Com Sonic Mania fazendo sucesso e lembrando a galera de que aquele mascotinho azul já foi sinônimo de excelência, restava a Sonic Forces a missão de provar que nem tudo estaria perdido para as versões poligonais do ouriço. O último game, Sonic Boom, acabou se saindo muito abaixo do bom padrão alcançado em Sonic Colors e Sonic Generations.
Sonic Forces pode ser considerado como uma pseudo-sequência de Generations, pois os estágios seguem o mesmo esquema de ir reto nas fases em 3D, alternando com a jogabilidade 2D em rolagem lateral e com os estágios do Sonic clássico – aquele barrigudinho que estreou no universo do Sonic atual justamente em Sonic Generations.
Apresentando um amiguinho sem nome
A história aqui é a de que Dr. Eggman recrutou Metal Sonic, Shadow e o novato vilão Infinite para dominar a Terra, restando a Sonic e seu novo amigo (um avatar criado pelo jogador e que permanece sem nome) a missão de retomar o controle e tirar o Dr. Eggman e seu pupilo Infinite da jogada. Descrevendo assim, parece simples, mas a trama é cheia de idas e vindas meio complicadas. Em determinado momento, fica até difícil de acompanhar.
Como história nunca foi mesmo o forte da série Sonic (apesar das cutscenes e diálogos serem muito bons e com um senso de humor na medida, incluindo piadas sobre chili-dogs), resta a jogabilidade. E olha, posso dizer tranquilamente que Sonic Forces foi uma grata surpresa. As fases “padrão”, com a visão atrás do personagem (e com alguns trechos com rolagem lateral) funcionam bem, apesar de serem curtas. Aquelas situações de morrer sem saber o porquê praticamente não existem mais (por aí dá para sentir o baixo nível alcançado em Sonic Boom…), e o fato de o número de vidas ser ilimitado praticamente impede aquelas situações meio Sonic Lost World, que te dava quatro vidas e um Game Over depois de perdê-las.
Sonic que funciona? Não vejo isso desde…
Há as fases do Sonic clássico, com jogabilidade 2D e física próxima à dos Sonics de Mega-Drive. Eu digo que a física é “próxima” porque, assim como em Sonic Generations, ela não replica totalmente a inércia e as respostas dos Sonics antigos, mas faz o possível e geralmente dá certo. As fases são curtas também, e nenhuma é particularmente difícil. Uma característica positiva é o design criativo das fases (tanto as do Sonic atual como as do antigo), com temas que variam desde um cassino na floresta até grandes construções industriais. Há truques óbvios, como fazer uma versão nova de Chemical Plant (possivelmente a fase mais amada da história do ouriço) e outra de Green Hill, mas quase todas as fases têm temas novos. Todas têm um visual meio caído (no bom sentido), com construções em ruínas, tudo por conta do tema principal: Dr. Eggman conquistando tudo.
Os chefes são simplórios e, em quase todos eles, os tipos de ataque não mudam. A criatividade de um Donkey Kong Country Returns: Tropical Freeze passou longe e, como o restante do jogo, essas batalhas são fáceis, algumas até com sequências de apertar um botão repetidamente ou quick time events. De qualquer forma nenhum chefe é malfeito, chato ou demorado demais e, pelo menos para mim, as escolhas combinam com o clima geral do jogo.
A forma como a trama é contada em Sonic Forces coloca os personagens nas fases sem uma ordem muito lógica. Quer dizer, você vai passar pelo menos umas três vezes por alguma variante da Green Hill ou do cassino da floresta durante a jogatina, o que é um elogio. Há fases extras também e estas agradam pela criatividade: em uma delas, todos os caminhos são formados por aqueles blocos que explodem quando são tocados, por exemplo.
O tal novo amiguinho do Sonic é um personagem criado pelo próprio jogador e que só funciona em determinadas fases (e todas no padrão do Sonic atual). Dá para escolher a raça do bicho entre cachorro, gato, ouriço e mais uns, além da cor e alguns detalhes dele. A grande atração está nos acessórios, com uma variedade gigantesca de itens que são recebidos após o final de cada fase. Há desde chapéus, óculos e sapatos até braceletes e máscaras. Sério, não tem como se frustrar mexendo na edição do avatar.
Vale lembrar que não há nada de microtransações e nem caixas de itens. Quando o jogador recebe os itens, eles são visualizados ali, na hora, e estão prontos para serem utilizados. O avatar ainda pode carregar uma arma (o lança-chamas é a arma básica), mas não há necessidade de usar isso, nem nos chefes. Não que isso tenha sido mal implementado, mas utilizar uma arma em um jogo do Sonic, por si só, já é uma situação estranha.
Um ouriço que deu certo em Sonic Forces
Antes de falar sobre a parte técnica, vale relatar que as músicas são muito boas. Músicas nunca foram lá um grande problema para a série Sonic, mesmo nos jogos atuais. E em Sonic Forces o trabalho foi bem feito novamente, com uma trilha que tem rock, eletrônico e até rap, com várias faixas cantadas e arranjos legais. A música principal, que é muito boa inclusive, tem a voz de Douglas Robb, vocalista do Hoobastank, uma banda de rock que fez sucesso nos Estados Unidos e que acabou ficando conhecida aqui por causa de certos jogos de skate.
Sonic Forces roda a 60 quadros por segundo na versão de Xbox One (a qual eu testei), com quase nenhuma queda, mas com alguns problemas de screen tearing (aquele efeito que ocorre quando a sincronização vertical não acompanha a atualização da tela e causa uma espécie de “quebra” em metade da imagem) em certos momentos. Há uma atualização para o Xbox One X que corrige isso, mas fica o aviso para os donos de Switch, já que na plataforma da Nintendo o game roda em apenas 30 quadros por segundo.
No geral, Sonic Forces é um bom jogo. Eu não tinha muita esperança e, sinceramente, após Sonic Mania, a sensação é de que o Sonic em 3D poderia descansar em paz. Mas a Sonic Team entregou um game seguro (até demais), com fases curtas o suficiente para não serem maçantes, sem problemas de mortes sem motivo e sem chefes chatos. É como se fosse um passeio… Sim, o jogo é fácil, mas é um jogo que funciona bem e que, sem dúvida, é uma das melhores tentativas atuais da franquia ao lado de Sonic Colors e Sonic Generations.