Assim como a grata surpresa de Teslagrad Remastered, a norueguesa Rain Games anunciou e lançou a continuação do título de 2013, trazendo Teslagrad 2 para a geração atual com uma nova proposta de metroidvania 2.5D.
Longe de ser uma sequência esperada pelo público, até mesmo fora do radar para quem, assim como eu, curtiu muito o jogo original. A dúvida que fica e que é fácil de ser respondida por conta dos lançamentos simultâneos realizados pela Modus Games, empresa responsável pela publicação de Teslagrad, é se temos uma sequência que consegue melhorar a experiência do primeiro?
Nova aventura nórdica steampunk
Dessa vez temos um nome para a protagonista e ela se chama Lumina, uma jovem aprendiz Teslamante, que tem sua aeronave abatida por bárbaros vikings voadores. Durante a sequência animada inicial, que impressiona logo de cara por evoluir com a belíssima arte que já conhecemos da Rain Games, vai parar em Wyrheim, uma região remota ao Norte e repleta de perigos.
Nossa missão é retornarmos para a nossa família e para isso precisaremos explorar alguns territórios, que incluem uma nova e misteriosa torre, para fugirmos das ameaças enquanto descobrimos a verdade por trás de quem está nos ajudando, conhecendo mais sobre a mitologia desse lugar diferente do que conhecemos.
Mantendo a proposta original, a história de Teslagrad 2 é construída através de imagens, contando apenas com os cenários e elementos que encontramos. Sem texto ou dublagem, até mesmo sem telas de carregamento, os desenvolvedores conseguiram trabalhar numa excelente construção narrativa para mostrar a evolução da heroína, as ações maléfica dos vilões e a mitologia que bebe diretamente da Escandinávia.
Falando em história e ambientação, a Rain Games criou um peso ainda maior no resgate da mitologia nórdica, trazendo canções do folclore próximo aos desenvolvedores e inclusive com uma trilha sonora orquestrada, que mescla o que parece ser sons elétricos e tribais ao instrumental que preenche cada sentimento da jornada.
Nessa parte acho válido citarmos também a evolução da aventura, que não se resume apenas à torre, mas sim em viagens pela floresta, campo e montanhas, além de áreas gélidas e navio voador. O mesmo acontece com os chefões que, diferente do primeiro jogo, são melhores desenvolvidos e oferecem ainda mais desafios ao jogo.
Escandivania ou Sonicvania?
Se o jogo original, de 2013, teve grande influência de Braid, Trine e outros plataformas da época, Teslagrad 2 parece se perder um pouco em sua proposta ou referências atuais. Os desenvolvedores parecem ter trocado o gameplay mais cadenciado e focado na exploração, que justificava o uso das habilidades, para mecânicas que deixaram Lumina mais ágil e forte.
No começo do jogo, até o segundo boss, tudo era familiar e baseado no uso da polaridade magnética, ainda indicadas pelas cores azuis e vermelhas. No entanto saem as luvas, para a entrada de um manto que faz você usar essa mecânica de maneira 360° ao redor da personagem.
Esta novidade e evolução na jogabilidade e movimentação da personagem exige precisão, além de muita dedicação para você tentar, morrer, aprender e voltar para fazer da maneira correta. Já que agora você pode ser atraído ou repelido em muitas direções, aumentando as possibilidades e complicando demais a vida do jogador.
O mais estranho foi perceber que, após derrotarmos o “Primeiro Draug”, chefão como uma espécie de alce robótico, meio zumbi, movido à eletricidade, ganhamos uma bota que faz com que Lumina deslize em alta velocidade pelo cenário. A partir desse momento o level design deixa diminui drasticamente o estilo plataforma para se aproximar mais das “pistas e curvas de corrida”, ao melhor estilo Sonic The Hedgehog.
Isso fica ainda mais claro nos desafios para você liberar as Habilidades Especiais, em que consistem em missões de corrida contra o tempo, para ir de um local ao outro, usando apenas sua essência espectral. Dessa maneira você consegue descobrir a localização de melhorias importantes como, por exemplo, um machado, que serve para atacar e se teleportar, polaridade vermelha, pulo duplo e um dash direcional.
A inconsistência nessa escolha de mistura de gêneros, mantendo a natureza do metroidvania, temos um aumento de velocidade (literal) e que nos joga para sequências de plataforma, exigindo muita destreza para dar continuidade à sequência de movimentos, incluindo as habilidades da protagonista.
Muitas vezes a sensação agradável de Teslagrad, que bebeu demais das referências em Braid, parece ter escolhido se tornar um Celeste ou Super Meat Boy.
A faísca de um futuro melhor
Mesmo ampliando seu escopo, oferecendo mais chefões e momentos memoráveis, com a narrativa visual crescendo e a música engrandecendo ainda mais a jornada, senti que o fator exploração, se não for pelas habilidades especiais, se perde por conta da velocidade que o jogo oferece para “impulsionar” você sempre para frente.
Enfrentar seu algoz, descobrir quem é o personagem que ajuda a fuga de Lumina, os momentos de encontro com a cultura de países escandinavos e até mesmo uma área secreta, com um final secreto, assim como existe no primeiro jogo, proporcionarão momentos marcantes.
Teslagrad 2 realmente é um bom jogo, mas não sei mais se é um bom metroidvania, assim como seu antecessor (e recente relançamento) ainda consegue ser. Com certeza serão de cinco a dez horas de muita diversão, algumas frustrações, e recompensas gratificantes.
Talvez essa década da Rain Games tenha feito os desenvolvedores ficarem indecisos, como se estivessem entre dois ímãs da sua própria telemancia, tentando agradar uma geração anterior de jogadores ao mesmo tempo que outra mais nova, cada vez mais sedenta por títulos ágeis e frenéticos.