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Chegamos ao fim de uma longa jornada com o lançamento de The Legend of Heroes: Trails into Reverie, desenvolvido pela Falcom, com a tão esperada conclusão para a saga que unifica os caminhos que encerra a série “Trails”.

Com uma leve cara de título datado e fortes características de JRPG, temos muito conteúdo para ser explorado, com pontos de vistas diferentes para uma mesma história, muitas mecânicas no combate e diversos personagens, mas será que o público ocidental está preparado ou ainda se importa com esse tipo de título?

Independência ou morte!

Depois de nunca ter jogado Trails of Cold Steel, não ter pego o lançamento de Trails from Zero e começado diretamente em Trails to Azure, chegou a hora de conferir como toda essa história retoma seus encerramentos para finalizar num novo jogo que promete abordar consequências de todas as pontas criadas anteriormente.

The Legend of Heroes: Trails into Reverie
Três histórias com a falsa sensação de não-linearidade

Para isso, The Legend of Heroes: Trails into Reverie desenvolve uma narrativa através de três caminhos, que se apoiam em grupos de personagens diferentes, para finalmente concluir os eventos que surgem como resultados de Trails of Cold Steel e Trails to Azure, explorando as consequências dos acontecimentos e aprofundando as implicações políticas e sociais que acontecem em Zemuria, estabelecendo um cenário geopolítico muito interessante e bem explorado.

Através do sistema conhecido como Trails to Walk, acompanhamos mais de 60 horas alternando entre os caminhos e seus protagonistas: Lloyd Bannings, de Trails to Azure, Rean Schwarzer, de Cold Steel, e o misterioso “C”, um personagem mascarado que revive o pseudônimo do antigo líder da Frente de Libertação Imperial. Ao longo do jogo esses caminhos se alternam, intercalam e unem-se, criando uma sensação de urgência latente e agilizando a progressão da história numa dinâmica rara de se encontrar em RPG.

Mesmo com cara de epílogo, por acontecer após os encerramentos anteriores, e longe de ser acessível para os entrantes na franquia The Legend of Heroes, por chegar após seis jogos, Trails into Reverie consegue retornar à Erebonia e Crossbell para explorar uma estrutura narrativa com foco no crescimento dos personagens, utilizando o sistema de cruzamento de histórias, mostrando diversos acontecimentos sob perspectivas diferentes.

The Legend of Heroes: Trails into Reverie
O herói Rean Schwarzer e sua missão de parar o misterioso C

Trazendo a SSS, de Trails to Azure, e a Classe VII, de Cold Steel, novamente para o centro dos acontecimentos, os desenvolvedores conseguiram motivações suficientes para criar um misterioso vilão capaz de afetar a falsa sensação de paz conquistada em Zemuria, tendo em C e a Nova Frente de Libertação Imperial o grande peso para resgatar o que já aconteceu na franquia, explorar os novos acontecimentos e unir as motivações para entregar uma boa experiência.

Um é pouco, dois é bom e três pode ser demais

Dentre os caminhos da história, nós acompanhamos os acontecimentos de “The Day of Reindependence”, assumindo o papel de Lloyd Bannings para enfrentarmos mais uma luta pela independência de Crossbell ao expulsar um grupo de terroristas que ocupa a cidade, além do retorno de um personagem que julgávamos estar preso, se mostrando serem os capítulos mais desinteressantes e fracos do jogo.

Já o capítulo “Lost Symbol”, pela perspectiva de Rean Schwarzer, nos leva para Erebonia com a missão secreta para procurar o príncipe Olivert Reise Arnor e Scherazard Harvey, numa sequência de acontecimentos interessantes. Neste ponto acho válido reforçar que, mesmo com a possibilidade de alternar entre os caminhos em qualquer momento, o jogo cria algumas regras para finalizarmos certos capítulos como forma de “travar” a continuidade e fazendo o jogo ser mais linear do que eu imaginava.

The Legend of Heroes: Trails into Reverie
C e Lapis Rosenberg sustentam Trails into Reverie nas costas

A terceira porção da história é de longe a melhor desenvolvida, conhecida como “C Rote” e com capítulos reunidos em “The Miserable Sinners”, conhecemos mais sobre o próprio mascarado misterioso, além da intrigante Lapis Rosenberg, uma boneca encontrada em uma maleta, sempre ao lado de Swin Abel e Nadia Rayne.

Este quarteto, que por conveniência vamos chamar de “vilões”, cresce e transita entre os mundinhos, se tornando o ponto central de Trails into Reverie, sendo os responsáveis por unificar diversos pontos e fazendo com que a “Lloyd Route” e a “Rean Route” sejam menos interessantes quando comparadas à maneira como este núcleo contribui para a narrativa principal.

Para os fãs da franquia, muitos personagens e NPCs estão de volta ao longo das diversas locações relevantes para o modo história. Trails into Reverie também consegue proporcionar muito fanservice ao revisitarmos diversos locais conhecidos para quem acompanhou os jogos anteriores, inclusive para quem iniciou apenas em Trails of Cold Steel IV ou Trails to Azure, como eu!

The Legend of Heroes: Trails into Reverie
The Miserable Sinners é a melhor parte do jogo

Como conteúdo extra você também contará com o True Reverie Corridor, que reúne os personagens das três rotas em uma dungeon sobrenatural gerada randomicamente. Este “corredor”, originalmente como conteúdo pós-jogo em Cold Steel II e que aqui pode ser acessado bem cedo no jogo, conta com novas áreas desbloqueadas à medida em que o jogo avança para oferecer desafios além do conteúdo principal, novas lojas, histórias secundárias (conhecidas como Daydreams) que explicam certos eventos que ocorrem antes e durante a história principal, além de minigames, personagens desbloqueáveis e muitos recursos para o seu progresso no modo história.

Vale uma pausa para falarmos sobre os vários joguinhos, de shmup à card game, passando por atividades de verão com todo elenco em traje de banho, que com certeza será uma parte do jogo que talvez você invista muito tempo para se divertir com as mais variadas atividades. O meu preferido foi o Vantage Masters, por ter gameplay com cartas, no entanto os demais demonstraram muito humor e criatividade dos desenvolvedores por produzirem pequenos jogos com controles e propostas diferenciadas para cada um.

Muitas mecânicas para masterizar

Se não ficou claro até o momento, Trails into Reverie é um JRPG daqueles bem tradicionais, com áreas delimitadas para ser exploradas, o que reforça o sentimento de ser um jogo datado, encontros aleatórios para combates e muito grinding para conseguir enfrentar os desafios mais difíceis.

The Legend of Heroes: Trails into Reverie
Se estiver com preguiça de pensar, ligue o auto e seja feliz

Com sistema de batalha por turnos, sinalizando na barra de ordem de batalha quem será o próximo personagem em ação, você poderá simplesmente atacar ou contar com diversas opções de habilidades: S-Crafts como poderosas técnicas que consome CP dos personagens, além das famosas Crafts, que consomem seus pontos de ação (EP) para utilizar diversos tipos de habilidades.

Além disso você pode utilizar os seus Bravery Points (BP) para realizar um ataque acompanhado de seus amigos, tendo também a opção de utilizar uma Brave Order para aplicar efeitos especiais no campo de batalha ou no status dos personagens. A combinação dessas habilidades e a configuração da sua party podem fazer com que você realize um Link Attack, com a opção de um Burst, Rush ou Assist, como ação complementar.

Trails into Reverie também oferece uma nova mecânica conhecida como United Fronts, criado a partir do sistema de link utilizado anteriormente na franquia. Para isso você precisará contar com cinco ou mais personagens em sua party, para acumular e gastar sua Assault Gauge (AG) e realizar United Attacks, Arts ou Heals, podendo ter até dez aliados participando e deixando a batalha ainda mais emocionante, com viradas inesperadas para salvar o dia.

The Legend of Heroes: Trails into Reverie
As animações durante as batalhas são de encher os olhos

Mesmo com tantas opções de combate, os desenvolvedores incluíram uma opção de “Auto Combat”, que automatiza as lutas e faz todo o trabalho por você. Ao ativar essa função as lutas ficam simples, focadas apenas em ataques normais, e que rendeu muito sucesso até chegar num inimigo realmente forte. Dessa maneira você não terá muito trabalho, além de utilizá-la para realizar grinding, para visitar todos os locais e conseguir enfrentar todos os inimigos disponíveis naquele cenário.

Adicione às mecânicas de combate o fator de termos mais de 20 personagens jogáveis no modo história e 51 no modo True Reverie Corridor, além de muitas armas e acessórios para construir diversas builds, para você ter ideia de quanto tempo precisará investir preparando sua party para no fim jogar dezenas de horas com o auto ativado. Desperdício de tempo? Acredito que não, mas ao mesmo tempo em que oferece sistemas inclusivos e muitas camadas de estratégia, o próprio jogo acaba banalizando todo o potencial que ele oferece para o combate.

No fim, The Legend of Heroes: Trails into Reverie possui uma narrativa complexa e profunda, oferecendo momentos de grande emoção e revelações surpreendentes, cativando os jogadores e mantendo-os engajados até o fim. Com uma arte belíssima e uma trilha sonora genérica, porém agradável, temos muito conteúdo e diversos personagens para conhecermos e nos importarmos.

The Legend of Heroes: Trails into Reverie
True Reverie Corridor vai longe na proposta de conteúdo extra

Também fiquei impressionado sobre como todas as histórias e personagens são muito bem desenvolvidos, além de pontuar a determinação de cada um, os desafios e laços de amizade, trazendo temas sobre justiça, lealdade, redenção e a luta pela paz (mais uma vez) num mundo repleto de conflitos políticos e em constante mudança. Mesmo sendo um jogo difícil para os curiosos e novatos, o trabalho da Falcom e o esforço da NIS America para trazê-lo ao Ocidente justificam o investimento pela quantidade de conteúdo e horas de jogo.