Em agosto foi ao ar no Netflix o documentário High Score (GDLK no Brasil), uma minissérie em seis episódios que conta um pouquinho dos primórdios da indústria de videogames. Para quem acompanha essa indústria há alguns (ou vários) anos e já teve o mínimo de curiosidade em assistir outros documentários ou pesquisar um pouquinho sobre o passado, provavelmente High Score não tem muito a oferecer, mas isso não quer dizer que não vale a pena assistir.
Cada episódio dura cerca de 40 minutos e gira em torno de um tema específico: a febre dos arcades, a ascensão da Nintendo, o surgimento dos RPGs, a guerra de consoles dos anos 1990, o nascimento (e a polêmica) da violência nos jogos e a revolução dos jogos tridimensionais. Nenhum episódio trata desses temas de maneira muito profunda, mas são as entrevistas com figuras icônicas da indústria, imagens históricas da época e a fantástica montagem que torna tudo muito divertido de se ver.
Além da narração do Charles Martinet (o lendário dublador do Mario), o documentário traz entrevistas com Nolan Bushnell, Tomohiro Nishikado, John Tobias, John Romero, Yoshitaka Amano e várias outras figuras importantes para o crescimento da indústria. O que enriquece a obra não é nem o contexto deles estarem ali (afinal todos já estamos cansados de saber), mas sim seus depoimentos sobre suas experiências pessoais, as dificuldades que tiveram, como as ideias surgiram, como foi a recepção do público e outros pequenos detalhes que não encontramos em qualquer lugar.
Ainda que não seja o foco, High Score também encontra espaço para falar dos maiores torneios de games que aconteceram na época, com direito até a entrevistas com vários de seus campeões (e muitas gravações antigas também). Desde o famoso Nintendo World Championships até um campeonato da SEGA que foi disputado na antiga prisão de Alcatraz (não tem como ficar mais aleatório que isso), veremos toda a trajetória dos campeões e das próprias empresas na sua corrida pelo ouro do mercado de jogos.
De maneira sutil, o documentário também dá voz a algumas figuras da indústria que tiveram várias dificuldades na vida devido a cor da sua pele ou sua orientação sexual, e que ainda assim conseguiram dar um jeitinho de contribuir com a indústria e deixar sua marca na representatividade dos jogos. Eu mesmo admito que, se não fosse por esse documentário, jamais ficaria sabendo da existência delas e como foram importantes para a evolução dos videogames no âmbito social.
Tudo isso é coroado por todas as montagens e efeitos especiais perfeitamente encaixados de acordo com o contexto apresentado em cada episódio. Podemos dizer que isso já representa 50% de um bom documentário e nesse aspecto High Score não falha.
Infelizmente os pontos negativos ficam às custas do conteúdo, que poderia ter sido mais rico e apresentar outros fatos que foram deixados de fora ou explicados muito superficialmente, como foi com o caso do crash da indústria de videogames nos anos 1980. Os caras conseguiram até entrevistar o criador do jogo do E.T. (Atari), mas nem sequer mencionaram que centenas de fitas foram enterradas no deserto! Tudo isso poderia deixar o documentário ainda melhor e mais completo.
A minissérie só cobre até a era dos consoles 16-bit, então não espere ver nada sobre PlayStation, Xbox ou consoles modernos. Acho uma continuação improvável, mas se continuarem contando a história da indústria de games no mesmo nível que foi apresentado aqui, será mais do que bem-vinda!