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Recentemente analisei um joguinho simplório chamado Trash Sailors, onde nosso principal objetivo é pilotar uma jangada, enquanto desviamos de uma série de obstáculos, coletamos lixo na água e enfrentamos inimigos que vão aparecendo no caminho. Imaginem minha surpresa quando me deparei com este jogo aqui, intitulado Ship of Fools, que tem uma proposta praticamente idêntica! Aqui nós também pilotamos um barco em águas turbulentas, enquanto enfrentamos monstros e coletamos itens – sem contar o fato do multiplayer e da cooperação ser essencial para o sucesso em ambos os jogos.

Semelhanças à parte, o que diferencia Ship of Fools de Trash Sailors é o fato deste ser um roguelite moldado daquele jeitinho que todo mundo aqui já deve conhecer bem: as fases são geradas aleatoriamente e, quando você morre, sempre volta do início, mas com a possibilidade de carregar alguns upgrades para sua próxima tentativa. Eu não sei se existe algum fã maluco de “jogos de barquinho com foco em multiplayer” por aí, mas se existir, pode comemorar, pois ultimamente você está sendo contemplado!

Nau dos insensatos

O nome Ship of Fools não foi escolhido a mero acaso e faz um trocadilho com uma velha alegoria, bastante utilizada como crítica social desde o século XV! Conhecida por aqui como “nau dos insensatos”, a origem desse termo veio de pequenos contos que retratavam um navio tripulado por um grupo de pessoas perturbadas, que partiam em jornadas marítimas sem rumo ou objetivo, mas sempre muito certas de que estavam fazendo algo incrível. Costumava ser uma forma disfarçada de criticar governos e religiões, então acaba sendo uma curiosidade legal sobre a origem do título.

Ship of Fools
A vida de um marinheiro solitário é muito dura

Entretanto, o nome do jogo não tem nada a ver com críticas sociais e é apenas uma brincadeira com os personagens que controlamos, que se encontram na mesma situação que a tripulação da alegoria – só que de forma literal! As criaturas que aqui são chamadas apenas de “tolos” precisam impedir a chegada do Águapocalipse, um evento que traz uma grande tempestade, deixando apenas maldade e calamidade por onde passa. Para isso, eles precisarão encarar todo o terror dos mares em embarcações precárias e, de preferência, com alguém para dar uma mãozinha.

Por ser um roguelite de barcos, não dá para negar que a forma como Ship of Fools funciona é um tanto autêntica. O jogo dispõe de diversas fases e a ordem com que passamos por elas nunca é alterada, apenas os desafios que as compõem. Uma vez que subimos no barco, ele assume uma lógica baseada em turnos, lembrando um pouco batalha naval. Somos apresentados a um mapa onde podemos ver em que célula nossa embarcação se encontra; a partir disso, será necessário escolher qual a próxima célula por onde devemos avançar, sendo que deve ser obrigatoriamente para frente.

O conteúdo dessas células varia, podendo trazer monstros, tesouros e, em alguns casos, eventos únicos. É tudo gerado aleatoriamente e nenhuma rodada é igual a outra, mas é claro que, após jogar um tempo, as coisas começam a ficar repetitivas. Na maior parte do tempo, você enfrentará diversas hordas de inimigos e, com os itens dropados por eles, poderá fazer upgrades no seu barco e armamento, facilitando um pouco as próximas tentativas.

Escolha com cuidado sua trajetória, pois você pode acabar se dando muito mal

Um jogo para dois

Diferente de Trash Sailors, que é praticamente impossível de jogar sozinho, Ship of Fools traz um desafio bem mais “justo” para os lobos solitários. É claro que não dá para fugir do excesso de tarefas para uma única pessoa, mas as coisas não são tão injustas quanto são no “primo feio” deste jogo. Você basicamente precisará operar um canhão e manter o outro carregado o tempo todo, além de atacar qualquer inimigo que entrar no barco e consertar possíveis danos – tudo isso no calor da ação, diga-se de passagem. O barco se movimenta sozinho e, felizmente, colocaram um canhão automático no singleplayer, o que facilita MUITO a nossa vida.

Mesmo com tudo isso a seu favor, ainda é muito difícil dar conta do recado. A quantidade de inimigos vindo dos dois lados do barco é um baita exagero e, por vezes, o canhão automático não dá conta de eliminar todos a tempo. Você vai acabar tendo que se dividir em três para eliminar todos os monstros de um lado, estapear os invasores e ainda manter tudo carregado o tempo inteiro – ou seja, é desesperador! Esse é mais um jogo que foi pensado para duas pessoas e não tem como fugir disso, então procure um amigo para jogar com você ou simplesmente desista.

Jogando em duas pessoas, cada um fica a cargo de um lado do barco e tudo fica mil vezes mais fácil e fluido, além de que as habilidades exclusivas de um personagem complementam as do outro (com o tempo, é possível desbloquear outros para jogar). Contudo, após duas ou três fases, vocês vão perceber que o jogo não foge muito disso e, no final, o que pode ou não renovar o interesse pelo fator replay são os upgrades que será possível liberar após o fim da rodada (quando o barco for destruído). O jogo tem um final, mas como todo bom roguelite, a dificuldade exagerada acaba desanimando no meio do caminho.

Não esqueça de fazer seus upgrades entre uma rodada e outra!

Os gráficos do jogo são desenhados a mão e bastante simpáticos, parecendo muito um desenho animado. Os cenários são bem detalhados e o visual dos personagens bastante criativo, inclusive o dos monstros, que também não deixam a desejar. Só senti falta de uma trilha musical mais envolvente, pois achei as faixas um tanto genéricas e pouco memoráveis – inclusive se tratando dos “grunhidos” que os personagens soltam ao conversar, o que começou a me irritar com o tempo.

Ship of Fools é um joguinho legal e cumpre o que promete, inclusive ao trazer uma visão diferente de um gênero completamente saturado nos dias de hoje. Contudo, novamente reforço que, para ter uma experiência positiva, é essencial jogar com outra pessoa. Aqueles que decidirem encará-lo sozinho só encontrarão dor e sofrimento no fim dessa tempestade.    

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