Strayed Lights chegou no primeiro trimestre de 2023, trazendo uma nova maneira de incorporar elementos do gênero soulslike com a tentativa de reinterpretar a esquiva e parry.
O novato estúdio Embers, estabelecido na França, conseguiu construir uma identidade única capaz de entregar uma experiência poética, que flerta com a fantasia e abstração, ao mesmo tempo em que surpreende pela competência e mostra potencial que dependerá do jogador para ser ainda maior, melhor e disruptivo.
O melhor ataque é a sua defesa
Os desenvolvedores franceses conseguiram criar um jogo em que seu ataque seja fraco o suficiente para você aprender como esquivar e quando usar sua defesa. Otimizando esse aprendizado para internalizar e torná-lo cada vez mais natural, você terá o apoio de cores, além da movimentação dos inimigos, para atacar com eficiência e derrotar as ameaças que você terá pela frente.
Para justificar essa escolha, Strayed Lights coloca você no papel de um pequeno ser criado a partir da luz que parte numa jornada para livrar seu mundo das trevas. Pequeno e frágil, mas não indefeso, suas forças estão concentradas nas luzes azul e laranja, para combinar sua cor à do inimigo para defender-se, sempre no momento certo, roubando a energia dele a ponto de contra-atacá-lo e derrotá-lo.
Talvez você pense “Ah! Esse jogo não é para mim, porque vou errar o tempo do ataque” e esse será o seu maior engano. Sua defesa, mesmo que no tempo “errado” e com cores trocadas, fará com que você não receba dano em sua vida. Muito inclusivo, mesmo que indo paralelamente à sua proposta inicial, o jogo faz com que você consiga progredir numa velocidade diferente e com recompensas menores, mas ainda seguindo com a exploração desse mundo repleto de luzes ao mesmo tempo em que consegue ser sombrio.
A cada encontro contra inimigos comuns fará você ampliar suas habilidades de combate para enfrentar os chefes, que oferecerão movimentação e padrões diferentes, além de serem maiores e mais expansivos dentro do local de combate. Tudo para seguir em sua busca por novos pontos de luz ao derrotar os monstros, que serão utilizados para melhorar seu personagem, esferas que concedem evolução em seu status e misteriosos totens em cada nova área desse mundo, fazendo você aprender uma nova habilidade.
Com uma direção de arte competente ao trabalhar muito bem as cores e iluminação, tudo faz sentido neste mundo sem nome, palavras e com poucos sons, que exige muito do jogador para seguir explorando, sem apoio de sinalização ou indicações na tela, torcendo para ter internalizado o suficiente e ser capaz de enfrentar mais de um inimigo ao mesmo tempo ou novas ameaças que exigirão breve aprendizado e reflexos rápidos.
Livre e poético ou apenas descuido?
Strayed Lights aposta em seu mundo aberto ao dar liberdade para o jogador explorar e criar sua própria interpretação sobre o que está acontecendo. Na página oficial do jogo encontramos apenas sobre “uma luz minúscula e crescente em busca de transcendência” e nada mais, porém ao longo do jogo você se questionará sobre o que você está fazendo.
Talvez esse seja um erro ao tentar conquistar uma audiência maior, acostumada com jogos que peguem mais na mão, porém mostra o potencial de um estúdio jovem e um título indie capaz de oferecer ao jogador uma interpretação própria e única baseada na sua experiência. Será que o seu protagonista, que possui uma estrutura e visual parecido com seus inimigos, está buscando o bem? Qual o significado da sua jornada?
Em nada isenta a falta de conteúdo e informações, que os desenvolvedores poderiam ter disponibilidade através de itens ou enciclopédia que pudesse ser construída a cada encontro ou totem acendido. Seja pela ascensão e luminescência crescente do protagonista ou através das poucas cenas, um pouco dessa jornada poderia ser registrada ou explicada para conhecermos mais sobre este mundo.
No entanto você descobrir o motivo da existência de cada chefe, muito ligado aos medos dos habitantes do mundinho de Strayed Lights e que podem ilustrar sua principal função em curá-los ou ajudá-los para seguir em busca da ameaça que encontramos no final, numa batalha incrível e que exigirá todo relfexo, aprendizado e habilidades possíveis.
Dentro dessa aventura fantástica de cinco horas, a Embers conseguiu trabalhar uma boa diversidade de inimigos e grande variedade de cenários, sempre com muita cor e sombra para também ser registrado através do modo foto, contrapondo a melancolia dessa jornada e imensidão dos ambientes, mas que peca pelo level design genérico e com alguns pequenos probleminhas de movimentação do protagonista.
Equilibrando bem a repetitividade do combate com o desafio cada vez mais crescente, a trilha sonora preenche a falta de narrativa, com momentos calmos, animados e frenéticos, pontuando muito bem os momentos vivenciados e a emoção que você desenvolve ao interagir com esse mundo, mesmo não criando muita empatia com o protagonista.
Ficou claro, pelo menos para mim, que simplicidade é a proposta principal de Strayed Lights, oferecendo um jogo breve, bonito, desafiador e divertido. Ao conhecer um estúdio como a Embers, mostrando seu potencial e criando expectativa para um próximo trabalho ou até continuação ainda mais interessante, pause seu próximo AAA para apoiar esse trabalho e ser impactado positivamente por essa bela experiência poética.