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Antes de analisar o novo game da Starbreeze Studios, quero deixar claro que nunca joguei o Syndicate original, de 1993. Porém, não há necessidade de se preocupar com isso caso você também não tenha jogado nenhuma de suas versões (Amiga, Windows, Mega Drive, SNES, etc), pois o novo game é totalmente diferente. O original, da extinta produtora Bullfrog Productions (fundada por Peter Molyneux), é um game isométrico de estratégia em tempo real. Eis um resumo: Em um universo cyberpunk futurista, seu objetivo é estabelecer o equilíbrio mundial entre os sindicatos. Para tal, você controla uma equipe de quatro agentes que deve infiltrar sindicatos rivais, eliminar certos alvos, e persuadir pessoas para obter êxito em suas missões. Em 1996 saia a sequência Syndicate Wars, introduzindo uma tecnologia neural que permite controlar a mente dos inimigos e a opção multiplayer cooperativo.

Quando a Starbreeze anunciou o reboot da série, logo os fãs chiaram. E com razão. Syndicate virou um jogo de tiro em primeira pessoa (FPS), deixando de lado o charme da visão isométrica e o modelo de estratégia. Ainda assim poderia render um bom game com outras características originais: universo futurista, armas high-tech, habilidades neurais, etc. Com a Starbreeze no comando, produtora que fez os dois excelentes games da série The Chronicles of Riddick, o que poderia dar errado?

Chip na caveira

Syndicate foi produzido com a fantástica engine Frosbite 2.0, utilizada em outros dois games recentes da EA: Battlefield 3 e Need for Speed: The Run. Portanto é de se esperar um game bonito e com vários efeitos de iluminação de cair o queixo. Mas para um game ser bom, não basta ter gráficos bonitos… Tem que ter muitas outras qualidades, as quais algumas delas foram completamente esquecidas no novo Syndicate.

Syndicate

A trama conta o seguinte: em 2025, a EuroCorp lançou um chip neural chamado DART, que permite aos usuários acessar vários tipos de informação. Com isso, o mundo passou a ser controlado pelas mega-corporações, conhecidas como “sindicatos”. No entanto, apenas metade de população aderiu ao uso do chip, a outra metade sendo esquecida em um mundo capitalista e opressor. Do outro lado da moeda a espionagem corporativa rola solta, com agentes que fazem uso do DART para proteger o interesse de seu chefe corporativo e roubar os seus rivais.

O jogo começa em 2069, onde o jogador controla o agente Miles Kilo, “protótipo” mais recente da EuroCorp e equipado com o DART 6, criado pela cientista Lily Draw (dublada por Rosario Dawson). Após passar por um teste, em que você aprende a usar as habilidades do chip, o dono da EuroCorp Jack Denham (dublado por Brian Cox) passa à Kilo sua primeira missão: eliminar o cientista Gary Chang, da Aspari Corporation, que criou um chip semelhante ao DART 6. Roubo de informações? Quebra de patente? Sem saber ao certo o motivo, você e seu mentor, o agente Jules Mérito (dublado por Michael Wincott), invadem o prédio da Aspari para resolver a questão. Mas é óbvio que o problema não acaba aí…

Voltando a falar sobre o DART 6, o chip permite fazer coisas bem originais como invadir a mente do inimigo e fazê-lo cometer suicídio, estourar sua arma para derrubá-lo ao chão, destravar dispositivos, desativar escudos, hackear uma minigun inimiga para atirar nos soldados, e por aí vai. É uma ajuda e tanto, especialmente a visão de Raio-X (chamado DART Overlay), que desacelera o tempo e entrega a posição dos inimigos escondidos pelo cenário. Porém o uso do chip é limitado por uma barra recarregável, então use com cautela.

Syndicate

Mesclando ideias para tentar algo novo

Syndicate é uma verdadeira mistura de referências. O design dos cenários e personagens lembra Deus EX: Human Revolution, trocando o tom amarelo pelo azul. O treinamento pega emprestado a ideia do Assassin’s Creed, em que você treina em um ambiente digital. Já a interface e menus lembram Crysis 2, com informações que flutuam na tela acompanhando o movimento do protagonista. E não há como negar que o game se parece muito com a franquia F.E.A.R., na qual você enfrenta uma frota inteira de soldados muito bem armados. O resultado disso é uma chuva de balas com muita violência e membros decepados.

De fato o game pega boas referências e adiciona outras boas, como uma arma que trava a mira no inimigo e as balas são teleguiadas. Porém o jogo peca em outros fatores, a começar pelo sistema de habilidades. Você as adquiri ao eliminar alvos importantes, extraindo seu chip. O problema é que estas habilidades apenas fortalecem o protagonista em coisas do tipo maior resistência à danos, sem adicionar novas mecânicas à jogabilidade. No geral, é atirar e seguir em frente em ambientes lineares. Outro ponto fraco é a falta de cuidado com os NPCs: há umas cinco variações de civis, no máximo.

Você pode carregar duas armas diferentes, alternando-as quando vier a calhar. Há muitas armas, mas poucas oferecem uma experiência diferente. Ao menos nos efeitos de tiro o jogo se mostra muito competente. Mas, se não me engano, emprestaram boa parte dos sons de Battlefield 3. Aí é fácil, né? Já a trilha sonora foi muito bem pensada, especialmente a trilha de combate com os chefes, produzida pelo Skrillex.

Syndicate

O multiplayer é uma série de missões cooperativas para até quatro jogadores. Jogando com menos o desafio é bem maior, pois você enfrenta quatro agentes inimigos de qualquer jeito. Não há reequilíbrio de partida de acordo com o número de jogadores. São nove cenários e você pode escolher duas armas e duas habilidades ao início de cada partida. Qualquer companheiro pode curar e reviver outros jogadores, da mesma forma que pode desativar uma granada ou a armadura do inimigo, por exemplo. É uma experiência diferente da campanha solo e vale a conferida.

Se você procura um FPS com muita ação, Syndicate não te deixará na mão. A campanha solo oferece dificuldade elevada, o que exige paciência em muitos momentos. Mas não espere por nada além disso. Usar as habilidades do DART 6 como vantagem no campo de batalha é algo divertido apenas nas primeiras 2 horas de jogo. Umas 6 horas depois você estará terminando a aventura e se lamentando por ter jogado um game bonito mas ordinário.