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O que não falta por aí são histórias que giram em torno de mitologias, deuses sendo destruídos por meros mortais e coisas do tipo. Quando vi este jogo pela primeira vez, logo pensei “lá vem mais do mesmo”, afinal o nome já entrega: Gods Will Fall, deuses cairão, então acho que a proposta do game é meio obvia, não é?

Acabou que, em partes, me surpreendi positivamente com este título, apesar de não conseguir ignorar suas falhas. Sem muitas firulas, nosso objetivo fica bem claro desde o início: você controla um grupo de guerreiros celtas e deve desbravar as terras sagradas a fim de assassinar até a última divindade que ali vive. É clichê? Com certeza, mas a execução é o que consegue diferenciá-lo dos demais.

Deicidas

Uma breve cutscene inicial nos deixa a par de tudo que devemos saber: os deuses são tiranos, a humanidade (as tribos nórdicas, mais especificamente) sofre sob seu domínio e chegou ao seu limite. Agora, todo homem e mulher que podem empunhar uma espada formam um grande exército e partem para a guerra contra suas divindades, dispostos a sacrificar tudo para alcançar seu objetivo: matar todos os deuses e construir uma nova era, livre de seus abusos.

Lá vem o bonde dos deicidas…

É claro que isso é praticamente uma missão suicida e quase todo o exército foi dizimado antes mesmo de chegar nas terras sagradas. Apenas um grupo de oito guerreiros sobreviveu à fúria dos mares e agora podem honrar a memória dos mortos terminando aquilo que eles começaram.

Logo de cara você começa controlando todos os oito heróis de uma vez, mas é apenas uma “pegadinha”. Isso só é possível no mapa-múndi, onde devemos encontrar as dungeons em que os deuses se escondem e superar seus desafios até poder enfrentá-los, um por um. Esse mapa é livre de inimigos e você pode jogar na ordem que quiser, sem nenhuma linearidade, mas tem um porém.

Semelhante aos jogos do Mega Man, existem chefes mais fáceis de enfrentar no início e outros bem mais difíceis, então existe uma ordem certa de jogar para não passar nenhum aperto. O problema é que o jogo não te dá nenhuma dica a respeito disso e você precisa ficar na tentativa e erro ao longo de uma dezena de dungeons. Isso é meio frustrante, pois não existe nenhuma indicação de que um chefe será mais fácil que outro. No Mega Man, por exemplo, contávamos com a lógica das armas que recebíamos, então se você ganhou um poder de fogo, é claro que o mais lógico será enfrentar o chefe de gelo, e assim por diante.

Entrei nessa dungeon e não durei um minuto.

Ninguém fica para trás 

Esse fator de explorar dungeons às cegas já dificulta bastante a experiência, mas Gods Will Fall certamente não quer pegar leve com o jogador. Após escolher o chefe que vai enfrentar, você deverá selecionar um entre os oito guerreiros disponíveis para desbravar a dungeon. Sim, você só controla um por vez e não os oito, por isso eu disse que era pegadinha.

Cada personagem possui seus próprios atributos, mas no geral isso não tem muito peso. O que interfere mesmo é a estrutura corpórea do guerreiro, então se você pegar um homem grande, ele será mais forte, mas consequentemente será muito lento, enquanto as mulheres causam menos dano, mas são bem mais rápidas. O segredo é ir testando um por um até encontrar o seu preferido, mas a variedade não é tão grande assim, são oito personagens com apenas dois ou três estilos de combate diferentes.

O chefe mais clichê da história dos videogames.

Uma vez que escolher seu guerreiro, você precisará avançar até o fim da dungeon, onde o chefe te aguarda. Essa parte funciona exatamente como o bom e velho Diablo, onde você só anda para frente e sai matando tudo que se mexe. Os mapas são bem lineares e não existe muito incentivo em explorá-los, pois é muito raro encontrar algum item escondido. A única coisa que somos incentivados a fazer é matar todos os inimigos que encontrarmos, pois quanto mais minions caídos, mais fraco o chefe fica.

Caso você morra ou abandone a dungeon, seu personagem ficará preso lá até que algum outro consiga derrotar o chefe, daí todos que pereceram neste desafio em específico serão libertados… ou você pode muito bem abandoná-los lá e ir enfrentar outra dungeon, mas daí seu time estará desfalcado e isso implica em menos opções de guerreiros para jogar. Para mim, esse foi o fator mais legal do jogo, principalmente porque te obriga a se adaptar às adversidades e alcançar a maestria com cada tipo de guerreiro.

Os gráficos são bem sem sal, mas até que têm uns enquadramentos legais.

O mais legal disso é que os personagens possuem motivações pessoais que podem garantir perks exclusivos. Um exemplo: se você perder um guerreiro em alguma dungeon, outro personagem da party pode ganhar um bônus nos status para encarar o mesmo desafio e salvá-lo, pois o guerreiro perdido era importante para ele, de alguma forma. Mesmo que ninguém ali tenha personalidade ou carisma, esse detalhezinho deixou eles mais humanos.

Mesmo sendo um ponto positivo, isso não invalida a maior questão: por que diabos este jogo não tem co-op? Um simples modo cooperativo de duas pessoas já o deixaria mil vezes mais divertido. Ao invés disso, temos uma aventura solo que, em sua maior parte, será bem frustrante devido à imprevisibilidade das dungeons. Se não bastasse isso, o jogo ainda sofre crashes frequentemente e em um deles cheguei até a perder o meu save, só para deixar as coisas ainda mais “emocionantes”.

No final, até que Gods Will Fall não é tão ruim. Ele definitivamente cumpre o que promete: é um hack and slash de matar deuses, e por isso ele merece o seu mérito. O sistema de perder personagens também é legal, mas o resto não é lá muito atrativo. Ele não tem apelo visual e não consegue ser interessante o suficiente para jogatinas muito longas, sendo apenas mais do mesmo, no fim das contas.

Review – Liberté

Rafael NeryRafael Nery09/12/2024