Como vocês puderam acompanhar aqui, Atelier Ryza: Ever Darkness & The Secret Hideout e AR2: Lost Legends & The Secret Fairy foram uma oportunidade de ouro para a Gust e a Koei Tecmo verem que um raio pode sim cair duas vezes no mesmo lugar. Com um baita RPG em mãos e uma evolução narrativa ímpar, eles atingiram um grande patamar até mesmo em quem não era fã da franquia anteriormente.
Sacudindo um pouco as coisas nesta terceira aventura, o raio até caiu próximo de onde tínhamos visto no passado – no entanto, obteve um resultado um tanto diferente. Mesmo mantendo a qualidade e alavancando a aventura para mais longe, manter os seus pés no “seguro” não traz apenas uma sensação de mais do mesmo, como um senso de repetição que te seguirá por toda a jornada.
Veja bem, não é errado seguir por este trajeto, considerando que o título é uma excelente carta de amor para quem acompanhou a jornada de Reisalin Stout de 2019 para os dias atuais – principalmente após passarmos por uma grande pandemia no meio de toda a experiência. Porém, se você aguarda por novidades estrondosas e algo muito distante do que vimos nos dois anteriores, vai encarar uma dura verdade quando iniciar este capítulo final. Afinal de contas, a alquimia nunca é uma ciência tão exata assim…
O futuro de Atelier Ryza 3
Em Atelier Ryza 3: Alchemist of the End & The Secret Key a palavra-chave que define a experiência é “memória afetiva”. Somos levados novamente para a Ilha Kurken e seus arredores, explorados principalmente em Ever Darkness & The Secret Hideout, porém com o olhar adulto daqueles personagens sobre suas próprias vidas e aventuras.
Basicamente falando, ele te faz voltar ao lar para mostrar o quanto as coisas podem se manter iguais – ainda que sejam adicionados diversos elementos inéditos dentro do que pode vivenciar ali. Tanto em questão dos mapas que exploramos quanto dos personagens que conhecíamos do passado, tudo está “igual”, mas com um rosto diferente. Inclusive, um dos principais chamarizes é justamente a chegada de uma área inédita de mundo aberto, pronta para você avançar e desvendar os seus segredos.
Lá é onde se justifica a entrada de um terceiro game na franquia. Neste ambiente temos vários chefões espalhados, áreas diferentes que podem contar com oponentes inéditos e até mesmo quebra-cabeças que manterão os fãs alertas durante a experiência. Para quem busca novidades e locais distintos do que estava vendo até aqui, essa é a oportunidade de ver o jogo brilhando à sua frente.
No entanto, em relação à trama, Atelier Ryza 3: Alchemist of the End & The Secret Key não vai muito longe em termos de época comparado ao que vimos entre o primeiro e segundo título. Enquanto em um damos um salto temporal de sua adolescência para a juventude, aqui estamos próximos da vida adulta – porém se passaram apenas dois anos no roteiro desde a última aventura.
Isto nos coloca muito próximo dos dilemas vistos no segundo título, gerando um impacto menor do que tivemos entre os dois anteriores. Se antes o choque era geracional, desta vez as coisas atingem você pelo íntimo da nostalgia. Você retorna para a Ilha Kurken e os lugares que visitou no passado, interagindo com alguns personagens vistos no original e até passeando pelos mesmos mapas.
Ainda que tenha uma área totalmente nova e ela seja gigantesca, de tempos em tempos você terá de retornar aos demais locais – seja em busca de elementos para usar em seus experimentos alquímicos ou para ver o desenrolar da história. A parte boa é que gera bastante sentimentos para quem se afeiçoou em Ever Darkness & The Secret Hideout. A ruim é que mais parece uma expansão dele do que um conteúdo completamente isolado.
Uma mistura que faz bem
A partir deste ponto está permitido que se zangue, já que Atelier Ryza 3 e o primeiro estão a quilômetros de distância. O sistema de combates ficou melhor, as formas que você controla Reisalin e seu grupo durante a exploração é mais simples e dinâmica e também temos a adição de diversos elementos que justificariam a sua compra.
Área de mundo aberto, a oportunidade de montar animais pela natureza e sair por aí de forma mais veloz, novas habilidades dentro da skill tree, um enredo mais adulto e diversos outros. É como se você misturasse tudo que há de bom no primeiro com o segundo e tivéssemos em Alchemist of the End & The Secret Key um verdadeiro remix positivo de tudo o que vimos no passado. No entanto, o sentimento de que você está fazendo “mais do mesmo” vai permanecer contigo se tiver jogado recentemente ambos.
Não se engane, se analisarmos friamente o game é bom sim. Eu mesmo fiquei feliz em rever vários ambientes novamente, enxergar as interações inéditas entre a protagonista e os demais personagens – agora como uma jovem adulta e não mais como uma encrenqueira, assim como o gameplay é atrativo o suficiente para manter o público preso ali. Eu só senti, em meio a tudo isso, um grande “deja vú” com as mesmas ideias.
Eu não queria que eles reinventassem a roda, mas o fim só me soa como uma oportunidade da comunidade curtir um último rolê com aqueles queridos personagens sem muito esforço. Grande parte dos monstros são os mesmos de sempre, a animação em Atelier Ryza 3 manteve uma arte dela dormindo da mesma forma como vimos no segundo, os itens não receberam aquele upgrade que impressiona e os padrões para criação continuam o mesmo, sem alterações fortes que adicionem à experiência.
A impressão que tive é “jogue no seguro”, o famoso time que está ganhando não se mexe. Porém, ainda que você não mexa de fato, é preciso um aprimoramento em diversas questões para manter a qualidade de suas vitórias. Vamos colocar um exemplo aqui: você prefere vencer de 7×1 ou de 2×1? Quanto maior a diferença, mais as qualidades se destacam. Aqui ainda enxergo uma vitória, mas apertada se botar em relação ao que vi anteriormente nos demais games.
Com o recurso de recapitulação que há logo no menu inicial, me soa como se estivessem tentando atrair um público inédito justamente para o terceiro game – fazendo-os pular diretamente para o fim da jornada enquanto aqueles que estão no meio dela acabassem ficando com ideias repetidas nas mãos. É a versão definitiva? Com certeza sim. Porém, nada que o seu próprio público não tivesse experimentado antes em mãos.
O desempenho faz a diferença
Vou ser bem sincero, Atelier Ryza 3 me surpreendeu pela sua performance durante a aventura. Tudo acontece de forma veloz no PlayStation 5, inclusive o Modo Foto sem engasgos foi muito bem-vindo. Além disso, a mudança de ambientes e até a presença de diversos monstros na tela não causou quedas de desempenho.
Não há nem o que falar sobre música, vozes, efeitos sonoros e até mesmo o mapa – que continua belíssimo. Realmente é uma versão para unificar tudo o que trouxeram de melhor nos dois anteriores e está aí o resultado: um mundo incrível, cheio de alquimia e cheio de combates para você subir de nível e avançar ainda mais.
Ainda assim, reparei que em determinados momentos o fps cai em cutscenes, o que não fez o menor sentido para mim. Este é o tipo de game que tem “quebra” entre o gameplay e estas cenas, então não vi justificativa para defender o rosto da protagonista tremendo como se estivesse em um terremoto quando estava tudo centrado – por exemplo. No entanto, não acho que isso seja um grande problema e uma atualização no futuro pode resolver a questão sem dores de cabeça.
Ainda que ele carregue sua própria excelência, um jogo precisa de diversos elementos para encaixar e se fazer um sucesso. Atelier Ryza, tanto o primeiro quanto o segundo, me fizeram vibrar. O terceiro me soou apenas como uma tentativa apressada da Koei Tecmo e da Gust de trazerem logo o grand finale da trama dela, mas sem um grande cuidado que a situação merecia – nem mudanças que poderiam ter acrescentado ao que já vimos nos games anteriores.
Caso queira jogar, saiba que ele é uma versão excelente de tudo de bacana que os títulos carregaram consigo. Se já jogou, recomendo dar tempo e esquecer um pouco dele, para retornar futuramente e poder aproveitar melhor tudo que estão oferecendo. Se é para ter a “mesma sensação” do que teve recentemente, caindo na repetição, vale mais aguardar e deixar este vinho envelhecer. Agora não caiu bem, mas quem sabe se tivessem demorado um pouco mais?