Taí um jogo que fiz questão de jogar na calma, sem pressa pra escrever este review. O motivo? Bugs, muitos bugs. As coisas só melhoraram no início deste mês, quando a Undead Labs lançou um gigantesco patch de correção. Agora as portas não travam, os carros não voam e a interface não some do nada, o que não significa que resolveram todos os problemas. Pelo menos após o patch foi possível avaliar State of Decay 2 de maneira justa. E, bem, não ajudou muito.
Vale lembrar que o game original saiu há cinco anos para Xbox 360 e agradou bastante os fãs de jogos de zumbis, mesmo com a recepção morna da imprensa e apresentando inúmeros bugs. Meses depois chegou ao PC e, em 2015, ao Xbox One em sua edição definitiva intitulada Year-One Survival Edition (que inclui os DLCs Breakdown e Lifeline). Trata-se de um game de mundo aberto onde você tem que sobreviver aos ataques zumbis, lidar com a escassez de recursos e gerenciar sua base. Este último item tirou State of Decay da mesmice do gênero, trazendo algo realmente novo para os jogadores.
No final de maio, State of Decay 2 foi lançado e a história se repetiu: muitos bugs e recepção mista. O jogo é basicamente um leve upgrade do original, trazendo pouquíssimas novidades. Sabendo disso comecei a campanha aguardando o déjà vu, que não só veio rapidamente como se desenvolveu para um ciclo repetitivo de idas e vindas pelo mapa atrás de recursos. Mesmo jogando em co-op com mais três pessoas, o game falhou em me manter interessado.
Muitas opções, pouca criatividade
A campanha começa com a escolha de uma dupla, feita entre personagens com qualidades e características distintas. Alguns são bons de mira, outros lutam bem, e assim por diante. Tal escolha influencia apenas na dificuldade inicial, por exemplo forçando o jogador a correr mais e atirar menos. Posteriormente, ao conhecer outros sobreviventes e trazê-los para a sua base, é possível alternar com qualquer um. Mas há um limite, portanto escolha bem quais recepcionar ou dispensar.
Antes de ser jogado no mundo aberto de State of Decay 2, você passa por um rápido tutorial e deve escolher entre três opções: jogar offline, online com amigos ou via convite. Dá pra trocar essa opção a qualquer momento via menu, então não se preocupe. Isso influencia diretamente no modo co-op, que é ativado através de um rádio em que você pede ajuda ou voluntaria-se para a partida de outro jogador. De um jeito ou de outro você ganha pontos de influência, que funciona como a moeda do jogo pra tudo. Então sim, o co-op vale a pena, já que os pontos de influência obtidos são convertidos para a sua campanha particular.
A história não é desenvolvida do jeito tradicional, mas sim através de conversas entre os personagens. É uma ideia legal mas ofuscada por diálogos genéricos e sem impacto algum pro jogador. Dito isso é difícil se importar com qualquer personagem, mesmo quando um deles está infectado com a peste sanguínea e prestes a morrer. O que poderia se tornar uma experiência de escolhas e sacrifícios, como em The Walking Dead da Telltale Games, foi transformado em decisões comuns para manter sua base em ordem. Nada mais.
Ao explorar o mapa você encontrará outros grupos de sobreviventes, os quais agem de forma amigável, neutra ou inimiga. Alguns deles são importantes, inseridos em missões conforme o seu progresso e que podem vir a fazer parte da sua comunidade. Seja lá com quem estiver jogando, você precisará evoluir suas características até atingir o máximo e se especializar em alguma coisa: agricultura, auto mecânica, construção e etc.
Não dá pra negar que há muitas opções, sendo todas elas expansíveis. O próprio gerenciamento de base ficou mais robusto, permitindo construir diversos tipos de instalações como academia, campo de tiro, torre de vigia, enfermaria, coletor de água e até latrinas extras. É preciso ter paciência para dominar todas as possibilidades, além de escolher bem onde gastar seus pontos de influência. Tomar decisões ruins, como gastar pontos para melhorar sua horta quando o problema mais urgente está na falta de remédios, é mais do que comum. Tem que ficar atento à tudo, o tempo todo.
Jogando em co-op, a base do host é mantida, bem como todo o mapa já explorado. Você segue uma série de missões simplórias, com looting individual para cada jogador. Você só pode pegar o looting de outro jogador se o mesmo deixar o item no chão. Caso contrário, só pode investigar e pegar itens em locais sinalizados pela sua cor de jogador. Mas o que vale são os pontos de influência, que você consegue facilmente ao matar o zumbi mais casca-grossa do game: o Juggernaut.
Quanto à falta criatividade, os zumbis me decepcionaram. A semelhança com Left 4 Dead e Dead Rising chega a ser irritante, ainda mais com apenas seis tipos. Fora o Juggernaut, temos o zumbi com armadura, o que grita e chama reforço, o rapidinho que agarra, o inchado que explode e o dos olhos vermelhos, que infectam. A “novidade” fica por conta do bando de zumbis, que vagam juntos em grande quantidade, e as infestações, locais com uma espécie de coração pulsante que alastra a peste sanguínea e precisam ser destruídos.
Preso no ciclo de urgência
O gerenciamento de comunidade pode parecer interessante, ainda mais quando se descobre outros pontos no mapa para dominar e ampliar para uma base maior. O problema está no senso de urgência, praticamente sem fim, que força o jogador a agradar todo mundo indo atrás de recursos pra manter a balança equilibrada. Se falta alguma coisa, como comida, os sobreviventes começam a desanimar. E isso piora quando há no grupo um sobrevivente com atributo negativo, como pessimismo. Se a coisa não vai bem na base, tal personagem demonstra seu descontentamento e influencia os outros. Chega uma hora que tá todo mundo deprimido, esperando você salvar a todos. Se houvesse opção para delegar funções, como escolher um personagem para ir atrás de combustível num determinado ponto marcado no mapa (dado as possibilidades dele morrer no caminho), isso faria toda a diferença. Mas ter a função toda concentrada em você, mesmo contando com a ajuda de um NPC como companheiro, é um verdadeiro pé no saco.
Chega uma hora que você não quer fazer mais nada. Tão cansativo quanto gerenciar sua base é a busca incessante por recursos. É até legal pegar um carro e sair atropelando zumbis com a porta aberta, achar armas mais poderosas e fazer aquele estrago, mas tudo cansa rápido demais. O mesmo acontece ao jogar com amigos em co-op: você dá altas risada, completa umas 20 missões e não aguenta mais ver esse mapa rural sem graça.
State of Decay 2 poderia ser um jogo acima da média, em vários aspectos. Faltou uma história mais empolgante, a possibilidade que comentei de delegar funções (pra não centralizar tudo no jogador) e uma pitada extra de dificuldade. Mesmo com o permadeath, não perdi nenhum personagem pra peste sanguínea muito menos morri durante uma missão. Só lamento a experiência que tive, tanto sozinho quanto acompanhado, que me fez tomar a sensata decisão de abandonar o game na metade.