Noite de Halloween, 1996. Um grupo de adolescentes esquecidos em uma versão distorcida e bizarra de sua escola. Conforme eles andam por esse pesadelo vivo, buscando uma saída, percebem que algo de errado não está certo. Uma força sobrenatural persegue os garotos na forma de três assassinos monstruosos – aparentemente sem motivo algum – pelo simples prazer de matar.
A Elastic Games traz ao mundo uma ode aos filmes de terror dos anos de 1980. Last Year: The Nightmare é um survival multiplayer assíncrono de 5 contra 1 (ok, eu sei, adolescentes, 5 contra 1…). Aí você me pergunta: “André, o que é um multiplayer assíncrono?”
Eu vos respondo, meus caros. Basicamente, é um estilo de jogo multiplayer onde os dois times possuem características muito diferentes, por exemplo: em Last Year um dos times é composto por cinco jovens mirrados e o outro por uma força da natureza capaz de atravessar paredes e destroçar corpos com as mãos.
A vida não é justa
“Mas André, isso não deixa a coisa meio desbalanceada?!” É, deixa. Mas, nesse tipo de gênero, esse é o ponto da coisa. Como temos cinco jogadores buscando alcançar seus objetivos de um lado e um outro jogador sozinho tentando impedi-los de os realizar, a coisa é desbalanceada desde a base e, por isso, ambos têm capacidades diferentes.
A pergunta que fica é: Last Year: The Nightmare consegue fazer o desbalanceamento ficar divertido para ambas as partes? VEJA LOGO APÓS OS INTERVALOS COMERCIAIS!
[Editor, coloca o comercial das Facas Ginsu aqui]Last Year: The Nightmare vai fundo na vibe de filme B dos anos 1990. Fundo mesmo!
O conjunto de personagens une o quarterback bonitão, o nerd cientista, a rainha do baile de formatura, o cara humildão faz-tudo e a garota estranha que as pessoas tem um pouco de medo. Basicamente é o Clube dos Cinco do inferno. Todos eles são maravilhosamente caricatos e suprem muito bem os papéis aos quais se propõem. Em alguns momentos chegam até a ser propositalmente irritantes na composição e nas falas, mas tudo pra manter a personagem.
Contra eles, temos um assassino. Na verdade não só UM assassino. Cada vez que ele aparece, o matador toma uma forma diferenciada com suas características e habilidades. Os monstros disponíveis no lançamento são o Giant, o Strangler e o Slasher – em tradução livre: o Gigante, o Enforcador e o Rasgador.
Servindo-se de uma gama bem grande de possibilidades, os assassinos possuem uma boa variedade de táticas para perseguir suas caças livremente pelos mapas. Pelas divergências em complexão física e habilidades, os monstros têm, entre si, uma grande diferença na jogabilidade. É como estar em um jogo de luta com uma personagem maior que o habitual, trocar para o ágil e terminar com o padrão Ryu da vida.
O jogo ainda coloca como um diferencial o chamado Predator Mode, que permite os assassinos aparecer e desaparecer do mapa ao seu bel prazer. Sabe aquele momento no filme que o cara está correndo há 38 horas, sem nem sinal do Jason atrás dele quando XABLAU! Toma uma facada no peito. E lá estava o menino de máscara de hockey na frente dele. É isso que o Predator Mode promete e cumpre!
Corra, mas corra muito!
Vamos agora para o outro lado da brincadeira. O lado que corre e morre. Independente da personagem que você escolher, são dadas 4 classes como possibilidades de jogo: Assault, Medic, Scout e Technician. Sabe onde você consegue saber as diferenças entre elas e como jogar melhor escolhendo sua favorita? Eu também não sei.
Não há essa explicação em lugar nenhum nessa nhaca. Nem sequer no dito “Guia de Sobrevivência” oferecido pela própria desenvolvedora. Então, no fim das contas, não importa. A única coisa que vi de útil foi pegar o médico para curar pelo menos um pouquinho seus amigos antes do próximo minuto, que é a expectativa de vida nesse jogo.
Um ponto divertido no mar de tensão que é Last Year: The Nightmare é a interação entre as personagens. Falas muito variadas e que, na medida do possível, reagem às situações que aparecem de forma inesperada. É uma boa demonstração de cuidado e polimento ter todas essas falas muito bem dubladas.
Entrando em um novo mapa, o objetivo é reunir as ferramentas necessárias para abrir o portão de escape, esteja ele onde estiver. Vale dizer que, se você nunca jogou e não está muito certo de onde ou para onde correr, boa sorte. O jogo não vai te explicar nada além dos três pontos básicos mostrados em 5 segundos na cutscene de abertura do mapa.
A sensação de correria nunca termina. Cada mapa tem um tempo pré-definido para que seu time consiga fugir, além do encosto de Satã sempre tentando morder suas bundas. Fora tudo isso, supondo que algum de vocês consiga abrir o portão para fugirem, sejam rápidos. Uma vez abertos, os portões se fecham definitivamente em 45 segundos. Então CORRAM!
Para se protegerem de forma mais eficiente, está à disposição dos adolescentes um sistema de crafting. Explorando o mapa, é possível achar pequenas quantidades de sucata que podem ser transformados em uma bela quantidade de equipamentos, como lança-chamas, tacos de baseball ou bombas. Sendo muito honesto, nada disso chegou a sequer fazer parte da minha experiência com o jogo, porque a morte vem como os boletos: rápidos e agressivos. Então se o sistema de craft é bom ou não, não chego nem a conseguir dizer com propriedade.
Na minha visão é muito clara a sensação de que os sobreviventes, da maneira que o jogo está hoje, não tem chance nenhuma de conseguirem fugir com vida a não ser que sejam jogadores muito habilidosos e, somado a isso, o jogador controlando o assassino seja um completo imbecil. Caso contrário, não vejo grandes chances para os adolescentes terminarem sua puberdade.
Se tem uma notícia boa no fim desse túnel é que os desenvolvedores planejam ter bastante conteúdo a ser adicionado no jogo gratuitamente, como um sistema aprimorado de progressão, novos mapas, assassinos, sobreviventes, armas, itens e um novo modo de jogo. Ainda há a possibilidade de conteúdo licenciado, que no caso seria pago, mas uma adição divertida, além de crossplay quando lançado em outras lojas que não a Discord Store.
Por fim, Last Year: The Nightmare é um jogo feito com cuidado e uma certa dedicação. Caso você já seja um bom jogador e manje dos pormenores de jogos como tal, é possível que você se dê bem relativamente rápido. Porém, ele falha fortemente em diversos momentos quando tratamos de game design. É o melhor jogo do gênero que experimentei, mas ainda não é bom por si só.