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Sejam todos bem-vindos, meus maculados. Eu vos contarei uma história, uma longa saga qual percorri atrás do Anel Pristino, ou Elden Ring se achares melhor. Espero que estejam confortáveis e dispostos a abrir suas mentes para uma das maiores obras-primas feitas pelos estúdios FromSoftware, esta qual tive o prazer de me aventurar e ter uma jornada memorável. Isso também se repetirá com vocês, contanto que permitam que assim seja. Basta que não desistas na primeira derrota. Nem na centésima…

Para iniciarmos, é bom deixarmos claro que há várias semelhanças entre o mundo real e este lugar caótico e sem escrúpulos. Todos começamos sem nome, sem um destino escrito em pedra ou sequer sabendo o que vamos encontrar. A partir disto seremos guiados, do despertar até a sua queda em combate. Não te preocupes, todos cairemos. É tão inevitável quanto respirar. Porém, aqui lhes pergunto quantos voltarão a se levantar após serem humilhados e pisoteados pelos inimigos. Pois isso fará toda diferença, para o bem e para o mal.

Pronto ou não, esta realidade escrita pela mente deturpada e com uma imensa criatividade de George R.R. Martin vai engolir a todos em um espiral de batalhas, glória e morte. Não ouse questionar, pois todas as vidas tem um fim. Você pode tê-lo encontrado em Sekiro, Bloodborne ou até em Dark Souls, mas aqui, irmãos e irmãs, acharemos e seremos abraçados por ele. Isso até voltarmos a renascer e cavalgar novamente pelas terras de Limgrave.

Imagem do review de Elden Ring
Levanta maculado, esse texto nem começou ainda!

Atrás do meu Elden Ring

Antes até mesmo de pisar no território de uma das maiores aventuras de 2022, foi me dada a primeira opção que viabilizasse o progresso em Elden Ring: a criação de sua persona. Aqui é onde pode fazer a única escolha segura de todo o título: sua classe e imagem pessoal. Se você faz parte do time de fascinados por personalização, já amará os recursos sem nem ter começado a correr pelos campos verdes. Porém, já lhe adianto que a dificuldade começa por aqui, até encontrar um rosto e semblante semelhante ao seu demorará eras.

Já em Limgrave, uma das maiores sensações que poderia transmitir é a liberdade oferecida. Poderá respirar o ar selvagem de toda a região, correr abertamente para onde desejar e aproveitar os cenários que estão graficamente impressionantes. Assim como o meu sangue voando por todo o verde da grama, por não ter conseguido correr a tempo de um imenso cavaleiro dourado que cavalgava ali próximo à área onde iniciamos. Posso afirmar com toda certeza que até mesmo a minha queda foi maravilhosa, ainda que a plataforma de teste tenha sido o PlayStation 4.

Bom, precisaria de mais do que isso para me obrigar a desistir de minha jornada. Para minha sorte, já tinha pisado naquela terra em um passado não tão distante e me recordei de alguns locais de interesse quais poderia usar para aumentar de nível sem muitos problemas. Rolei ali, bati com minhas espadas duplas de guerreiro em meia dúzia de oponentes, me agachei para desferir um golpe fatal sem ao menos ser percebido e me movi com perfeição para o grandioso baú que guardava um item especial para mim.

Imagem do review de Elden Ring
Apreciei a paisagem e morri no processo

Como vocês dizem em ditados populares, não era amor, mas sim cilada. Elden Ring não está apenas mortal, mas também sem o menor pudor aceitável. Após vinte minutos avançando com todo o cuidado e atenção possíveis, com risco zero de algo dar errado, o tão sonhado baú me teleportou para uma área extremamente distante do game. Adivinhe só? Também muito mais perigosa e desregulada do nível baixo do qual me encontrava. Morri mais algumas porções antes de fugir dali e posso lhe dar o veredito de antemão: eu amei.

Pois é maculados, se isso significa masoquismo então estaremos todos no mesmo barco. Seja caindo de um penhasco, sendo pisoteado por uma torre que caminha sobre pedras, sendo erguido por uma lança pelo oponente, atropelado por um certo chefão que cavalga pela noite ou qualquer outra razão, será incrível e marcante. E se ainda duvida disto, aguardarei pelo dia 25 de fevereiro pela sua vez de passar por tudo isso e mais um pouco para vir comentar. Isso se quiser largar o controle, coisa que tenho a certeza absoluta que não desejará fazer.

Imagem do review de Elden Ring
Se este não é o verdadeiro Barão da Pisadinha, então quem é?

Um mundo gigantesco de dor e sofrimento

Visitar Limgrave é outra grande maravilha que acabará experimentando em sua jornada. Basicamente todas as áreas estão liberadas desde o início, reservando paisagens incríveis e que estão recheadas de coisas que desejam ver a sua morte. Grandes lagos, pontes onde está acontecendo uma grande tempestade, uma floresta cheia de árvores mortas e com o céu todo vermelho, pântanos e uma variedade de locais escondidos por toda a região. Perdi as contas de quantas escadas achei no meio de construções destruídas ou em bases inimigas que me levavam a ainda mais descobertas. Só não direi se são boas ou ruins, deixarei para vocês verem com seus próprios olhos.

Porém, a melhor parte de Elden Ring para mim é o mapa ser parcialmente fechado para visualização. Conseguirá enxergar os Pontos de Graça que visitou, algumas construções que adentrou, mas nada além disso. Quer vê-lo por completo? Terá de lutar para isso também. Em alguns casos, estará disposto em alguma área aberta e sem perigos ao seu redor. Em outros, terá de encarar uma verdadeira invasão nas bases inimigas para poder pegar um pedaço dele. Ou seja, até isto envolve o seu merecimento. A sabedoria nunca é gratuita, não é?

Além dos chefões obrigatórios, também temos inúmeros espalhados por várias áreas diferentes. Quem jogou a demonstração no ano passado lembra bem do dragão que mata todos em um acampamento e começa a te atacar. Ele não é o único. Em poucas palavras para não revelar spoilers, tive vários problemas em certos locais de Elden Ring, como em um espaço tranquilíssimo e sem a menor sombra de inimigos. Quando saí de uma das casas, tinha um verdadeiro exército de esqueletos e um grande oponente me esperando do lado de fora. Ou enfrentando uma parada completa e, de repente, ao anoitecer uma nova ameaça surgiu em minha frente.

Imagem do review de Elden Ring
A beleza do mapa impressiona e esconde ameaças enormes

O ambiente contribui muito para isto e este é o tipo de jogo que se você não estiver alerta, você está morto. Não há meio-termo. Porém, a recompensa de tudo isso é um espetáculo à parte. Se sobreviveu ao combate de um deles e venceu, pode ter a certeza absoluta que foi por puro mérito seu e o prêmio vai te compensar. Seja por runas para aumentar de nível ou itens especiais, você montará o set do personagem com uma vasta leva de armas, armaduras, estilos, magias e várias adições que foram realizadas e que vão fazer toda a diferença no gameplay.

O principal de Elden Ring é que cada estilo é muito distinto do outro, abrindo um leque que permitirá que explore os seus próprios dons dentro disso. Se não está dando certo de um jeito, há espaço para tentar uma nova abordagem. Acabará testando um set diferente, trocando apenas uma arma, alterando as cinzas equipadas ou o que decidir. Não é apenas o mundo que é aberto por aqui, mas sim todas as possibilidades que terá em seu caminho. A única exigência feita é que tenha capacidade de sobreviver àquilo que está em sua frente. E eu sei exatamente que cada um de vocês tentará de tudo para se provar nisso. Aconteceu comigo também.

Imagem do review de Elden Ring
Há batalhas monstruosas e tudo vai depender se domina ou não seu estilo

Essa é a sua história

Caso você me questione, o jogo tem uma lore. É uma trama que se repetirá com todos nós, como a aparição de Melina, a caça ao Anel Pristino, a entrega de Torrente ao maculado e diversos outros elementos espalhados pelo mapa. Porém, eu posso ser sincero? Essa é, de longe, a menor de suas preocupações conforme avança por Limgrave. Não é como se eu dissesse que isso tudo não importa, principalmente por eu amar RPGs e este ser um ponto no qual eu presto bastante atenção. O problema é que no meio de tudo, a história se tratará sobre você e nada além disso.

Não é o maculado que está levantando após tomar três hits de um inimigo sinistro, restando pouco HP e com esperanças de se afastar um pouco dele para se curar e tentar outra estratégia. Não é ele cavalgando pelos cenários e admirando a sua beleza. Com certeza não será ele voltando ao Ponto de Graça pela vigésima vez e pensando “eu vou voltar lá e derrotar aquilo agora”. A quem vamos enganar, essa é a mais pura essência dos videogames: a imersão. E vou te garantir, creio ser virtualmente impossível você não estar totalmente imerso em Elden Ring em questão de 2 ou 3 horas no máximo.

Com o risco de ser uma comparação injusta, acredito que a FromSoftware produziu um conteúdo até melhor do que o carro-chefe da PlayStation, Horizon Forbidden West. Não digo em questão de gráficos, gameplay e tudo mais que você até cansou de ver nos trailers e já sabe da qualidade sem ao menos ter encostado previamente nele. O grande ponto foi ter conquistado o jogador em cada um dos detalhes e trazer uma vontade latente de se erguer e tentar de novo. Independente do que o tenha derrubado ou da diferença de forças. Se este é o que realmente buscou, aqui encontrará.

Imagem do review de Elden Ring
Aqui um exemplo de como eu estava imerso no chão

Falando em procurar, ouso comentar aqui que eu não estava caçando uma dificuldade maior daquela que vi em Sekiro: Shadows Die Twice e da demonstração de 2021. Com o perdão da informalidade, meu irmão, nunca tomei um couro nos videogames na proporção que experimentei em Elden Ring. Esse review foi parte derrota, humilhação e a desenvolvedora jogando na minha cara de que eu não sou tão bom nisso quanto gostaria. Mas quer saber? Isso não me afetou, eu continuo escalando em direção de desafios maiores e vencendo alguns deles. Os que não rolam dessa forma, é só questão de tempo até resolver.

Nossa, mas espera um minuto: estou chegando ao fim do texto sem reclamar de absolutamente nada? Preciso mesmo dizer que o lançamento completo dele só comprova aquilo que a demo já tinha firmado entre os jogadores? Este título é um espetáculo e conseguiu equilibrar muito bem tudo que o Soulslike conquistou até os dias atuais com a experiência ideal de mundo aberto. Eu acabei vendo alguns glitches rolando na versão de PlayStation 4, mas também sabemos que há uma atualização de Day One e até as seguintes que podem consertar isso. Admito que nem me incomodou, para ser bem sincero.

De qualquer forma, se você for um fã do trabalho da desenvolvedora ou estiver muito empolgado em Elden Ring, pode comprar sem medo algum. Ele vai entregar tudo e mais um pouco para quem teve a paciência de aguardar até aqui. E lembre-se, independente de quantas vezes você caia em combate e não veja opções de vitória, sempre há uma brecha esperando para ser descoberta. Contanto que isso esteja em mente de forma clara e firme, não há desafio intransponível à sua frente.

Review – Liberté

Rafael NeryRafael Nery09/12/2024