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Assassin’s Creed Shadows, o novo capítulo da icônica série de ação e stealth da Ubisoft, finalmente levou a franquia para a aguardada ambientação no Japão feudal. Com dois protagonistas distintos, Yasuke e Naoe, os jogadores poderão combinar a proposta inovadora para a jogabilidade aos elementos históricos através de uma narrativa envolvente.

Essa nova história que acrescenta dados ao Animus é marcada pela introdução de novas mecânicas que aprimoram o cerne da experiência que a franquia possui em seu DNA: a furtividade e o combate. Naoe, como uma shinobi, carrega o stealth e utiliza a clássica visão de águia para detectar inimigos escondidos, enquanto Yasuke, com sua armadura pesada, é mais propenso ao combate corpo a corpo.

Assassin's Creed Shadows

Dois lados de uma mesma moeda que trabalham juntos para fazer de Assassin’s Creed Shadows o jogo mais cinematográfico da franquia ao mesmo tempo em que carrega a difícil missão de ser um sucesso no mercado. Uma tarefa nada fácil, mas que pode ser alcançada pela maneira como os desenvolvedores acertaram ao fazerem um jogo gigantesco ao mesmo tempo em que é simples e interessante.

Um dorama épico

A partir de uma parceria nada provável, a história de Assassin’s Creed Shadows se passa no turbulento período Sengoku do Japão, marcado por guerras civis e trocas culturais com a Europa, escancarando a influência européia no país mais recluso da ásia. O jogo segue as jornadas de dois personagens principais: Naoe, uma shinobi fictícia e filha de Fujibayashi Nagato, líder de um clã ninja inimigo de Oda Nobunaga, enquanto do outro lado conhecemos Yasuke, um negro escravizado pelos europeus e que se conquista a confiança de Oda Nobunaga, deixando a missão jesuíta e tornando-se parte do seu exército de samurais.

Assassin's Creed Shadows

O desenvolvimento da narrativa acontece ao redor de Naoe Yasuke, Tomiko e Junjiro, numa aliança conhecida como Liga da Lâmica Oculta, a Kakushiba Ikki, que se unem para trilharem uma jornada de vingança e renovação, derrotando inimigos poderosos e recrutando novos personagens para essa nova liga. Enfrentando o grupo dos Kakushiba, o jogo explora temas sobre conspiração, intriga e espionagem, mantendo a rica tradição de mistério e conteúdo histórico-cultural que a série Assassin’s Creed possui como característica, inclusive adicionando um modo imersivo em que todos os diálogos do jogo acontecem em japonês e somente as narrações seguem no idioma escolhido.

Diferente dos demais jogos da franquia, Assassin’s Creed Shadows explora muito mais o uso das cutscenes para contar suas histórias e aposta ainda mais em missões que aprofundam a história de cada um dos personagens, tanto principais como secundários, para construir uma trama de acontecimentos que ligam questões sobre o feudalismo japonês, a busca por poder entre os nobres e guerreiros, e as disputas entre os grupos e províncias, sem se esquecer de montar o quebra-cabeça em torno da guilda dos assassinos.

Assassin's Creed Shadows

Essas escolhas para a construção dos personagens e o desenvolvimento da história tornaram Assassin’s Creed Shadows muito interessante que seus antecessores, deixando de ser apenas uma aventura qualquer para ser jogada. No entanto, talvez esse seja o jogo menos “Assassin’s Creed” da franquia. Se olharmos para a evolução através dos últimos títulos, Shadows se mostra muito mais competente em realmente ter uma história interessante para contar. Isso também não isenta a narrativa de se apoiar em clichês, mas que conseguem manter nosso interesse pelo desenvolvimento de Naoe, Yasuke e os demais personagens, seja por meio de bons plot twists ou atuações típicas de um live action japonês.

Meu caminho ninja

A jogabilidade em Assassin’s Creed Shadows volta a ser mais fácil em detrimento ao gameplay frenético como tínhamos até Syndicate, deixando de lado o estilo “souls like” e mais cadenciado, baseado em defesa e esquiva, que Origins, Odyssey e Valhalla possuem. O retorno do parkour facilitado acompanha as novas mecânicas de stealth, adicionando a capacidade em se esconder nas sombras e com uma “barra de visibilidade” que pode ser influenciada pelas condições climáticas ou geográficas da região. Naoe é veloz e os controles respondem muito bem aos comandos, sendo fácil criarmos nossas próprias sombras ao destruírmos lanternas ou apagando chamas, adicionando uma camada tática à navegação furtiva. Adicione isso ao seu arpéu, estilo de gancho com kunai, para ampliar a agilidade da shinobi ao alcançar locais mais altos ou distantes.

Assassin's Creed Shadows

Por sua vez, Yasuke possui mecânicas mais focadas no combate direto, com ataques pesados e poderosos, refletindo sua estrutura corporal e personalidade de samurai. Ele é capaz de desferir ataques pesados e brutais com sua katana, além de usar um kanabo (espécie de bastão cravejado de pontas metálicas) para golpes devastadores. Se movimentar com Yasuke é mais desafiador e as habilidades de assassinos não estarão disponíveis, porém nada impedirá que você suba até o topo de um castelo e presencie uma grata surpresa ao tentar executar um salto de fé.

O equilíbrio entre o stealth e o combate corpo a corpo carrega diversas habilidades para serem desbloqueadas e que dependem também de missões secundárias para obtenção de conhecimento, não apenas subindo de nível. Sem contar o uso de uma quantidade limitada de armas, mas que oferecem jogabilidades distintas e combos em conjunto ao combinarmos a katana longa, naginata, arco e flecha, e teppo, de Yasuke, ou a Katana, Tanto e sua lâmina de assassina, Kusarigama e as ferramentas ninja, como shuriken, kunai e bombas, que Naoe carrega. Junte isso ao estilo de movimentação de cada um dos personagens para ter uma boa camada estratégia para entrar sem ser percebido e conseguir escapar com vida ou invadir arrombando a porta da frente.

Assassin's Creed Shadows

A defesa e esquiva ainda estão presentes e são fundamentais no combate, com Naoe sendo mais frágil nesse quesito e Yasuke abusando de sua armadura, porém não determinam a cadencia em como você enfrenta os inimigos. O foco em Assassin’s Creed Shadows está além do combate, priorizando a experiência que você tem durante a jornada até os pontos determinantes da história e como a narrativa constrói os assassinatos, seja na porrada desenfreada ou pelas sombras. Até por isso ela oferece essas duas opções de jogabilidade, para você prestar atenção na história e não ficar horas tentando invadir um castelo por um ponto específico. Para muitos talvez um retrocesso, mas para mim uma maneira mais divertida de jogar.

Atualização no Animus

Para quem jogou Rise of the Ronin ou Ghost of Tsushima, Assassin’s Creed Shadows carrega muito desses jogos e em alguns momentos parece um déjà vu, porém ele brilha ao conseguir encontrar seu próprio tom: simplificar as mecânicas de combate, criar missões secundárias que vão muito além de trilhar um caminho entre dois pontos ou apenas coletar itens, além de oferecer personagens que conseguem desenvolver uma história carregada de sentimentos, muito por conta das diversas cutscenes ao longo do jogo espalhadas entre as dezenas de missões pelo imenso mapa.

Assassin's Creed Shadows

Bastou os desenvolvedores internalizarem a necessidade de observar ao redor em busca dos pontos de interesse que tínhamos em Breath of the Wild para criarem uma mecânica de observação. Utilizando o L2, temos uma clara evolução em Assassin’s Creed Shadows no uso dos antigos “pontos de sincronização”. Agora não basta mais subir até o topo de algum lugar para abrir seu mapa, você precisará visitar certos locais e utilizar o “Observar” para coletar informações ou identificar pontos de interesse (através de pequenos pontos luminosos) para explorar em busca de continuidade para suas missões. Como apoio você conta com algumas pistas que apontam localidades do mapa, mas que exigem sua investigação, indo até o local ou utilizando batedores, NPCs que você recruta para tarefas diversas.

A nova geração faz com que Assassin’s Creed Shadows brilhe ainda mais, com gráficos impressionantes graças à atualização do motor Anvil. A inclusão de iluminação global em tempo real (RTGI) cria um ambiente visualmente deslumbrante, com sombras dinâmicas que afetam a visão dos inimigos, além da maneira como as condições climáticas ou estações transformam completamente os locais e paisagens. Todas as regiões do mapa não são genéricas ou vazias, traduzindo a real condição da época e com NPCs por todos os lados, inclusive na construção de locais históricos como, por exemplo, o castelo de Osaka.

Assassin's Creed Shadows

Sem ficar para trás, a trilha sonora consegue explorar a equipe diversificada de compositores, que já trabalharam com a franquia, proporcionando uma experiência sonóra única, seja quando paramos para ouvir o ambiente ao nosso redor ou com músicas que crescem em momentos épicos, seja em batalhas ou acontecimentos importantes. O “Theme of Shadows” é uma prova e amostra isolada da qualidade que o jogo oferece sem se apoiar em clichês como, por exemplo, shamisen, koto ou qualquer outro instrumento típico.

Por último, mas não menos importante, os desenvolvedores mantiveram missões ligadas ao Animus e toda trajetória que ainda exista (por algum motivo inexplicável), mas sem a Indústrias Abstergo, para criar o Animus Hub e ligar os últimos jogos com recompensas obtidas através de Memórias, Projetos, Permuta e Câmara. No entanto, melhor do que essa tentativa de retcon e conexão entre os jogos da franquia, foi presenciar o trabalho de pesquisa histórico-cultural sobre o Japão, tendo um conteúdo rico de informações durante o jogo. Ao invés de ser apenas uma missão que não mostra o desenvolvimento de elementos culturais como, por exemplo, uma simples cerimônia do chá, desenho ou origami, agora você poderá jogar, assistir e aprender sobre essas questões durante a história.

Assassin's Creed Shadows

Assassin’s Creed Shadows ainda erra em pequenos bugs de movimentação e combate, nada comparado ao passado, mas principalmente na movimentação com cavalo e a falta do cavalgar automático, provando que os adiamentos realizados pela Ubisoft ajudaram na entrega de um título mais polido e coeso. Com sua história interessante, personagens carismáticos, gráficos impressionantes, e trilha sonora envolvente, o jogo está pronto para capturar de volta os fãs da franquia e apostar num novo público que busca por mais sobre a história do Japão. Talvez a “fantasia final” da Ubisoft esteja entre nós e consiga dar um respiro para que a franquia revigore e mantenha-se viva por mais um tempo.

86 %


Prós:

🔺 Ambientação no Japão feudal e como explora a história e cultura
🔺 Alternar a qualquer momento entre dois protagonistas
🔺 Estilos distintos de gameplay entre Naoe e Yasuke
🔺 Combate mais simples e divertido
🔺 Novas mecânicas para furtividade
🔺 Gráficos impressionantes e visual detalhista
🔺 História interessante com narrativa bem desenvolvida
🔺 Mecânica de observação ampliando a exploração

Contras:

🔻 As missões poderiam ter indicações entre qual personagem ser mais indicado
🔻 Pequenos bugs ainda causam o fechamento do jogo (até a data de lançamento)
🔻 Sentimento de repetição para os fãs mais antigos da franquia
🔻 Combate fácil pode afastar quem começou a partir do Origins
🔻 IA dos inimigos ainda é simples demais
🔻 Problemas na movimentação com cavalo

Ficha Técnica:

Lançamento: 20/03/25
Desenvolvedora: Ubisoft
Distribuidora: Ubisoft
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series
Testado no: PS5