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Depois de se consolidar nas plataformas mobile, a franquia Galaxy on Fire finalmente chega para PC e seu primeiro console com o Nintendo Switch. Trata-se de um port do terceiro jogo da série, totalmente retrabalhado para oferecer gráficos bonitos e que até chegam a impressionar em um primeiro momento, porém acredito que dentre a chuva de ports para o console da Big N esse seja um bom exemplo de esforço e oportunidade desperdiçados.

A Deep Silver, responsável por esta nova versão, buscou trazer a experiência de um simulador de combate espacial com uma história sci-fi que poderia estar num livro de Robert A. Heinlein, autor de Tropas Estelares, mas que por fim acaba entregando algo simples que poderia muito bem ser uma fanfic simplificada de alguma série do Netflix.

Imagem do jogo Manticore: Galaxy on Fire
Na esquerda o chefe dos Manticore, no topo ao centro o seu alvo e no lado superior direito os seus companheiros.

Aquela falta de um novo Star Fox fez com que um dos únicos títulos desse gênero chegasse ao Switch com uma certa expectativa, que acaba sendo desfeita após as primeiras horas de muita repetição e falta de interesse pelos acontecimentos do jogo. No entanto, será que não temos um novo começo dos space shooters para os fãs de ficção científica e uma boa dose de tiros no espaço?

Não é uma space opera

Quando olhamos para a história de Manticore: Galaxy on Fire nós podemos perceber uma boa construção narrativa e que prepara o jogador para o desenvolvimento de, além das situações criadas nos primeiros momentos, dos personagens que nos acompanham nesta jornada espacial. Seu personagem é contratado pela equipe de mercenários Manticore para investigar uma conspiração intergalática no Setor Neox, após os acontecimentos de uma catástrofe conhecida como The Shattering. Essa premissa inicial nos traz para dentro desse universo com a proposta de caçar piratas espaciais um a um, derrotando hordas de minions para finalmente ter acesso aos chefes que compõem essa gangue de malfeitores. Dividido em três arcos com mais de 10 missões cada e cerca de 8h de duração, o jogo abusa do clichê que já conhecemos muito bem para desenvolver a jogabilidade: navegar por cenários para encontrar itens e/ou fugir de inimigos, destruir frotas de naves, defender alvos, time-attack para destruir alvos e, por fim, fases bônus para liberar peças para a customização da sua nave.

Imagem do jogo Manticore: Galaxy on Fire
Um pouquinho do Setor Neox que você precisará explorar.

Falando em naves, o jogo garante um bom design com gratas opções para você pilotar. São nove veículos divididos em três categorias que acompanham as facções da história: Terra, Nivelian e Vossk. Você poderá voar com batedores, naves de escolta e armadores, todas com um gameplay muito próximo entre elas, mas que oferecem um bom nível de customização. Não chega no nível de um Need for Speed: Most Wanted, para você construir e remodelar sua nave, mas você terá a opção de atribuir o ataque secundário ao botão ZL, e até mesmo acrescentar habilidades para os botões A e B como, por exemplo, PEM e invisibilidade, porém outras como o acréscimo de manobras ou upgrade no tiro não fazem tanta diferença como esperado.

Ainda sobre os tirinhos (pew pew) que soltamos aleatoriamente para abater os inimigos, a solução encontrada pela Deep Silver pode não ter sido das melhores – dificilmente você errará um tiro, por mais que falte a trava na mira para selecionar o seu alvo, pois eles optaram por uma retícula MUITO maior (realmente exagerada) para compensar o hitbox ao redor dos inimigos. Ou seja, o desafio desse título é muito baixo por conta disso, e acrescentando também a questão que sua nave não explode ao bater em estruturas no cenário, sua única dificuldade será perseguir seu alvo.

Imagem do jogo Manticore: Galaxy on Fire
É nave que vocês querem? Então o seu hangar vai agradar!

Se Babylon 5 tivesse um jogo para consoles, com certeza Manticore seria sua adaptação perfeita. Assim como na série, aqui vemos discussões entre raças intergaláticas lutando dentro de uma teoria da conspiração gigantesca, que por sua vez resulta em uma catástrofe; para isso os desenvolvedores conseguiram criar raças interessantes, muito bem trabalhadas visualmente com características marcantes, sem contar um dos pontos mais fortes do jogo: diálogos dublados. Acompanhando o visual que impressiona por trabalhar o espaço com elementos e estruturas que criam obstáculos que exigirão habilidade do jogador, a história é praticamente narrada e falada pelos personagens. Fica fácil ter um pouco mais de empatia pelosmesmos quando eles falam com você, já que a história é bastante rasa nesse sentido e foca apenas nas situações e ações que necessitam de resolução.

Perdidos no Espaço

Muitas vezes, por maior que seja o esforço dos desenvolvedores em oferecer boas opções para os jogadores, fica claro que a proposta inicial de Manticore e a adaptação da franquia Galaxy on Fire acabam se perdendo um pouco. Com o belíssimo visual e a construção de um espaço repleto de conteúdo e não apenas um vazio imenso, não faz sentido que sua nave não exploda ao tocar em qualquer objeto. Da mesma forma como a promessa de rodar em 60fps só parece funcionar com a versão portátil do Switch e não quando ele está no dock. Pior ainda quando vimos que, em Cuphead por exemplo, a ideia de prolongar a história e o tempo do jogo, com cenários apenas para corridas até o final da fase, funcionaram muito bem; aqui em Manticore isso serve apenas para encher linguiça, tornando-o repetitivo demais.

Imagem do jogo Manticore: Galaxy on Fire
Neox está repleta de piratas e chefões para serem derrotados.

A ideia das várias raças e dos chefões é muito interessante e torna o jogo muito recompensador na questão de trabalhar um desafio e retornar com algo bom para o jogador, no entanto, a partir do momento em que você tem a primeira arma secundária, o seu tiro normal e apenas uma habilidade, essa versão de Galaxy on Fire fica muito simples e fácil de prosseguir até o final. Talvez seja um desafio jogar em algum celular, mas com os Joy-Cons em mãos as coisas ficam bem mais fáceis. Também achei que faltou um pouco de cuidado para otimizar o sensor de movimento do console, que funciona em poucos casos como, por exemplo, nos menus. No entanto, achei muito grata a adição de um “Photo Mode” para ótimas imagens pelo espaço, mas que também requerem muita habilidade por apenas apresentarem zoom e rotação de câmera com uma sensibilidade imensa.

Manticore: Galaxy on Fire brilha pela simplicidade e pela história, por mais rasa que esta seja, ocupando uma lacuna desse gênero que não costumamos ver muito, principalmente em um console no qual se espera muito por outro Star Fox. Tirando o visual, que trabalha muito bem para encher os olhos, da trilha sonora ao gameplay tudo é muito simples e fácil. É mais um daqueles jogos da E-Shop pelo qual você espera por uma boa promoção para poder comprar. Já os fãs de Babylon 5 tem um excelente jogo para adquirir, por mais que os reviews por aí comentem sobre esse título ser uma “space opera interativa”. Talvez tenham ido um pouco longe demais nessa comparação.