É realmente difícil definir o que New Super Mario Bros. Wii é. Por um lado, ele é mecanicamente competente e oferece boas horas de risadas na companhia de amigos. Por outro, trata-se do mesmo sistema visto diversas outras vezes no NES e no SNES, trazendo mais um trabalho da Nintendo no qual novas ideias são poucas e a tradição ocupa o holofote.
A maior parte das mecânicas de NSMBW não trazem nenhuma surpresa. A princesa Peach foi novamente raptada, e Mario e cia. devem atravessar oito mundos, cada um com temáticas já esperadas, como deserto, floresta, água etc, até chegar ao último deles e derrotar Bowser. De volta à série depois de anos de ausência estão os Koopalings, os filhos do rei dos Koopas, vistos pela primeira vez em Mario 3. Cada membro da prole é o chefe de um dos mundos, e eles devem ser enfrentados duas vezes em cada área. A primeira vez é simples e não difere em nada de como era feito no terceiro jogo do bigodudo no NES. Pise uma vez na cabeça deles e eles entrarão em seus cascos, passando a deslizar de um lado para o outro da fase. Repita o processo três vezes e estará acabado.
O segundo encontro oferece uma complexidade um pouco maior, já que Magikoopa entra em ação e altera levemente o campo de batalha, enchendo-o de água ou criando plataformas que se mexem, por exemplo. Isso, no entanto, nada faz para deixar os confrontos mais interessantes. Eles ainda são muito fáceis e previsíveis, oferecendo um desafio quase nulo. Mas, mais do que isso, a maneira como eles se prendem à formula vista originalmente em 1988 é um pouco assustadora. A impressão que tive foi a de que fizeram isso apenas para manterem a tradição, sem considerarem a possibilidade de adicionar um pouco de originalidade. É um pouco entristecedor ver como a Nintendo prefere ater-se àquilo que já fez em outras ocasiões ao invés de tentar algo novo com este título.
Esse sentimento toma ainda mais força quando vemos que a grande – e possivelmente única – novidade de NSMBW deu tão certo: jogar simultaneamente com até outras três pessoas. Colocando em termos simples, existem duas experiências distintas dentro de NSMBW, sendo que uma delas é bastante medíocre e a outra oferecerá muitos risos na companhia de amigos. A mediocridade vem de jogá-lo sozinho. Ao fazer isso, é impossível não repararmos como as antigas aventuras em 2D do encanador, em especial Super Mario Bros. 3 e Super Mario World, são incrivelmente melhores e mais bem construídas do que este novo episódio. Na verdade, se você está cogitando jogar o título sozinho, esqueça. Você fará muito melhor em usar seu dinheiro comprando algum outro game do Mario através do Virtual Console.
No entanto, caso você tenha pelo menos mais duas pessoas dispostas a lhe fazer companhia, então a coisa muda de figura. Digo mais duas, porque três parece ser o número necessário para que a experiência seja realmente diferente. Com dois jogadores tudo ainda funciona de maneira coordenada demais, tirando justamente aquilo que faz com que NSMBW valha a pena: o caos.
Com Mario, Luigi e mais dois Toads correndo pela tela simultaneamente, Mario Bros. se torna algo que nunca foi. O jogo que sempre pediu por pulos precisos e recompensava a coordenação, agora nos traz deleite quando fazemos o oposto disso. Não é incomum cairmos em um buraco apenas porque outro personagem pisou em nossa cabeça, ou sermos “engolidos” pela tela porque alguém que pegou uma estrela resolveu sair correndo, sem se importar se os outros conseguiriam o acompanhar. E, é claro, isso leva a uma série de mortes desnecessárias, que poderiam ser facilmente evitadas. Mas não se importar e se divertir com isso parece ser justamente o ponto do novo Mario.
Como o cooperativo é apenas local, até existe como coordenar todos os quatro jogadores, distribuindo ordens sobre o que deve ser feito, mas isso torna a experiência consideravelmente tediosa. Além disso, o próprio design das fases, seja em sua estrutura, tamanho e quantidade de itens disponíveis, leva a crer que jogar de maneira racional vai contra seu intuito. Nunca em nenhum outro Mario Bros. foi tão fácil se chocar contra um goomba e perder um power-up. Ao mesmo tempo, nunca em nenhum Mario Bros. foi tão fácil recuperar um power-up, dada a abundância com a qual eles são encontrados através das fases.
O cooperativo simultâneo é com certeza a maior mudança à serie presente em NSMBW, mas ela não é a única novidade. Existem três novos itens para serem usados por Mario e cia. A flor de gelo, a roupa de pinguim e o cogumelo de hélice. Enquanto todos são interessantes, dentre os três, o único bem usado é a flor de gelo, por aparecer em grande quantidade nos oito mundos. Como o nome já deve deixar claro, ela permite que aqueles que a pegarem soltem bolas de gelo. Os inimigos atingidos congelarão por um período, podendo ser pegos e arremessados, ou usados como plataformas.
A roupa de pinguim e o cogumelo hélice são igualmente úteis, mas infelizmente aparecem muito pouco no decorrer da aventura. A roupa de pinguim funciona como um misto de flor de gelo e a roupa de sapo de Mario 3. Ela também o permite jogar bolas de gelo e faz com que se possa nadar mais facilmente. Além disso, as deslizadas causadas pelo gelo são diminuídas. Por último, o cogumelo de hélice permite que, com o chacoalhar do Wii Remote, os jogadores voem brevemente, e depois disso caiam vagarosamente. A raridade deste item é compreensível, já que com seu uso qualquer fase torna-se incrivelmente fácil, sendo que estamos falando de um jogo pouco desafiador.
Seja sozinho ou com amigos, NSMBW nunca é difícil. Em companhia de outros, a razão disso é simples. Quando um jogador morre, desde que ainda possua vidas, é necessário esperar apenas alguns momentos para que ele apareça voando em uma bolha, podendo prontamente ser salvo. A única maneira de retornar ao mapa e ter de refazer algum pedaço do estágio é caso todos morram ao mesmo tempo, mas é muito raro isso acontecer. Pensando dessa maneira, seria fácil intuir que jogando solo a aventura seria desafiadora, mas não é assim que se dá. Quando estamos sozinhos, o caos mencionado desaparece, deixando evidente como não é necessário muita habilidade para se completar os níveis.
É claro que existem algumas poucas exceções no percurso, mas, via de regra, só ou acompanhado, você terminará o jogo sem problemas. Tendo isso em vista, é um pouco estranho que este tenha sido justamente o título que a Nintendo escolheu para implementar seu Super Guide. Se você vier a morrer oito vezes seguidas na mesma fase, o jogo lhe dará a opção de “se jogar sozinho”. Você pode interromper esse processo e retomar o controle a hora que quiser, podendo, por exemplo, esperar que o computador passe de um trecho específico, para em seguida terminar o resto do estágio sozinho. É um sistema interessante, e garante que os menos habilidosos possam aproveitar as diversas fases que o jogo oferece, mesmo que não consigam passar de uma delas. No entanto, a não ser que o Wii seja seu primeiro console, você terminará NSMBW com vidas de sobra, sem nunca ver o Super Guide em ação.
Apesar da insistência em prender-se à sua tradição e de não arriscar muito com novidades, a adição de quatro jogadores simultâneos torna a experiência fresca o suficiente para ser válida, por aqueles que a puderem compartilhar com amigos. Entretanto, uma coisa deve ser entendida já de partida. Como repeti em mais de uma ocasião, na companhia de outros, este novo Mario pode oferecer boas horas de risos. Ainda assim, toda a experiência baseia-se em uma execução mecânica, não muito diferente da oferecida desde os anos 80 do século passado. Se o riso for tudo que você busca, então NSMBW o deixará pleno. Porém, se o que você espera de um jogo vai além disso, então esqueça. O cerne de New Super Mario Bros. Wii está preso demais às fórmulas de décadas passadas.