Quando anunciado, Windscape chegou a fazer barulho já que se dizia inspirado em The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Secret of Mana e Golden Axe Warrior. Em 2016, teve um acesso antecipado e reviewers o apontaram como um jogo em potencial, mas com muita coisa a ser melhorada. Os anos se passaram, 2019 chegou e a Headup Games enfim lançou o game.
O que vi e o que passarei para vocês é baseado naquilo que joguei e, posteriormente, li acerca desta versão de três anos atrás a fim de criar o comparativo e notar alguma evolução. De antemão afirmo: se as inspirações foram excelentes, pararam no momento em que Windscape foi criado.
Bem-vindo ao mundo aberto
O jogo é uma aventura de exploração em primeira pessoa. Repleto de crafting e com elementos que consagraram Minecraft, o sandbox ofertado para nós parece promissor, belo e interessante. A jornada começa na fazenda dos pais da protagonista, Ida, que pela primeira vez na vida irá explorar o universo lá fora. Lá acontece um rápido tutorial sobre as mecânicas básicas e a maneira como se utilizam itens, menu etc. Finalizando tais ações, é dada a tarefa de levar um item a um mercador na cidade. O pai logo avisa: tome cuidado com os perigos que estão por ai. E que perigos! Eles começam cedo, logo na história.
Windscape tem como roteiro principal a descoberta do que está rolando com as ilhas voadoras que dominam o céu do jogo; são quatro, cada qual possuindo seu bioma, criaturas e desafios. O ponto é que não somos entregue a isto de maneira coesa devido ao péssimo modo como o jogo foi roteirizado. Caso seguisse apenas a orientação dada pelo NPC pai, tão cedo não iria saber da história que cerca este mundo, pois de missão em missão, histórias paralelas são apresentadas sem nem ter ligação com o enredo principal.
Conheci o real intuito de Windscape a partir de um caminho paralelo daquela primeira missão, em que encontrei Galilei, um estudioso senhor que me conta sobre o que o próprio jogo deveria me dizer logo de cara. Caso não fosse minimamente curioso ou explorador, nada disso teria acontecido.
Já não te vi por aqui?
Pois bem. Chegando à cidade, somos recebidos por um rapaz correndo em um circuito, cujo papo é ensinar o botão de correr. Isto depois de: descobrir como funcionam os save points, batalhar com lobos e abelhas, conhecer uma caverna, além de mudar o caminho e encontrar o tiozinho preocupado com os problemas acima de nossas cabeças. Timing completamente errado.
Seguindo então o caminho, encontro dois seguranças parados no portão. O que chama atenção é que os rostos deles são iguais. Imaginei que fosse uma mera coincidência… só que não. Quanto mais se conhece o jogo, mais se vê conteúdo preguiçoso. É extremamente comum encontrar NPCs idênticos, sem mudar nem ao menos a roupa. As vezes se mudam a cor dos olhos ou cabelos e só.
Tão comum quanto, serão as ações pré-definidas. Ao parar para observar a vida no game, nota-se que não há vida e sim personagens escriptados que não reagirão de outra maneira a não ser aquela. Um bom exemplo é o que acontece em uma feira: todos só andarão em círculos e nada mais. Caso algum deles decida parar, será literalmente arrastado pelos outros. Outra bizarrice é que vários estarão travados, olhando para a parede como se estivessem de castigo.
“Inteligência” artificial
Concluindo a tarefa dada pelo pai, somos ofertados com uma quest: salvar um habitante que está nas mãos de ladrões escondidos em uma mina. Munido de um escudo e um porrete de madeira, parto em busca do resgate.
Todos os combates são tediosos e as reações dos adversários são as mais bisonhas possíveis. Eles sempre terão um tempo certo para atacar, não importa o que aconteça. Se esconder ou plantar estratégias não fazem parte do vocabulário deles. Ao verem Ida apenas a seguirão e pronto. Até tentei fugir desta mesmice, mas é impossível.
Será então que com os chefes a coisa melhora? Seguindo o roteiro dos NPCs, todos estarão escripitados. O primeiro, nesta missão da mina, possui como arma um TNT que sai das costas (?) e cai atrás dele. O ataque acontecerá primeiramente fazendo um trajeto em círculos para depois traçar uma linha reta. Ciente das dificuldades técnicas de Windscape, fiquei na frente dele e fui literalmente carregado, sempre o atacando durante o passeio. Depois de um tempo, o boss muda de ideia e ataca com um porrete. Faz isso por algumas vezes e volta a andar da maneira anterior.
Mais para frente enfrentei outro boss. O cenário dele possuía espetos que saiam do chão de segundos em segundos. Novamente utilizando as deficiências que Windscape oferece, matei ele e todos seus seguranças ao andar próximo dos espetos. Como eles só me seguem, tal morte foi um retrato de como funcionam as coisas por aqui. Decepcionante.
Tudo nivelado por baixo
Sendo graficamente estranho, ainda é possível encontrar cenários bem pensados, onde consegue-se certa imersão. Entretanto, tratando-se de um título de 2019, não é bem feito e acabei o comparando com Twinsen Odyssey: Little Big Adventures, jogo de 1997.
Os controles são simples e não atrapalham. O menu do player é ok e a forma como caminhamos por ele não traz ingratas surpresas. Pode até se apresentar confuso no começo e a maneira como utilizamos os itens não é das melhores. Mesmo assim, com o tempo se acostuma.
A música, pelo menos, é um ponto fora da curva em todo o conteúdo. Acabam sendo chatas nas batalhas, pois são sempre as mesmas e começam assim que um adversário te vê. Já durante todo o resto não são ruins. Trazem composições bem feitas que misturam medieval e sons relaxantes. Foi inclusive o que mais chamou minha atenção. Pena que de bom só tem a soundtrack (mesmo assim com suas ressalvas).
Problemas em todo canto
Após algumas horas, recordei da cena de abertura. Ela apresenta exatamente aquilo que está por vir, eu que não sabia. Em uma tomada aérea, parte do local em que iniciamos a jornada é mostrada. De cara já há demora na renderização, nas texturas e um pouco de queda de framerate.
As programações, como já dito, são todas atrasadas. Me pergunto o motivo de estarem daquela forma. Quanto mais se joga, mais a impressão de que se trata de um jogo inacabado vem em mente.
Os NPCs, sem reações naturais, olham fixamente para você, não importa aquilo que estiverem fazendo. É assustador. Sabem aqueles pesadelos onde você chega em um local e todos te encaram sem mais nem menos? Aqui o sonho ruim acontece a todo momento.
Escape deste vento o quanto antes
Tentei encarar Windscape da melhor maneira possível. Em conversa com nosso editor-chefe, até levantei a hipótese deste ser um jogo para crianças de três a seis anos, tamanha falta de conteúdo, erros primários e rasa história. Foram longos dias de jogatina frustrada. Passei por cemitérios, castelos, céus, florestas e minas. Enfrentei zumbis, humanos, lobos, abelhas, dragões, cobras e chefes. As ilhas trazem neve, desertos, cenários tropicais e chuvas. Nada me animou tanto quanto a possibilidade de não recomendar Windscape.
O game é uma bagunça generalizada. Se é baseado em pesadíssimos títulos como Zelda, a impressão deixada é que não pegaram o Breath of the Wild como base, mas sim Zelda: The Wand of Gamelon. Tão horrível quanto.