Review – Fantasian Neo Dimension

Em 2024, a Mistwalker, famosa desenvolvedora responsável por Lost Odyssey e Blue Dragon, retorna ao cenário dos RPGs japoneses com força total para levar Fantasian Neo Dimension numa adaptação para os consoles. Sob o comando do lendário Hironobu Sakaguchi, marcando o retorno de Nobuo Uematsu para compor a trilha sonora, e com o selo de qualidade da Square Enix, este título é uma fusão perfeita entre a nostalgia dos clássicos e inovações mais atuais ao gênero.

O retorno da dupla Hironobu Sakaguchi, carinhosamente chamado de “pai de Final Fantasy”, e Nobuo Uematsu, o lendário compositor conhecido como o “John Williams dos games”, marca um momento nostálgico e emocionante para os fãs de JRPG. Esta colaboração reúne dois dos nomes mais influentes da indústria de jogos para oferecer aos jogadores uma experiência que combina narrativa envolvente, visuais únicos feitos com dioramas, e uma trilha sonora memorável.

Mesmo se apoiando no clichê do protagonista que sofre de amnésia, Leo, que acorda em um mundo estranho dominado por máquinas, com apenas a lembrança do rosto de uma jovem. Esta premissa serve como ponto de partida para uma jornada de autodescoberta e salvação do mundo, temas recorrentes em muitos RPGs japoneses. Embora a estrutura e muitos elementos da história sejam familiares aos fãs do gênero, a combinação única deles com a estética visual distintiva dos dioramas e a narrativa bem elaborada fazem com que Fantasian Neo Dimension tenha uma identidade própria dentro do cenário atual dos JRPGs.

A narrativa explora conceitos como, por exemplo, a dicotomia entre máquinas e humanos, viagem entre dimensões paralelas e ameaça global, conhecida como Mechteria e responsável por ser uma infecção mecânica capaz de roubar vida e emoções. Além disso você encontrará temas aderentes à filosofia e cultura japonesa sobre as relações humanas, senso de identidade, conexão com a natureza e um conceito muito interessante sobre a impermanência das coisas, conhecido pelo xintoísmo como Mono no aware e que significa “empatia para com as coisas”.

O jogo brilha com seus personagens carismáticos. A tímida Kina e a impetuosa princesa Cheryl adicionam profundidade à jornada de Leo, criando dinâmicas interessantes e momentos memoráveis. Um toque especial são as histórias secundárias apresentadas como contos ilustrados, adicionando uma camada extra de encanto à narrativa. Tudo isso reunido de maneira muito intrigante e que serve de pano de fundo para a dicotomia entre realidades mecânicas e humanas, capaz de explorar temas sobre perda, esperança e resiliência.

A mais pura arte dos games

Fantasian Neo Dimension consegue entregar visuais simplesmente deslumbrantes. Os cenários em diorama, criados a partir de mais de 150 maquetes reais, construídas por Sakaguchi em parceria com empresas especializadas em cenários para séries de Tokusatsu, oferecem uma estética única que consegue se destacar na imensidão de jogos do gênero. Cada ambiente é um deleite visual e uma verdadeira obra de arte, meticulosamente detalhada e digitalizada para o jogo, fazendo com que tanto os ambientes abertos ou interiores sejam extremamente detalhistas em suas texturas.

O mundo de Fantasian Neo Dimension funciona muito bem numa mistura de elementos de fantasia e tecnologia, carregando elementos de visual novels, com as histórias secundárias, conhecidas como Memórias, que oferecem um aprofundamento sobre o mundo e os personagens, muito semelhante ao que vimos em Lost Odyssey.

Para fechar essa trindade, a trilha sonora é excepcional e carrega o estilo característico de Uematsu, apresentando uma variedade de estilos musicais, incluindo rock, jazz, folk, música eletrônica, clássica e tradicional japonesa. As composições evocam uma gama de emoções, desde tristeza e nostalgia até esperança e heroísmo, utilizando uma combinação de sintetizadores e instrumentos reais.

Mesmo com toda essa qualidade narrativa, visual e sonora, a adaptação do jogo não conseguiu ser repensada totalmente, afinal Fantasian Neo Dimension foi inicialmente lançado como exclusivo para Apple Arcade e chegando quase cinco anos depois para os consoles. A interface e os controles, originalmente projetados para dispositivos móveis, nem sempre se traduzem perfeitamente para plataformas acostumadas com jogabilidades mais robustas e complexas, resultando em escolhas que simplificaram demais o desafio, seja na movimentação quase automática ou no combate raso.

O novo e o velho num só RPG

Com um “quê” de point and click no combate e movimentação de Leo, nem sempre temos uma experiência fluida, afinal ela foi pensada para ser direcionada ou trilhada com os dedos e adaptada (diferente de pensada) para os controles analógicos. Por exemplo, ajustar a direção e trajetória das magias facilita o desafio, mas não proporciona um combate ágil. Ou até mesmo selecionar o destino para Leo e apenas acompanhar seu deslocamento podem tornar o gameplay em algo mais enfadonho. Isso sem contar que muitos elementos na HUD e menu mantiveram o design original focado no mobile, fazendo com que em telas maiores acabassem ficando gritante e um pouco desproporcional mesmo com o ajuste no tamanho dos personagens.

Escolhendo bem sua party, Fantasian Neo Dimension em sua dificuldade normal não exigirá muito farm e pode proporcionar batalhas muito interessantes por conta dos personagens. Kina é uma boa escolha pela sua habilidade de cura, Cheryl oferece os ataques mais fortes, além de Valkyria, Zinikr e Ez sempre figurarem entre as melhores opções por conta da dinâmica entre eles e Leo, além dos hilários robôs Prickle e Clicker .

Com a party, o posicionamento surge como estratégia fundamental, por conta dos ângulos de ataque, além dos buffs e cartas, que oferecem efeitos e potencializam habilidades em momentos específicos. Na maioria das lutas nem sempre você encontrará os melhores desafios, porém os chefes surgirão com mecânicas diferenciadas e que carregam os momentos mais interessantes.

As mecânicas desse JRPG conseguem combinar elementos clássicos como, por exemplo, o mapa de crescimento muito similar ao Sphere Grid de Final Fantasy X, com a jogabilidade pensada para o mobile, oferecendo um gameplay simples e com camadas de profundidade estratégica, ao mesmo tempo em que desenvolve batalhas batalhas divertidas e momentos envolventes.

Fantasian Neo Dimension é uma carta de amor aos clássicos, com um toque moderno que o torna relevante para a nova geração. Apesar das escolhas na adaptação para novas plataformas, que podem parecer duvidosas, o jogo brilha com sua excelente construção de mundo, narrativa muito competente, visuais que desbancam jogos mais atuais e um sistema de combate que tenta inovar. Para os fãs de RPGs japoneses, o novo jogo da Square Enix e que marca o retorno da dupla Sakaguchi e Uematsu, também é uma viagem nostálgica com boas e suficientes na adaptação para novas plataformas para manter-se relevante e interessante.