que possa te incomodar muito, afinal tudo que queremos ver aqui são os irmãos Cruz lutando no Pride Fists. Mas há detalhes que poderiam ter sido melhor explorados para termos um enredo mais emocionante e imprevisível.

E essa bandeira do Avaí aí?

Boxe com poderzinho

André Amorim deixou claro que seu objetivo não era fazer um jogo 100% realista, como foi dito antes, seria bem difícil de competir com títulos maiores. Por conta disso a fantasia de Cruz Brothers entrou nas lutas, onde podemos usar poderes e ataques especiais, bem no estilo Street Fighter da coisa. Não é uma variedade muito grande de poderes, cada personagem só conta com três ataques especiais e um especial devastador, e bota devastador nisso.

Geralmente nos jogos de luta convencionais esses ataques especiais servem apenas para dar uma certa vantagem ao jogador, e não para entregar a luta de bandeja. Em Cruz Brothers é totalmente o contrário, esses especiais arrasam o oponente e acabam sendo decisivos, não é preciso muito mais para o derrubar depois do ataque certeiro. Sim, isso é uma coisa boa, mas só quando é você quem solta o especial, caso seja o adversário é derrota na certa. Acabei achando que esses ataques desbalancearam demais o jogo, já que enquanto o especial dos irmãos Cruz tiram cerca de 50 a 60% do HP do oponente, alguns outros personagens conseguem tirar uns 90% da sua vida, e isso é extremamente frustrante.

A apelação não fica só no uso dos especiais, mas também no modo como a IA dos oponentes opera. Cada luta será basicamente a mesma, mudando apenas alguns ataques do adversário. A máquina sempre age do mesmo jeito: ela irá tentar te derrubar e ficar desferindo combos no instante em que você levantar, te impedindo de reagir e complicando muito as coisas pro seu lado. Claro que você também pode fazer isso, desde que já esteja bem familiarizado com os controles do jogo.

Os especiais acabam deixando a luta muito injusta e pouco desafiadora.

Por falar nisso, os controles são bem simples de se aprender e em pouco tempo você consegue assimilar o que cada botão faz, em que cada um desfere um tipo diferente de golpe. No geral não é nada complexo, mas nem sempre eles são responsivos e acontece de em certos casos você metralhar os botões e o personagem não obedecer devidamente. Isso pode ser resultado de alguns dos bugs, e até o momento ele tem vários, desde personagens saindo fora do ringue e bugando o cenário até entrando dentro do chão e se perdendo em uma dobra no espaço-tempo.

Caso não esteja afim de jogar o modo história, não se preocupe, porque o que não falta aqui são modos de jogo. O modo campeonato possui diversos torneios em que você enfrenta uma sequência de oponentes até chegar no campeão, e aqui você pode escolher qualquer um dos 23 personagens disponíveis para usar, um número mais do que satisfatório. Porém esse modo exige uma habilidade muito maior, as lutas só tem um round e isso diminui qualquer possibilidade de virada (ainda mais se você tomar um especial na cara), e se perder uma luta terá que começar tudo de novo.

Se você cansou de enfrentar a máquina ainda pode jogar um multiplayer local com até 3 amigos em lutas de 2 contra 2, e aí sim é diversão garantida. Por ora o jogo segue com um multiplayer exclusivamente local, complicando a vida de quem só costuma jogar online, mas quem sabe no futuro isso seja implementado.

Irmão contra irmão, o conflito mais antigo da humanidade.

Com respeito a todo o restante, os gráficos são bem básicos e as músicas são legais até certo ponto, pois elas se repetem muito e as chances de você enjoar rápido são altas. A movimentação dos personagens também não é lá essas coisas, sendo bem travada e artificial, mas eles compensam na realidade dos golpes. De alguma forma você consegue sentir o impacto de cada soco desferido. Também há uma interação bem leve com o cenário, onde os personagens vão sujando o chão com seu sangue e as vezes acabam destruindo tudo ao seu redor, o que também é um detalhe bem legal.

Cruz Brothers é um jogo ousado e único, que ao contrário de tantos outros títulos brasileiros não tentou seguir a onda de títulos internacionais, e optou por criar uma identidade própria com conteúdo que honra as nossas raízes. É um jogo de luta bem casual que merece uma chance, seja para ser jogado pela história dos irmãos Cruz ou simplesmente pelo multiplayer de 4 jogadores. Espero ver mais jogos como esse aparecendo por aí, jogos que usam e abusam da imagem de brasileiros icônicos e bons no que fazem, afinal ele é mais um game que chega para provar que independente do gênero, um jogo conta uma história tão bem quanto qualquer livro ou filme.