Com o advento da tecnologia no mundo dos games, muitos dão preferência aos gráficos do que à história. Assim, títulos incríveis acabam passando despercebidos talvez pela escolha de arte ou qualidade visual. Undertale é um jogo que provou que tal relação é algo irrelevante. Utilizando um estilo gráfico semelhante ao de Earthbound, Lenin – The Lion veio para marcar os jogadores.
Assim, o desenvolvedor brasileiro Lornyon nos traz uma história marcante, com personagens incríveis e um estilo visual deslumbrante. A princípio, não sabia o que esperar do jogo, mas com o desenrolar de sua narrativa sobre a vida do solitário leão branco, o jogo me conquistou.
Você acordou cansado e chateado
Lenin é um leão albino, em uma vila de leões “normais” e o único diferente de todos à sua volta, o que torna sua vida uma luta diária. Todos o acham estranho, seus colegas praticam bullying com ele e em casa as coisas são difíceis. Dessa forma, podemos ver que Lenin passa por provações diárias, vivendo com sua mãe depressiva, que não sabe como agir em relação ao seu filho “diferente” e um pai ausente em sua vida. Os vizinhos de Lenin esfregam em sua face que a vida dele será miserável e o proíbem de brincar com seus filhos.
Sozinho e rejeitado, Lenin tem poucas esperanças no futuro. Vivendo nas sombras, nunca na luz do palco, ele segue seu dia-a-dia. Assim dias se passam, até que Lenin resolve voltar à escola e é atacado por seus colegas de classe. Após apanhar dos bullys, Lenin se vê em um mundo bizarro, onde ao invés de seus camaradas leões, ele conhece uma Hiena. Este é apenas um dos vários mundos que Lenin irá visitar e ajudar, em sua jornada de auto-conhecimento e aceitação ao longo de Lenin – The Lion.
Transitando entre os mundos de outras espécies de animais e o seu, Lenin irá descobrir que não há noite que não tenha fim. Encontrando forças para viver cada dia, sendo quem é e sem medo do que os outros pensam, Lenin também irá descobrir que, mesmo existindo pessoas realmente más, ainda assim existem pessoas boas, que não ligam para fatores tão superficiais como a cor de seu pelo. Dessa forma descobre que muitas pessoas também possuem outro lado, diferente daquele que conhecemos.
Lenin – The Lion, é antes de mais nada, uma história simples, mas porém profunda e bem estabelecida em seus fundamentos, assim tornando-se um reflexo da vida para alguns jogadores no decorrer do gameplay do jogo.
Me dê esse ombro para chorar
Como em Undertale, Lenin – The Lion é um RPG, com um foco em uma narrativa mais pacífica. Lenin pode sim escolher opções mais “violentas”, e isso é algo que irá partir de jogador para jogador, o que torna cada sessão de gameplay e cada experiência algo único. Utilizando o jogador como uma ferramenta metalinguística, moldando diferentes escolhas, assim criando diferentes resultados para as ações do jogador.
O jogo não possui cenas de batalha, logo utiliza puzzles e escolhas para avançar. Até mesmo as lutas contra os bosses em Lenin – The Lion, giram em torno de ações em relação ao cenário do que em combates por assim dizer. Os companheiros de grupo que interagem conosco em algumas partes do jogo, não combatem. Tudo isso é tratado com uma boa dose de humor, criando um diálogo interessante com a tristeza que acompanha os problemas de Lenin, mas ainda assim dando uma visão positiva, mostrando que há algo melhor a caminho.
Os gráficos de Lenin – The Lion são baseados em jogos que seguem a temática de Earthbound, tanto na composição artística, quanto nos personagens, “monstros” e design geral. Trazendo uma paleta de cores que remetem a um estado de sonho – como roxo, rosa, branco -, Lenin – The Lion utiliza muitas metáforas para transmitir sua ideia final. Durante sua aventura, Lenin irá encontrar as mais diversas criaturas, sejam elas importantes para a narrativa ou não.
A sonoplastia do jogo também remete aos seus “antecessores”, com músicas calmas e relaxantes, lembrando até mesmo um pouco trilhas Lo-Fi, muito bem produzidas e reconfortantes. Assim, temas como Next To You ou Eye of the Storm se encaixam naquelas trilha sonoras que gostamos de ouvir tanto dentro do jogo ou fora, seja no celular ou em uma viagem de carro.
Estou em casa
Lenin conta com sua companheira mochila para se aventurar pelos mundos. Nela carregamos itens-chave para quests, e itens que irão nos ajudar e proteger. Um destes itens é o guarda-chuva que Magnólia nos presenteia e que protege Lenin da terrível chuva do mundo das Hienas. Também ganhamos chaveiros, representando os amigos de Lenin em cada mundo, uma lembrança para levarmos conosco daqueles que não julgaram Lenin apenas pela cor de seu pelo, juntamente com um livro de memórias onde Lenin pode guardar as fotos das pessoas que ajudou.
Há também CDs espalhados pelo mundo, que podem ser colecionados por Lenin e ouvidos em seu CD-Player. Da mesma forma que Undertale, Lenin – The Lion é um jogo marcante pela sua simplicidade, mas grande poder de diálogo. Um daqueles jogos que gostaríamos de falar sobre por horas e horas, mas no entanto a falta de uma localização em português faz com que o jogo possa não ser aproveitado por todos. A experiência que tive com o jogo foi incrível e será diferente para outros que jogarem. A história deste jovem leão albino é uma poderosa e marcante experiência que rivaliza com outros jogos do gênero.