Se existe uma palavra que defina a experiência em Xenoblade Chronicles 3, com certeza escolheria a palavra “mágico”. Uma das franquias de JRPG mais sólidas da Nintendo e com tanto potencial mais uma vez se mostrou uma barreira vencida em sua própria plataforma e entrega, com maestria, o que todos os fãs sonharam em ver dentro do console híbrido e até hoje não tinham em mãos.
Ainda que os dois primeiros, por mais que obtiveram suas críticas, sejam obras-primas, é neste desfecho da trilogia que mostram que não adianta só se superar: tem de fazer o público se encantar pelo material também e isso eles tiram de letra. Mesmo zerando ambos os anteriores, o começo nunca tinha me engatado em nenhum deles. Sabe aquele sentimento de “está enrolando muito, depois eu vejo”? No terceiro não passei por isso, muito pelo contrário: estou com uma sensação de encanto que está acompanhando toda a minha jornada.
Não tem outra, julgo ser impossível um fã de boas histórias e que busque um título com estratégia competente e um mundo gigantesco para se explorar não curta o que verá no trabalho da Monolith. E veja bem, ele não é perfeito. Na verdade, ele entrega tudo de uma forma tão boa que os problemas na verdade parecem coisas minúsculas dentro daquele grande universo que está desvendando. Coloque a sua mochila e se prepare, pois nessa viagem para Aionios não terá espaço para lamentações entre as batalhas e a poderosa trama.
Só uma coisa importa em Xenoblade Chronicles 3!
Eu devia começar a falar de Xenoblade Chronicles 3 pela sua história e mecânica, mas é virtualmente difícil não citar aquilo que mais chama a atenção daquilo que o game oferece: explorar os ambientes, encontrar monstros, ver histórias sendo contadas e escritas bem à sua frente…tudo isso é de um encanto sem igual. A partir do momento que você bota os pés para desbravar esse mundão afora, não só estará mergulhado em tudo que ele tem a oferecer como lutará para não pensar sobre ele durante o tempo que não estiver por lá.
Sim, caros leitores, este texto está sendo escrito com lágrimas de sangue porque estou doido para continuar minha aventura e ver onde mais ela me levará. De início, afirmo para vocês que tudo nele é convidativo. Quase todos os recursos são opcionais e não sei se alguém terá a coragem de optar por não entrar em cada caverna ou templo para buscar seus segredos. Também garanto que não ousará abandonar aquela parte vazia do mapa e ver onde pode te levar. Nem que espécie de monstros e itens encontrará naquele lugar.
E isso parece te levar numa verdadeira avalanche de exploração. Quanto mais você conhecer, mais vai querer mergulhar para saber o que sairá das sombras. Personagens inéditos para serem inclusos no hall de heróis que ajuda o grupo, novos midbosses, itens raríssimos ou até algum recurso que você nem sabia que tinha e está aberto para qualquer um chegar e descobrir. Vou ser bem sincero que foram pouquíssimos que despertam essa natureza no jogador e aqui o tiro é certeiro nela. Meu conselho é: nem comece a jogar se não estiver disposto a se afogar no conteúdo que ele traz.
E estes ambientes assumem vastos tipos de biomas, de grandes cânions a céu aberto, florestas tenebrosas e até grandiosos sítios de escavação que estão espalhados e apenas te aguardando. Claro que nada disso em Xenoblade Chronicles 3 seria possível sem um pilar forte que rege a trama e motivação dos personagens para ir até lá. Porém, a principal que é a sua, será levada sem a menor piedade e te fará ficar envolvido em pouco tempo dentro dali. E acredite, apesar de eu estar jogando a moral lá para o alto, esta é apenas a ponta do iceberg.
O mapa também conta com diversos eventos rolando e cabe aos jogadores decidirem se participam deles durante a jornada ou não. Tropas escoltando áreas, brigas entre duas espécies de monstros, baús de sobrevivência caindo pela área e muito mais te esperam conforme avança. Para completar, o grupo é bem comunicativo e isso te ajudará a seguir em frente com a equipe. Lembra das histórias de Kratos no barco com Atreus ou os comentários feitos enquanto viaja ao lado de Pateta e Donald na franquia Kingdom Hearts? Será basicamente assim, mas sem a famosa repetição de “Man, What a Bunch of Jokers!” Graças aos bons deuses.
Um enredo que conecta a tudo
Como citamos anteriormente, nada disso seria possível sem um dos alicerces principais do enredo. Aionios não é como os demais mundos que conhecemos anteriormente, onde as coisas eram pacíficas até um certo evento mudar a vida dos heróis. Aqui eles nascem e vivem pela guerra, com uma estimativa de dez anos para darem lugar a outros heróis. Simples assim, nossos protagonistas já vieram ao mundo com prazo de validade, caso não morram no meio de uma batalha entre duas grandes nações.
Noah e Mio dividem o holofote central, sendo dois off-seers: pessoas que enviam a alma dos mortos para o além com o uso de suas flautas em Xenoblade Chronicles 3. Isso recordará bastante os fãs de RPG do trabalho de Yuna, em FFX, caso queiram um exemplo. Porém, ambos executam suas funções em lados opostos deste confronto e acabam se unindo, junto aos demais membros do grupo, em uma missão ingrata e sem muitas chances de dar certo.
Não oferecerei mais do que isso porque seria entregar grandes spoilers e ninguém fará isso por aqui, considerando a magnitude de sua longevidade. Ainda assim, quem escreveu os diálogos e tramas de cada um merecia um prêmio porque não vi UMA ponta solta ou mal-executada neste quesito. O início, desenvolvimento de personagens e do mundo que os cerca, conclusões, plot twists, tudo ali vai te instigar a passar mais tempo na tela e querendo continuar consumindo mais do que eles têm a oferecer. Sem dúvidas, um espetáculo desta Monolith.
E a trama não abraça apenas os protagonistas, mas também os heróis que preenchem as diversas colônias e localizações diferentes do mapa. Sendo bem sincero, você acabará se envolvendo bastante com a história deles também e até se surpreenderá com alguns desdobramentos. Vale notar que tudo aqui se entrelaça perfeitamente com a própria trama dos personagens centrais e não estão ali “à toa”. Você pode até pular elas, já que a maioria é opcional, mas perderá bastante do que colocaram de alma no desenvolvimento. Fora que também passará fora de uma das ótimas oportunidades de conhecer mais os membros do seu próprio grupo.
Recomendação e comparação de alguém que zerou os dois anteriores: se a história de Shulk e a lâmina Monado foram boas para você, assim como a jornada de Rex com Pyra e Mythra, aqui eles se superaram. Noah, Mio, Lanz, Sena, Eunie e Taion – assim como uma diversidade impressionante de heróis e até vilões – elevam o patamar e entregam o que se tornou o maior JRPG de 2022. Ouso dizer que até de toda a vida útil do Nintendo Switch, mas isso é apenas uma consideração pessoal minha em relação ao Xenoblade Chronicles 3.
E o gameplay é tudo isso?
Falando nas mecânicas, muitas coisas foram inclusas para adaptar a experiência aos jogadores nas novidades do gameplay. O que mais chama a atenção e vai surpreender é o recurso de fusão, que surge quando dois personagens já compatíveis ressoam em meio das batalhas. Divididos em três níveis de poder, cabe ao jogador adaptar qual será o melhor momento de utilizá-las e mudar a maré ao seu favor. Porém, a estratégia ainda decide se o seu movimento salvará o dia ou se ele foi usado de forma leviana e afundará ainda mais o time.
Para usar os movimentos únicos, foram herdados os dois formatos antigos: enquanto o povo de Keves carrega os golpes enquanto o tempo passa dentro da batalha, a galera de Agnus carrega eles através do auto-ataque. São diferenças bem singelas, mas que vão se adequar melhor para aqueles que preferem um estilo do que o outro. É a Monolith falando: dá para pular de qualquer um deles para o terceiro título que você não sairá tão perdido assim. Ao menos não a ponto de perder as primeiras batalhas.
E toda a estratégia de Xenoblade Chronicles 3 se mantém extremamente rica de recursos disponíveis e que vão sendo inclusos conforme avança. Tudo depende dos ataques, sua posição no cenário, se consegue fundir duas técnicas em uma só para desferir um golpe mais poderoso, se o seu personagem que está controlando pode usar a fusão naquele momento, isso sem falar o combo e os bônus de cada classe disponível. Inicialmente são detalhes demais e terá muita coisa rolando em tela, mas quando você se acostuma não se tornam um empecilho.
O sistema de classes também é bem influente e, dependendo do set do seu time completo, muitas batalhas podem ser vencidas ou perdidas. Não adianta você querer enfiar uma equipe apenas de atacantes ou médicos que isso não vai resolver a sua vida, muito pelo contrário. Se não houver uma equipe equilibrada e bem organizada em suas tarefas com Skills / Arts e até itens, você cairá. Dica do redator para Xenoblade Chronicles 3: fique muito atento a isso, é um dos elementos mais importantes e salva de muitos “game over”.
Como não é apenas de combates que se faz um bom gameplay, todo o sistema de exploração do mapa, diálogos, missões principais e paralelas entrega o básico. Muito pelo contrário disso ser ruim, é extremamente prático e se você jogou qualquer outro JRPG na vida vai pegar tudo de primeira. Porém, a equipe da Monolith deixou algumas opções de fora propositalmente para subir um pouco o nível de dificuldade, como a rota exata para seguir para a próxima tarefa por exemplo. Não reclamo, já que isso limita bastante o passeio quando ativa, mas se deseja facilidades vai ter de procurar por elas.
Meu único problema nisso com Xenoblade Chronicles 3 são os impedimentos confusos que apresenta. Inicialmente você não pode subir campos de areia nem mesmo escalar em locais específicos. Alguns heróis te ensinarão a fazer isso, assim como liberar o glide disponível entre algumas áreas distantes. É compreensível em termos narrativos, já que algumas coisas acontecem nestes locais apenas depois de certo trecho do game. Porém, em praticidade me incomodou um pouco. Lembra os HMs de Pokémon? Mais ou menos assim.
Quis muito explorar alguns territórios e não pude até chegar em determinado ponto da história. Não que isso se tornou uma grande dor de cabeça, até porque área a ser visitada é o que não falta por ali. Porém poderiam ter me desmotivado da mesma forma como vi em alguns outros trechos, colocando criaturas de lv.60, 70, 80 ou até mais passeando por ali que eu teria dado a volta sem pensar duas vezes. Acredite, isso vai acontecer bastante. Apenas me dizer “não pode vir aqui agora” desanimou um pouco meu espírito explorador.
Um espetáculo em Xenoblade Chronicles 3
Vale também citar aqui a performance impecável que o título carrega dentro do Nintendo Switch. Eu não sei o que a Monolith fez ali exatamente, mas se pudesse dar um chute diria que foi um milagre. Telas de carregamento velozes, foram pouquíssimos bugs que localizei, nada travando no meio da ação – mesmo com uns 10 ou mais personagens realizando ações únicas simultaneamente em Xenoblade Chronicles 3 – tudo rodando de forma lisa como se o console tivesse nascido para aquilo. Isso foi uma das maiores surpresas para mim, sendo bem sincero não achei que o primeiro modelo do aparelho, lá de 2017, fosse aguentar o tranco e se mostrou algo incrível.
A trilha-sonora também está nota 1.000 pelas suas execuções, principalmente pela inclusão das famosas flautas usadas dentro da história. Em entrevistas a equipe já afirmou que trabalhou bastante com o instrumento, já que é uma das principais tarefas dos protagonistas, e isso gerou outro grande acerto. Ouví-la nos combates, em cenas tristes e até no menu principal vão fazer o seu som suave ficar se repetindo na mente.
Porém, nem tudo é perfeito em Xenoblade Chronicles 3 e devemos falar de certos desafios que cansam um pouco durante a aventura. Um deles é o excesso de cutscenes sequenciais, quais vão incomodar bastante o público. O problema não é entrar em uma: é sair dela, dar cinco passos e ter uma outra logo em seguida. Ao menos isso não acontece com tanta frequência, apenas em determinados eventos da história principal. A questão da exploração alivia bastante este fator, mas não deixa de ser chato.
Sem falar em um problema que a franquia carrega desde os seus primórdios em 2010 que é a câmera ruim. Não apenas em um, mas em vários momentos, você pode e vai acabar perdendo o foco e acabará nem sabendo onde está o seu personagem ou quem exatamente está atacando naquele momento. Ainda que um recurso visual esteja disponível para destacar ambos, se ver uma fusão ou um golpe especial de seus aliados e acabar se distraindo um teco, nada garante que as coisas estarão na mesma quando olhar novamente para seu personagem.
Colocando minha carteirinha gamer em risco aqui, juro para vocês que teve vezes que morri e só reparei nisso alguns segundos depois. Vamos ser sinceros, o que chama mais a atenção: dois personagens da sua party brilhando, se transformando em um ser abissal e disparando uma infinidade de lasers bem do seu lado ou o seu herói ali, sem estar com as artes carregadas e desferindo um golpe de espada a cada 2, 3 segundos? Sorte que dá para alternar eles e consegui me recuperar em todas as vezes, mas são coisas comuns de ocorrerem.
Como eu falei antes, isso atrapalha? Sim. Porém, são tantos acertos e coisas épicas que acabam sendo reduzidos na escala de raiva gratuita enquanto joga. Não se engane, são elementos importantes e que deviam ter sido levados mais a sério durante o desenvolvimento de Xenoblade Chronicles 3, mas o restante apenas gera um momento de “ok, ao menos quando acabar isso eu vou [insira o próximo monstro a enfrentar ou área a ser explorada]”. E está tudo bem.
Também devo lembrar, por fim, que a experiência de grindar até níveis mais altos é uma curva muito mais suave do que encarou no passado da franquia. Chega de ficar horas e mais horas encarando oponentes extremamente poderosos para subir de níveis. Enfrentando monstros únicos, você ganha experiência bônus que pode ser resgatada nos acampamentos. Como em Final Fantasy XV, se lembra disso? É simples, você pode subir de level durante a batalha, seguir para o descanso e, dependendo da sua performance e quantas destas criaturas eliminou para subir 1, às vezes 2 níveis a mais. Apesar de facilitar um pouco, te corta bastante tempo de treinos infundados.
Caso você seja apaixonado por JRPG e tenha a oportunidade de jogá-lo, acredite que é uma das melhores pedidas que o Nintendo Switch tem a oferecer. Gosto muito do primeiro, mas Xenoblade Chronicles 3 me tomou de assalto e se tornou o meu favorito de toda a franquia. Além disso, é uma jornada inesquecível e que vai te garantir centenas de horas descobrindo um universo que vale a pena ser visitado. Ele é, sem dúvidas, o divisor de águas no console e uma verdadeira prova de que o gênero está evoluindo bastante conforme as gerações mais novas estão se alocando.
Agora a dúvida aqui é a minha: está esperando o que para ligar o seu videogame e começar a jogar agora mesmo? Não que eu não quisesse que estivesse lendo aqui, mas no seu lugar e sabendo exatamente o que está perdendo neste momento, não hesitaria em iniciar o jogo de imediato e esquecer de todos os nossos problemas “aqui fora”. Ao menos é o que vou fazer a partir de agora, se demorarem para ver outro review meu já sabem por onde estarei andando.