“Twin-stick shooters”: eis que nos encontramos novamente, meu velho inimigo. Demorei um tempo para perceber, mas Trifox se encaixa no gênero, ainda que tenha um viés completamente fora da curva, em termos de atmosfera. O gênero que sempre foi marcado por soldados sarados detonando legiões de monstros, robôs e outros soldados ou tudo misturado, reaparece aqui com sabor de desenho infantil.
Ainda que a desenvolvedora Glowfish Interactive venda o jogo como um tributo aos títulos de plataforma 3D, há muito dos ‘twin-stick shooters” nele e é justamente nesses elementos que Trifox brilha. A grande verdade é que a câmera sofrível e seus comandos de pulo imprecisos estragam todos os momentos de plataforma que aparecem na sua frente.
Raposa ou lobo?
Essa indecisão da Glowfish Interactive parece se manifestar também na natureza de seus personagens. Tecnicamente, controlamos uma raposa antropomórfica, mas dá pra jurar que o protagonista é um lobo. Talvez seja seu estilo visual ou as cutscenes de qualidade duvidosa. Os seus inimigos também parecem muito com lobos ou talvez sejam somente raposas de outra família? É impossível dizer, de certa forma é irrelevante, mas a dúvida me assombrou ao longo de toda jornada.
Tampouco compreendi exatamente o que está em jogo. A história parece dizer que eu era uma raposa cuidando da sua vida, tentando assistir televisão, mas uma gangue de lobos (raposas?) roubou o controle remoto e destruiu o aparelho. Confesso que minha memória da introdução talvez não seja das melhores. A partir daí, nosso herói vai no encalço da quadrilha, que se comporta como piratas. Surpreendentemente, o protagonista também tem acesso a um vasto arsenal de habilidades e equipamentos.
Se o enredo não prende e nem explica, o que me impulsionou como jogador foi a vontade de testar o que me era oferecido. A princípio, Trifox parece limitado a três classes: Guerreiro, Mago e Engenheiro. Escolhi a última, porque essa é sempre a minha opção em qualquer título que me permita colocar torres de combate no terreno, principalmente se estamos falando de “twin-stick shooters”. Entretanto, para minha grata surpresa, o jogo oferece a possibilidade de combinar poderes e itens ao meu bel-prazer e criar um estilo de combate híbrido.
O resultado é que você tem acesso a quatro habilidades diferentes, que pode customizar no botão que desejar. O jogo sequer te limita nas combinações. Se você quiser ter quatro habilidades de defesa selecionadas ao mesmo tempo e nenhuma de ataque, o problema é seu, fique à vontade. Trifox tampouco escreve suas escolhas a ferro e fogo. Determinado combo não funcionou naquele mapa ou contra aquele chefe? Volte para a base, escolha outra combinação e triunfe.
Trifox é molezinha… quando você não está pulando
Ao contrário dos títulos que definem o gênero, Trifox não é hardcore. Longe se foram as batalhas insanas que disputei em Solstice Chronicles: MIA, por exemplo. Se os gráficos não entregaram essa dica, a mecânica faz: o jogo mira no público infanto-juvenil. Ele não chega a ser fácil em excesso, ao ponto de enjoar, mas também não dá dor de cabeça.
Para complementar essa impressão, o título é bastante generoso com os checkpoints, oferecendo um salvamento automático quase que a cada encontro, setor do mapa ou fase de luta com um chefe. Ao contrário de muitos jogos por aí, esses checkpoints são carregados inclusive entre sessões. Você pode ir dormir com a certeza de que sua raposa (lobo?) vai estar te esperando mais ou menos no ponto em que parou e não de volta ao começo da fase.
Porém, a câmera confusa vai dar nos nervos. Ela é seu verdadeiro inimigo em Trifox. A câmera aponta para onde ela quer e você precisa se reajustar mentalmente o tempo todo para se mover na direção certa. O pulo é inconsistente, mesmo o pulo duplo, então tente imaginar uma longa sequência de plataforma que exija saltos precisos com uma câmera ruim e um comando de pulo que não chega nem perto dos clássicos de plataforma 3D em que a desenvolvedora jura se inspirar.
Além disso, Trifox tem sequências que exigem que esses pulos e a movimentação sejam realizados com tempo contado, enquanto uma determinada ameaça está nos seus calcanhares. Morri mais vezes com saltos errados, prejudicado pela forma como o jogo se comporta, do que em combate propriamente dito.
Bonzinho, mas acaba logo
Aos trancos e barrancos, fui avançando. Tive diversão o bastante na parte de exploração de mapa e combate para suportar os momentos em que o jogo se lembrava de tentar ser plataforma (e fracassava). Trifox não enrola e oferece créditos o suficiente para você logo desbloquear tudo que tem para ser desbloqueado e escolher seus equipamentos e habilidades.
É de se lamentar que um jogo com esse nome e três opções de “classes” não comporte multiplayer. Um trio de raposas (lobos?) abrindo caminho por mapas um pouco mais longos seria bastante interessante.
E, tão rápido como ele engrena, Trifox chega ao final. Pode ser frustrante para quem estava na expectativa de uma aventura mais longa, mas também pode ser um momento de alívio para quem não via a hora de partir para um título mais criativo ou simplesmente mais sólido em suas mecânicas.
Recomendo Trifox para seu público: crianças e jovens que estejam buscando algo mais do que os jogos de plataforma 3D convencionais e queiram dar seus primeiros passos no mundo nervoso dos “twin-stick shooter”. Para os jogadores veteranos, há opções melhores em qualquer gênero.
Prós:
🔺 Customização de arsenal
🔺 Visual fofinho
🔺 Checkpoints generosos
Contras:
🔻 Câmera confusa
🔻 História sem sentido
🔻 Curto
Ficha Técnica:
Lançamento: 14/10/22
Desenvolvedora: Glowfish Interactive
Distribuidora: Big Sugar
Plataformas: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series
Testado no: PC