Skip to main content

Eu já joguei muitos jogos malucos na vida, mas nada no nível de insanidade de Pool Panic. Pegar um jogo de sinuca e transformá-lo em uma aventura pode parecer uma tarefa difícil, mas não pra Rekim (Mike Robinson) e seu estúdio indie. Com distribuição da Adult Swim Games, este é mais um game indispensável pra sua biblioteca de jogos bizarros e igualmente divertidos. Um excelente exemplo de genialidade no cenário independente, que continua a produzir jogos mais incríveis que muitos AAA por aí.

Sem história, a campanha começa com um breve tutorial em que um giz explica os comandos básicos, como utilizar o analógico direito para mirar e dar tacadas carregadas ou rápidas. Um simulador de sinuca como qualquer outro, exceto pelas regras. Você controla uma bola branca com rosto e pernas, que se movimenta livremente, e o objetivo é derrubar as outras bolas (também com rostos e pernas) na caçapa.

A brincadeira aqui é que as bolas coloridas possuem características próprias e as “mesas” são apresentadas em formatos diferentes, junto de obstáculos que o impedem de acertar as tacadas. Usei aspas porque as mesas são, na verdade, cenários nada convencionais: um acampamento de escoteiros, um galinheiro, um paredão de escalada, um navio pirata, uma peça de teatro, uma montanha-russa… Deu pra sacar que este não é um jogo normal, né?

Um taco e duas bolas

Imagem do jogo Pool Panic
Bora pescar uns peixes em forma de bola. Ou devo entrar com tudo na lagoa?

Há senso de humor pra todo lado em Pool Panic. Em uma das fases na floresta há um guindaste com dois grandes botões laterais pra interagir, só pra constar. Mas não só de piadinhas juvenis vive um bom jogo: as tais bolas coloridas com características são o pilar da diversão. Cada cor representa um comportamento: as bolas vermelhas são sossegadas, as amarelas são medrosas e geralmente fogem, as laranjas (de patins) desviam de você e ainda tiram onda, e por aí vai. Tem até bola em forma de peixe, galinha, ovelha e matrioska.

Cada fase, acessível pelo mapa de uma cidade povoada por bolas de bilhar, apresenta quatro desafios: tempo, tacadas, números de bolas encaçapadas e mortes. Em outras palavras você precisa concluir a fase no tempo limite, dentro do número permitido de tacadas, sem mandar sua própria bola pra caçapa e derrubando um determinado número de bolas antes da 8 (preta). Esta última é a única obrigatória, mas vale a pena se esforçar para concluir as outras três. Só não vá achando que é fácil: desde o início a dificuldade é bem alta, especialmente nas fases com puzzles. São mais de 100 fases, incluindo chefões geniais e 4 pontos de viagem rápida conectados ao centro do mapa, onde nosso protagonista gasta os pontos obtidos para elevar uma área em espiral com fases especiais.

Embora a criatividade seja o ponto forte de Pool Panic, por vezes é também seu ponto fraco. Não no sentido da falta dela, mas sim pelo exagero: perdi a conta de quantas vezes fiquei travado nas fases com puzzle. Todas elas possuem alguma pegadinha que custa ao jogador um certo tempo para entender o que diabos fazer. Pelo menos você pode pular para outras fases e voltar depois, com a mente mais aberta para as loucuras do game.

Imagem do jogo Pool Panic
Uma bola de bilhar entra no bar e pergunta: “Sabe como fazer o giz virar cobra? Você põe o giz na água e o gizboia!”

Por falar em exploração, ela não é totalmente linear: você pode visitar outros cantos abertos do mapa, entrando nas fases na ordem que desejar. Claro que partes deste mundo estarão bloqueados até você atingir um número de desafios completados. Em algumas fases você salvará uma bola em particular, que o acompanhará pelo mapa para abrir um trecho inexplorado. De forma similar, ao resgatar bolas marrons, você desbloqueia fases secretas.

Tem alguém cantando Oasis

O visual do jogo é assinado pelo animador e ilustrador Angus Dick. Um jogo 3D com cara de desenho animado, que casa perfeitamente com o gameplay. Até a câmera funciona super bem, acompanhando de forma sutil os seus movimentos pelo cenário. Bola dentro também para a escolha do compositor, Grandmaster Gareth, que trabalhou no excelente Loot Rascals. A trilha combina com tudo, embora seja tão viajada que pode enjoar após jogar por muito tempo. Aliás, ao concluir os desafios da fase e entrar na caçapa, nossa bola branca entra numa viagem doida pelo espaço-tempo cantarolando algo muito parecido com uma música do Oasis.

Imagem do jogo Pool Panic
A arte do mapa lembra o estilo dos livros “Onde Está o Wally?”

Pool Panic é uma alucinante viagem pelo mundo da sinuca, com duração na medida certa (cerca de 8 horas). Um jogo perfeito para se ter no Nintendo Switch, especialmente pela diversão local promovida com o Arena VS: em dois modos, Festa e Mesa, até quatro jogadores se enfrentam pelo maior placar. Não dá pra dizer não para um game desse, que oferece uma experiência realmente única e por um precinho camarada.

Review – Space Architect

Paulo AlmeidaPaulo Almeida24/11/2024