Quando você pensa em jogos de estratégia ou RTS, já vem à cabeça construir bases, coletar ouro e madeira ou qualquer outro recurso, melhorar seus soldados e jogar eles contra o inimigo. Basicamente, os games deste gênero se baseiam nesta rotina. Majesty 2, apesar de se classificar como um jogo de estratégia, pega um ou dois itens dessa rotina e oferece um resultado deveras interessante onde você tem um papel mais influenciador, já que suas tropas são comandadas pela vontade própria e não aos seus comandos diretos.
Majesty 2, como o nome sugere, é uma seqüência de um jogo de 2000 produzido na época pela extinta Microprose. Lembro que comprei uma daquelas revistas de games para PC que viam sempre com dois CDs, um com jogo completo e outro cheio de demos, e um desses demos era do primeiro Majesty, que me cativou pelo visual e posteriormente pelas novidades na jogabilidade. Era incrível quantas horas eu perdia naquela demo, vendo meu heróis evoluírem e sendo capazes de subjugar minotauros e trolls com mais facilidade. Só parei de jogar a demo quando ganhei o jogo completo, num aniversário passado. Quantas horas e quantos desafios se foram na frente do teclado naquela época…
Nesta sequência, a essência do jogo não mudou em absolutamente nada. Você continua no reino de Ardenia, que sempre foi atacado por monstros e outras ameaças poderosas. Porém, essas ameaças sempre encontraram o fim de seus planos nas espadas e magias de bravos heróis. Esses, por sua vez, comandados por uma linha de monarcas conhecida sempre por superar esses desafios. Tanto que o rei atual, Leonard, ficou sem nenhum desafio ou adversário para ser superado e assim ter o nome dele também no “Hall da Glória” de Ardenia. Até o momento que ele decide conjurar um poderoso demônio. Como é de se imaginar, o feitiço vira contra o feiticeiro, e o demônio conjurado acaba por eliminar tanto os magos reais quando o próprio rei Leonard. Agora cabe à você, o jogador, um recém descoberto herdeiro do trono (filho bastardo, talvez), liderar seus reinos e heróis para livrar Ardenia desse novo mal.
O jogo segue uma estrutura linear de missões (16 ao todo), sendo que você às vezes pode optar por escolher entre a ordem de uma ou outra missão, nada além disso. Como soberano você deve recrutar heróis para o seu reino. Para isso, é necessário construir no começo de cada missão uma guilda para cada classe (há mais de 10 classes diferentes), que vão dos básicos Warrior, Wizard e Rogue até classes mais poderosas como Beastmaster e Paladin. A maioria das guildas tem “upgrades” que podem ser dados em suas estruturas, oferecendo novas habilidades para os heróis aprenderem e magias que vão desde cura e proteção para seus personagens a magias de dano contra os monstros. Cada herói recrutado e magia usada custam dinheiro, que é o único recurso do jogo – você junta ouro através dos coletores de taxas, que passeiam automaticamente por todas as casas, lojas e guildas do reino e voltam pra o palácio com o dinheiro a ser adicionado ao seu tesouro.
Uma das novidades de Majesty 2 que jogadores veteranos irão adorar é a possibilidades de ressuscitar qualquer herói que tenha caído em batalha a qualquer momento, através do cemitério. Todos que jogaram a primeira versão sabem como era frustrante ver heróis poderosos morrerem e não ter dinheiro na hora ou a magia para reviver o sujeito. Outra novidade é o equilíbrio entre as novas missões, os heróis “zero km” e os monstros mais fortes. Agora a cada final de missão você escolhe um dos heróis para ser um “Lord”, que significa que você vai poder contratar ele nas missões seguintes por um preço referente ao nível dele. Isso faz com que nas últimas missões você tenha um bom arsenal contra os inimigos.
Cada herói que você recruta age por conta própria. Você constrói suas guildas e usa magias que podem ajudá-los. Mas pra onde vão e o que vão fazer e como, é uma decisão de cada individuo e sua Inteligência Artificial. O seu trabalho se resume a influenciar esse comportamento usando ouro e, para isso, existem as chamadas bandeiras. São quatro tipos de bandeiras ao seu dispor: ataque, exploração, de proteção e a de medo. Em cada bandeira você coloca um valor em ouro do seu tesouro para que possa atrair mais e mais heróis para o seu objetivo, seja atacar algum monstro ou castelo, explorar partes não reveladas do mapa ou defender alguma estrutura ou caravana. A única dúvida fica na utilidade da bandeira do medo, porque seu conceito segue totalmente contraditório para esse editor que vos escreve, porque a utilidade dela seria influenciar heróis a fica longe de certa localidade oferecendo dinheiro, mas se a tendência é eles atacarem sob a influencia do dinheiro não seria mais fácil não por nenhuma recompensa evitando que eles se interessassem pelo lugar?
Depois de destruir a toca de um monstro ou pegar a recompensa por alguma bandeira, o herói com os bolsos cheios tem a tendência de esvaziar eles nos estabelecimentos do reino, como o mercado que vende poções de energia e mana e amuletos de proteção, o ferreiro que oferece “upgrades” para armas e armaduras, o bazar mágico com poções de aumento temporário de status, e etc. Todo esse dinheiro gasto nesses estabelecimentos volta para o seu tesouro na forma de taxas criando uma boa estratégia de economia. Um dos desafios do jogo é justamente equilibrar essas economias, entre que e qual herói vai contratar, que upgrades vão dispor pra eles e que magia vai usar (lembrando que cada uso custa algumas de suas moedas). São muitas as opções para os seus heróis, mas abraçar todos eles de cara é pedir para ficar pobre.
O maior problema de Majesty 2, que parece ter aumentado do primeiro para o segundo, é a dificuldade desbalanceada. O jogo é absolutamente cruel e sem misericórdia em alguns momentos, jogando hordas de monstros poderosos em seus heróis de baixo nível, criando tocas de monstros bem próximas ao seu reino ou colocando como objetivo final de um estágio destruir monstros super-poderosos que não estão sozinhos. Para piorar, outro defeito volta da primeira versão: logo depois que seus heróis morrem, aparece dentro do seu reinado o cemitério, que serve para ressuscitá-los, mas que também viram pontos de nascimento de monstros. O cemitério é indestrutível e, a todo o momento, esqueletos e zumbis vão sair da terra para atacar em fluxo constante. São monstros fracos, mas fortes o suficiente para matar os peões que estão indo reparar uma estrutura ou seu coletor de impostos que, ao morrer, deixa o ouro para os monstros. Assim como o cemitério, conforme seu reino cresce vão aparecendo entradas de esgoto e bocas-de-lobo que despejam em cima da sua cidade ratos e homen-ratos e, como o cemitério, estas entradas também são indestrutíveis.
Outro problema é ver como a IA dos heróis às vezes falha miseravelmente. Postar um bandeira de ataque em um toca de monstros pode atrair vários heróis para destruí-la. Mas enquanto eles atacam a estrutura, esquecem de atacar os monstros que a estão protegendo. Ou seja, eles apanham dos monstros sem contra-atacar porque estão 100% focados em atacar a estrutura marcada com a bandeira de ataque.
Na parte gráfica, Majesty 2 usa bem a tecnologia atual, apesar dos modelos dos personagens estarem um pouco fora de escala em relação aos prédios. Cada classe de personagem tem uma cara distinta que, conforme sobe de níveis, vão melhorando seu visual com novas roupas e armaduras. Os prédios também são bem distintos, detalhados e personalizados mudando o visual a cada nível que eles ganham, pecando apenas um pouco na falta de variedade nas cores.
A parte sonora também merece destaque: as músicas com temas épicos e medievais a cada estágio enriquecem a experiência da jogatina, recriando climas de batalha ou mesmo momentos de paz. A dublagem tem um charme todo especial, canastrona e simpática ao mesmo tempo. Cada classe de heróis tem suas frases e sotaques próprios, assim como seus peões, guardas e conselheiros dialogam com um super sotaque britânico. Existem até algumas referências (Easter Eggs) nas frases de cada personagem. Por exemplo: os Wizards, ao morrerem, sempre soltam um “I’m Meeelting”, uma referência ao clássico Mágico de Oz.
Pra finalizar, temos um modo multiplayer para até quatro jogadores (local ou online). Infelizmente, até o fechamento deste review, não tive sucesso em conseguir realizar uma partida que tenha sido terminada ou começada com sucesso, seja por causa da falta de jogadores ou por problemas de conexão.
Majesty 2 é um game recomendado aos fãs do primeiro game e àqueles que gostam de RTS ou de jogos baseados em fantasia medieval. Mas baixe a demo antes de comprá-lo, pois apesar de todas as qualidades, as peculiaridades da jogabilidade e certos problemas como a exacerbante dificuldade podem não agradar a todos.