Já se passaram 12 dias desde que Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition saiu para PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbos Series e Nintendo Switch – chega também aos celulares em 2022. O lançamento veio conturbando toda a comunidade gamer, que parece ver a Rockstar quebrando seu recorde de acertos. É impossível negar que a resultado foi um divisor de águas, mas está realmente tão ruim quanto a internet vem dizendo?
Infelizmente, dessa vez a internet está correta em relação a revolta do público. Ainda assim, não digna de “review bombing”, admito que ver os jogos desta maneira foi bem desanimador. Como muitos outros, eu tinha Vice City e principalmente San Andreas como clássicos absolutos, e a antecipação do remaster fez com que minhas esperanças atingissem níveis estratosféricos.
Mesmo com os erros cometidos, que são muitos, ainda há o que se aproveitar destas versões remasterizadas. Principalmente se você nunca jogou estes games antes. Já os fã, bem, não tem muito o que defender desta versão definitiva da trilogia.

Oh shit…here we go again!
Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition engloba os três jogos que fizeram o nome da série explodir. E isso ocorreu justamente durante a sexta geração de consoles, a época da revolução do mundo dos games, trazendo a queda da SEGA e o Dreamcast, com o surgimento do grande X da Microsoft tomando seu lugar na competição. A série Grande Theft Auto deu o salto para o mundo 3D com Grand Theft Auto III em 2001 e fez com que os títulos seguintes fossem bastante aclamados.
Três diferentes histórias de crime, em diferentes partes dos Estados Unidos e com raízes diferentes, lançando uma longa e ampla rede para os jogadores que adoram histórias do gênero – ou apenas adoram criar o caos completo nos mapas imensos para a época. Seja para os fãs da máfia italiana, os viciados nas noites quentes de Miami e o tráfico de cartéis, ou os que sempre se interessaram pelas guerras de gangues dos Bloods e Crips, a série oferece tudo isso e muito mais.
Com um legado tão grande, era de se esperar que a Definitive Edition trouxesse para a nova geração versões mais polidas, bonitas e com controles mais a par com a atualidade. Grande parte disso foi alcançado de maneira inferior a esperada. E poder jogar os games com gráficos mais bonitos é algo que já não é tão estranho para a comunidade que vinha sendo abastecida com mods desde sempre.

A grande sacada é que Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition é uma versão mais “clean” dos jogos para os consoles, uma vez que a comunidade dos consoles não tem acesso a mods tão facilmente como PC players. Fora os pequenos ajustes em relação à versão que os jogadores dos consoles tinham acesso anteriormente, com as versões padrões dos games.
Uma vez na vida do crime, não há volta
As grandes novidades são, além do upgrade gráfico tanto nos personagens quanto nos cenários, a implementação de um layout ao estilo GTA V, com uma roda de acesso a armamentos e estações de rádio. Tem inclusive opção de reinício de missão imediato a partir de checkpoints em missões falhadas e save automático. Pequenas adições que não fazem jus ao valor astronômico pedido pela trilogia.
Os problemas que a trilogia traz superam em grande número o de “melhorias” que o título diz trazer. Toda essa má comunicação entre produto e expectativa vem do fato de que Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition fora feito por um estúdio menor. Grande parte do desenvolvimento foi liderado pela Grove Street Games, antiga War Drum Studios, responsável pelo port das versões mobile de jogos da Rockstar Games.

A desenvolvedora não possui um catálogo prévio de trabalhos com consoles atuais ou remasters, somente ports. A responsabilidade delegada pela Rockstar foi talvez grande demais para darem conta do recado, mesmo que tivessem se esforçado ao máximo. A bola levantada acabou caindo direto da cobertura de um prédio, logo na cabeça de uma senhora passando na calçada abaixo.
É inegável que a qualidade da trilogia ficou muito aquém do esperado. Se a Rockstar tivesse alocado parte da sua equipe em um remaster digno da franquia, assim como fizeram com as melhorias de Grand Theft Auto V, teriam entregue um produto bem mais interessante e polido.
Remaster incompleto
Mesmo com as qualidades notáveis do mapa, ambientes e modelos dos personagens, é impossível não notar que muita coisa acabou passando despercebida pela equipe. As melhorias gráficas tornaram Liberty City, Vice City e o estado de San Andreas em locais muito bonitos. Mas alguns problemas surgiram com isso, como o super eficaz draw distance, que permite que muito mais do mundo seja visto dependendo da altura.

Com isso é possível ver o quão pequeno são os mapas em relação às experiências mais atuais, algo que pode acabar desmotivando alguns jogadores. Aa chuva mais parece um filtro aplicado em cima da imagem do jogo, atrapalhando a visualização principalmente em GTA 3 e ainda caindo dentro de locais fechados. O famoso pop-in dos mapas continua presente e ainda mais aleatório, fazendo com que veículos surjam do nada e criem um caos desproporcional.
O jogo mantem, ainda que com um draw distance excelente, prédios mais distantes em uma qualidade menor. Na época de lançamento era algo que fazia sentido, afinal memória não se dá em árvores, mas jogar um jogo como Vice City em um PC high end ou PS5 e ver um prédio todo pixelado se aproximando e um carro surgir na sua frente do nada é difícil de engolir.
Eu nem iria citar os modelos dos personagens, tendo em vista que toda a internet já teve sua gargalhada com esse fato. Mas, infelizmente, não há como deixar passar: os novos modelos são exclusivos para os personagens principais dos jogos, com os secundários tendo bem menos importância nesse quesito. E rolam altas bizarrices, como os braços estranhos de Ryder no começo de Grand Thef Auto: San Andreas.

Agora o que realmente me fez ficar incrédulo foi Lance em Vice City durante a missão Cop Land. Nela podemos ver Tommy Vercetti em toda sua glória com seu modelo atualizado, que eu particularmente achei bom para um remaster. Já o Vance, por outro lado, está abominável. Uma mistura do seu modelo antigo com o framework atual dos modelos. Algo digno de pesadelos!
Você escolheu a trilogia errada
Outro grande problema que encontrei foi em parte dos controles. A ideia de adaptá-los para um layout mais semelhante ao de Grand Theft Auto V foi uma sacada de gênio. Afinal, é o jogo mais fresco na mente de muitos jogadores, mas a mira automática aqui acaba atrapalhando muito mais do que auxiliando, tornando certos segmentos do jogo bem mais difíceis do que deveriam.
Essa dificuldade reflete também na pilotagem das aeronaves, que parecem ter incorporado as qualidades de um sarcófago de tão duras que estão. Em contrapartida, as missões que necessitam usar os famosos helicópteros e aviões de controle remoto estão bem mais tranquilas de passar – originalmente, elas eram bem difíceis. Junto com essas alterações dos comandos, facilitando o gameplay, vieram novos bugs que atrapalham o avanço da campanha.

Uma que acabou ocorrendo duas vezes seguidas comigo foi um bug durante a missão Pier 69, de San Andreas: o helicóptero simplesmente não pousava. Na primeira vez eu fechei e abri o game novamente com meu save. Na segunda, o jogo simplesmente crashou. Este mesmo problema vem atormentando também a comunidade de PC que vem jogando Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition.
Capítulos perdidos nas chamas do caos
Como dito no começo do texto, Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition traz os três games que consolidaram o Universo 3D da franquia. Títulos que englobam as histórias e jogos antes de Grande Theft Auto IV e aqueles chamados de Universo HD pelos fãs. E eis aqui outra oportunidade perdida pela Rockstar Games e Grove Street Games.
A maioria conhece os três principais games da série mas, na realidade, o universo 3D se expande por seis jogos. Com isso, a então chamada edição definitiva deixa Grande Theft Auto: Vice City Stories, Liberty City Stories e Advanced de fora, além do capítulo introdutório de San Andreas, chamado de “A Introdução”. São histórias que foram lançadas posteriormente, mas que expandem de forma rica o universo desses jogos.

Para algo que carrega o título de edição definitiva, acredito que seria enriquecedor contar as histórias por completo. Afinal, a Grove Street Games, que já está costumada com ports, poderia portar os outros games para a trilogia sem um tratamento tão profundo. A Rockstar poderia ter optado pelo mesmo caminho da 2K com a série Mafia, fazendo um remaster de qualidade e sem pressa.
Volta inóspita
Mesmo com as melhorias, Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition deixa muito a desejar para jogadores casuais e fãs da franquia. Três excelentes histórias com excelentes bases, como Scarface e os cartéis colombianos, Menace II Society e a história do N.W.A. e a região de Campton. E por fim Os Sopranos e as máfias italianas.
Mesmo com suporte a 4K para PS5 e Xbox Series, DLSS no PC e touch interativo no Nintendo Switch, a trilogia não consegue entregar o mesmo ânimo que muitos esperavam ou tinham quando revisitavam esses títulos pré-remaster em consoles atuais ou no PC. Admito que me diverti jogando, mas Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition passa longe de ser a melhor maneira de se experimentar esses títulos incríveis.