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Desde que o subgênero soulslike teve sua grande estreia em 2009, acho que ninguém nunca imaginou que um dia poderia jogar um jogo protagonizado por um caranguejo dentro desse estilo. Demon’s Souls nos introduziu a um universo melancólico e brutal, criando uma geração de gamers obcecados por combates épicos e extremamente difíceis. Já Another Crab’s Treasure nos coloca em uma versão fofinha e cartunesca do fundo do mar – mas sem abrir mão de toda essa brutalidade!

Sou um grande fã de Going Under, então desde que a Aggro Crab anunciou seu próximo projeto, já fiquei muito interessado. Another Crab’s Treasure tem tudo que faz os jogos deles serem tão bons: um estilo visual colorido e carismático, combate refinado, críticas sociais e um humor muito ácido. Não menos importante, esse provavelmente é o soulslike mais acessível de todos, então a dificuldade alta não é mais desculpa para ninguém!

Diretamente da Fenda do Biquíni

Em Another Crab’s Treasure, assumimos o papel do caranguejo Kril, um crustáceo muito introvertido que só queria viver uma vida pacata, longe dos outros seres marítimos. Contudo, sua sorte vira de cabeça para baixo quando uma nova duquesa assume o controle dos mares e começa a cobrar impostos sobre o direito de propriedade. Sem dinheiro para pagar seus tributos, o pobre Kril tem sua concha confiscada e parte em uma jornada para recuperar sua casa.

Por aí já dá para ver como a Aggro Crab mais uma vez conseguiu balancear suas boas doses de humor com críticas sociais relevantes. Going Under era uma sátira às culturas tóxicas de trabalho da sociedade moderna, enquanto Another Crab’s Treasure aborda os impostos abusivos que também fazem parte da nossa realidade – além de outra pauta ainda mais importante: a degradação ambiental.

Nesse universo, os peixes passaram a usar todo o lixo dos mares como moeda de troca, utilizando como dinheiro ou até mesmo vestimenta. O problema é que o lixo também vem causando mutações bizarras na vida marinha, espalhando uma infecção conhecida como “gosma”. No papel de um guerreiro predestinado a colocar um fim à praga, nosso caranguejo receberá diversos poderes e ainda poderá tirar proveito de todo esse lixo.

A história do jogo é leve e descontraída, mas não falha em transmitir suas mensagens. Apenas senti falta de ter mais diálogos dublados, pois achei a escolha das vozes excelente; infelizmente, apenas as cutscenes possuem dublagem, enquanto a maior parte das conversas se desenrolam em caixas de textos.

A boa notícia é que o jogo está totalmente localizado em português – e devo dizer: que localização incrível! Existem diversos termos criados especificamente para o jogo que foram brilhantemente adaptados aqui, deixando tudo ainda mais engraçado.

Crablike

Passando para a parte do gameplay, Another Crab’s Treasure traz todas as mecânicas mais básicas de um soulslike, incluindo bloqueio, esquiva, ataque fraco, ataque forte etc. Entretanto, assim como em Sekiro, ele não possui o clássico sistema de stamina dos jogos da From Software, permitindo que os jogadores adotem uma abordagem mais agressiva. Aqui você não precisará se preocupar em administrar seus movimentos para poupar o vigor do personagem, tendo a liberdade de agir de forma ilimitada e totalmente descuidada.

O combate do jogo é bem competente e não deixa de ser desafiador, especialmente nas batalhas contra os chefes. Assim como em qualquer outro jogo do gênero, é muito comum levarmos uma sova para qualquer tipo de inimigo, nos forçando a se adaptar e testar novas estratégias continuamente. Sempre que morremos, voltamos para o último abrigo de concha encontrado pelo caminho, perdendo todo o XP acumulado – mas ainda tendo a possibilidade de recuperá-lo, caso você alcance o local onde morreu previamente.

O maior destaque do combate está na mecânica das conchas, que é o maior diferencial de Another Crab’s Treasure em relação a suas inspirações. Kril pode equipar qualquer pedaço de lixo nas costas, não somente servindo de escudo, mas também garantindo habilidades inéditas. São mais de 50 conchas diferentes e cada uma proporciona um poder diverso para se usar nas batalhas; para deixar ainda mais legal, elas quebram com o tempo, nos forçando a procurar novas e adaptar a estratégia de acordo com o que estiver disponível no momento.

Dito isso, nossa preocupação não será apenas sobreviver, mas também aprender a tirar máximo proveito de cada tipo de concha – além dos poderes exclusivos que vamos desbloqueando ao avançar na história. No caso daqueles que não são muito habilidosos ou simplesmente não gostam muito do gênero souls, ainda é possível ativar o modo de assistência, que permite customizar a dificuldade à vontade.

Com assistência ativada, você pode aumentar seu dano, reduzir a vida dos inimigos, melhorar sua resistência e até mesmo equipar uma concha de revolver em Kril, sendo de longe o acessório mais overpower do jogo. Além de ser muito engraçado ver o caranguejo andando com uma arma gigante nas costas, você ainda pode atirar infinitamente com ela, matando qualquer inimigo com um único hit (inclusive chefes). É óbvio que isso acaba com a graça do jogo, sendo mais um recurso para quem quer “tirar onda”, com perdão do trocadilho.

Explorando o fundo do mar

Diferente da trilogia Dark Souls, a exploração de Another Crab’s Treasure se assemelha mais a Elden Ring, trazendo mapas abertos e extensos, sem nenhum tipo de auxílio de navegação. A proposta aqui é sair explorando as diversas regiões do jogo como der na telha, interagindo com NPCs e descobrindo as coisas por conta própria. Até temos um mapa para consultar, mas ele não chega a ajudar tanto quanto deveria.

Particularmente, não gostei muito da exploração do jogo. Os mapas não chegam a ser tão grandes, mas eu consegui me perder em todos eles, simplesmente porque transmitem a impressão de que estamos andando em círculo o tempo inteiro. A ausência de indicadores de direção é péssima e, na maioria das vezes, tudo que eu estava procurando estava bem debaixo do meu nariz. Não sei se foi intencional ou se é apenas uma falha de level design, só sei que não funciona tão bem como em Elden Ring.

Já o visual se mantém dentro do padrão Aggro Crab, com personagens bem cartunizados e cores muito vivas. A sensação que dá é que estamos jogando algum spin-off de Bob Esponja, devido às semelhanças do estilo artístico com desenhos animados. Contudo, ainda senti falta de uma trilha musical mais presente; todas as músicas aqui são muito discretas e passam batidas na maioria das vezes, principalmente pelo fato dos efeitos sonoros se sobressaírem o tempo todo.

Another Crab’s Treasure é um jogo divertido e um soulslike surpreendente, tanto para veteranos quanto para novatos. Após muitos pedidos, finalmente temos um título do gênero que qualquer pessoa pode aproveitar nas mesmas proporções, sendo simpático na proposta, mas extremamente desafiador para quem deseja uma experiência mais fiel ao estilo. Seja para testar seus limites ou simplesmente para uma diversão descontraída, esse é um game para todos!

82 %


Prós:

🔺 Uma verdadeira experiência soulslike com mecânicas exclusivas
🔺 Sistema de conchas é criativo e deixa o combate mais dinâmico
🔺 Traz várias críticas sociais com um humor bem leve
🔺 Diversas opções de assistência para quem não é acostumado com o gênero
🔺 Visual simpático que remete a desenhos animados

Contras:

🔻 A exploração é confusa e pouco instigante
🔻 A dublagem poderia ser mais presente
🔻 Possui algumas quedas pontuais de framerate

Ficha Técnica:

Lançamento: 25/04/2024
Desenvolvedora: Aggro Crab
Distribuidora: Aggro Crab
Plataformas: PS5, Xbox Series, Switch, PC
Testado no: PS5

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