Com a avalanche de AAA realistas que apostam sempre nas mesmas coisas, poder jogar um indie artístico que foge dessa bolha é algo muito bem-vindo. Blanc chamou minha atenção desde o primeiro trailer, nem tanto pela temática, mas sim pelo visual, que parece um rascunho vivo – isso mesmo, não uma pintura, mas um monte de rabiscos feitos a lápis, formando um belíssimo desenho com aspecto inacabado.
O jogo bebe da fonte de outros indies famosos e aposta alto na simplicidade, sendo um daqueles joguinhos que a gente começa a jogar em uma tarde de domingo e termina no mesmo dia. Podemos dizer que a principal proposta é ser uma experiência relaxante e minimalista, sem diálogos, enredos mirabolantes ou até mesmo o mais básico: cores! Nisso ele consegue ser bem-sucedido, mas infelizmente acaba tropeçando dentro de suas próprias ideias.
Cooperando para sobreviver
Blanc é a história de uma dupla de animaizinhos muito simpáticos: um pequeno cervo e um filhote de lobo. Ambos estão perdidos e precisam encontrar suas famílias, então acabam unindo forças para conseguir cruzar uma floresta coberta de neve e repleta de obstáculos. É tudo que tenho para dizer sobre, pois é literalmente só isso! O foco aqui fica todo no gameplay e passa longe do enredo, por isso é uma jornada totalmente muda e contemplativa.
Isso não é algo de todo ruim, principalmente pelo fato do jogo ser curto (em apenas duas horinhas você consegue matar ele). Contudo, não dá para negar que algumas coisas poderiam ser mais desenvolvidas, por exemplo: assim que os dois bichinhos se encontram, eles se tornam melhores amigos instantaneamente – isso logo no primeiro minuto de jogo. A química é imediata e não tem construção alguma, deixando as coisas um pouco forçadas. Por outro lado, como a história de Blanc está ali só para justificar o jogo em si, esses detalhes acabam não pesando tanto.
Blanc pode ser jogado tanto sozinho quanto com outra pessoa em co-op. Ambas as formas funcionam muito bem, mas acredito que o singleplayer acaba sendo o jeito “certo” de jogar, pois deixa o jogo minimamente mais desafiador e ainda respeita seu lado contemplativo. Não nego que jogar com um amigo pode deixá-lo um pouco mais divertido, mas ele é tão fácil que provavelmente vai acabar resultando em um bom bate-papo, tirando toda sua atenção dos pontos positivos do game.
Se jogado sozinho, Blanc funciona da mesma forma que Brothers: A Tale of Two Sons (do mesmo criador do genial It Takes Two), então quem já jogou provavelmente não terá muitas dificuldades em se adaptar aos controles. Você controla os dois animais ao mesmo tempo, cada um por um analógico, o que na teoria parece fácil, mas seu cérebro vai bugar diversas vezes no processo. A boa notícia é que o jogo facilita muito esse processo, já que os caminhos são bem lineares, então acaba sendo bem mais fácil que no Brothers. Por isso que recomendo fortemente jogar em singleplayer, pois o co-op tira esse detalhezinho do bug cerebral e o game vira um passeio no parque em uma tarde ensolarada.
Bonitinho, mas ordinário
Como já enfatizado, o estilo artístico de Blanc é muito legal e bastante autêntico, apresentando um aspecto de desenhos e rabiscos feitos a mão e, é claro, totalmente monocromáticos. O problema é que o gameplay é tão repetitivo que a sensação de estar fazendo a mesma coisa o tempo inteiro acaba se misturando com o visual; o fato dele só ter duas cores intensifica essa repetição, de alguma forma. O jogo é curto, mas não demora nada para você perceber que ele não vai sair muito daquilo que já apresentou logo de cara.
Tudo se resume a avançar e interagir com algumas coisas aqui e ali para solucionar puzzles – todos muito simples, diga-se de passagem. Cada personagem possui características próprias, então devemos usar o lobinho para entrar em lugares apertados e cortar cordas, enquanto o cervo consegue pular mais alto e empurrar objetos. É só isso, todo quebra-cabeça se resume a esses movimentos e, passado o primeiro capítulo, é inevitável fugir da sensação de déjà vu.
Eventualmente, nos deparamos com outros animais ao longo da jornada, fazendo pequenas aparições que diversificam levemente as coisas, mas que no final não conseguem fugir da mesmice. É uma pena, porque mesmo sendo um jogo curto, não dá para ignorar todas as limitações em suas mecânicas e level design. Por mais que os devs da Casus Ludi nunca tenham escondido a premissa simplória, a sensação que fica é que não houve muito cuidado e criatividade na elaboração de elementos cruciais dentro do game. Caso ele tivesse pecado em outros aspectos, mas fosse mais divertido, seria mais fácil de relevar.
Blanc é um jogo básico em todos os sentidos, se destacando exclusivamente no visual. Diante disso, o fato de ser curto acaba sendo algo positivo, então ainda vale a pena dar uma chance – inclusive para o co-op, pois é um título perfeito para quem é mais casual ou não tem muito costume de jogar. É difícil de recomendá-lo em outras circunstâncias, principalmente pelo excesso de alternativas melhores e mais criativas disponíveis no meio indie.