Skip to main content

Se eu dissesse que tem um novo metroidvania na pista, provavelmente um total de zero pessoas ficariam surpresas ou sequer interessadas em saber do que se trata, afinal estamos falando de um dos gêneros mais saturados dos últimos anos. Antes da febre dos roguelites, a indústria indie praticamente vivia de metroidvanias e, infelizmente, eles foram ficando cada vez menos autênticos, até chegar em um ponto onde todo mundo simplesmente perdeu o interesse.

Vez ou outra pinta algum estúdio ousado o bastante para tentar fazer algo novo dentro do gênero, e é assim que jogos como The Knight Witch ganham forma. De autoria do estúdio Super Awesome Hyper Dimensional Mega Team (pois é, esse é o nome do estúdio), temos aqui uma fusão de metroidvania com shmup – também conhecidos como bullet hell, chamem como quiser – que surpreendentemente deu mais certo do que qualquer um poderia imaginar.

A última sobrevivente

The Knight Witch nos introduz a um mundo de magia que está sofrendo maus bocados sob o governo dos Daigadai, um clã de autômatos que está esgotando todos os recursos naturais do planeta a fim de manter seu império de terror vivo. Para combatê-los, seres mágicos chamados de Knight Witches despertaram como uma última tentativa de salvar o mundo, passando a liderar os rebeldes na guerra que estava se formando. Após uma grande batalha, elas triunfaram em derrotar os Daigadai, mas o planeta já estava condenado e os sobreviventes precisaram reconstruir suas vidas no subsolo.

The Knight Witch
Pausa para apreciar o “gatinho” gigante segurando a porta

É aqui que entra nossa protagonista, uma simpática bruxinha chamada Rayne – esta que seria a quinta Knight Witch, uma mera aprendiz que não chegou a lutar na guerra por ser muito fraca. Com todas as heroínas mortas e o mundo livre dos Daigadai, Rayne passou a viver uma vida normal, até um belo dia em que seu vilarejo foi atacado pelos mesmos robôs que destruíram o planeta há décadas. Sendo a única capaz de impedi-los, ela se vê forçada a utilizar seus velhos poderes para tentar salvar o mundo novamente.

O jogo mistura a exploração dividida em cenários dos metroidvanias com os combates dos shmups. Em todos os mapas, temos a liberdade de voar para qualquer direção, podendo se mover livremente (lembra um pouco Child of Light, aquele joguinho esquecido da Ubisoft). Os inimigos pipocam na nossa frente e daí começa aquela chuva de tiros na tela, exigindo grandes reflexos e desvios rápidos do jogador. Além de podermos atirar para todos os lados, também é possível utilizar uns truques na manga, como veremos melhor mais adiante.

Achei bem Zelda essas salinhas de upgrades

The Knight Witch não chega a ser um metroidvania exemplar, mas cumpre sua proposta de forma suficientemente satisfatória. É interessante a forma como combinaram os dois gêneros e introduziram seus próprios desafios a partir das mecânicas do shmup. Além dos combates, também temos de enfrentar percursos “mortais” e pequenos puzzles que envolvem desviar de espinhos e armadilhas, algo que nem sempre é fácil devido à alta mobilidade da personagem. Nem tudo é só tiroteio o tempo inteiro e isso é bom.

O enredo também é surpreendente, apesar do jogo ser curto e atropelar muitas coisas devido ao ritmo acelerado que a narrativa progride. A força de Rayne vem da fé das pessoas, ou seja, quanto mais indivíduos acreditam nela, mais forte ela fica. A personagem sobe de level quando aumentamos essa conexão e existem alguns momentos da história com pequenas escolhas direcionadas especificamente a isso. Nelas, é possível ser sincero com os outros ou mentir para amenizar situações, o que garante mais experiência – portanto, mentiras trazem consequências no futuro. Esse é um detalhe legal que torna a história mais interessante.

Tiroteio mágico

O combate não se resume exclusivamente a apontar para uma direção e atirar, mas envolve uma série de habilidades que deixam as coisas bem interessantes. A principal delas são as cartas mágicas, que seriam os poderes de Rayne. Cada carta proporciona um tipo de magia que pode variar entre ataque ou defesa, invocando algo para dar suporte ou potencializando os tiros da sua personagem. Você vai desbloqueando novas cartas conforme avança e pode customizar seu deck como quiser.

Use suas cartas com sabedoria!

O sistema de cartas é legal, mas achei que a forma como resolveram implementá-lo não funcionou tão bem dentro do gênero proposto. Ele segue a lógica vista em Lost in Random (mais um joguinho que provavelmente ninguém lembra), onde o jogo te dá três cartas aleatórias do seu deck e você precisa se virar para utilizá-las da melhor forma no calor do momento. Você nem sempre recebe o que quer e não tem controle sobre o que vai tirar, então muitas vezes isso acaba nos prejudicando em momentos decisivos. Esse detalhe não chega a condenar o jogo, mas certamente vai te fazer passar bastante raiva.

De qualquer forma, o combate de The Knight Witch é frenético e muito intenso, então quem gosta de shmups certamente vai curtir e quem não tem familiaridade provavelmente vai morrer muito. O sistema de checkpoints é levemente punitivo, mas não chega a ser desleal; quando morremos, voltamos do último farol que interagimos, mas todas as hordas de inimigos que foram vencidas depois daquele ponto seguem concluídas. Com o tempo, podemos melhorar as habilidades de Rayne e deixá-la mais forte, então as mortes deixam de ser tão frequentes.

Alguns puzzles envolvem a utilização dos poderes de Rayne

Os gráficos são todos desenhados a mão e bastante detalhados, com personagens carismáticos e um mundinho bem simpático. Acho válido citar como a direção de arte conseguiu diversificar os cenários, levando em consideração que o jogo inteiro se passa embaixo da terra. Todo metroidvania precisa de uma variedade decente de ambientes a serem explorados e este aqui não peca nesse quesito. A trilha musical também é bacaninha, misturando melodias com aquele tonzinho mágico e bons riffs de guitarra em combates mais intensos.

No geral, The Knight Witch não chega a ser um exemplo de excelência em nenhum dos dois gêneros que explora, mas também não chega a fazer feio. É uma combinação interessante e divertida, mesmo para quem só gosta de um ou outro. O fato de ser curtinho e charmoso também pode ser uma boa pedida para quem busca apenas conhecer um pouco melhor dos gêneros, então vale a pena dar uma chance.