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A Monolith Soft, sinceramente, merecia um troféu por seu legado. Em 1998, ainda no primeiro PlayStation, o escritor Tetsuya Takahashi ajudava a criar Xenogears. Mesmo com o fim da saga de Fei Fong Wong, ele continuou a trabalhar em seu estúdio recém-criado na sequência espiritual, chamada Xenosaga. Ela terminou e, finalmente, tivemos Xenoblade Chronicles, no ano de 2010, exclusivo de Nintendo Wii.

Uma obra-prima de sua geração, a história de Shulk e de sua lâmina Monado foi tão intensa que o jogo, antes lançado apenas no Japão, teve uma petição em peso para trazê-lo ao mercado ocidental. E isso só potencializou o que já sabíamos, o game não desagradou aos fãs nem aos críticos. Mantendo sua classificação no Metacritic de 92, é inegável que o sucesso era um dos sinônimos traduzidos para o título.

Este é o poder do Monado!

O RPG começa de uma forma colossal e se mostra logo nos primeiros segundos de vídeo em Xenoblade Chronicles. Em tempos ancestrais, dois seres gigantescos duelaram até a morte em terras desconhecidas. Bionis e Mechonis lutaram bravamente e seus corpos agora estavam inertes enquanto várias formas de vida começaram a viver ali. De um lado, os homs e outras raças humanoides. Do outro, máquinas dos mais diversos tipos. Obviamente a paz não durou muito entre ambos também.

Não demorou muito tempo para uma guerra acontecer entre os lados e causar inúmeras fatalidades. Porém, os homs se consagraram vencedores e causaram a fuga dos robôs. Isso por causa de Dunban, o herói que portava a lâmina Monado. Ela é a única que causava dano nos seres mecânicos e ajudou a afastá-los para garantir a vitória. Porém, causou problemas sérios ao seu corpo e ele teve de se aposentar logo em seguida. Um ano depois, um novo ataque acontece na Colônia 9 e Shulk se mostra capaz de controlar o poder real da espada.

Imagem do review de Xenoblade Chronicles: Definitive Edition
Monado é a espada que Shulk carrega e permite ver o futuro.

Porém, descobre que ela faz mais do que bater em máquinas e ser empunhada por heróis. O Monado permite que o usuário possa ver o futuro. Shulk enxerga várias ramificações do que vai acontecer em combate e toma suas decisões baseado nisso. Após um grande estrago e algumas mortes, ele parte em uma viagem buscando vingança e assim começamos a nossa jornada dentro do título.

Xenoblade Chronicles: Definitive Edition é, nativamente, um RPG de ação. Não há turnos, você e seus oponentes batalham ao vivo e não fazer nada o combate inteiro ou não escolher as técnicas corretas resultarão em sua morte in-game. Porém, há muita estratégia no meio e dominar isso é o segredo da tranquilidade entre os conflitos. Tem técnicas que abrem um sistema chamado Break e outras que, em combo, derrubam o oponente no estado Topple. Elas evitam que sofra mais dano e abre espaço para carregar o próximo ataque ou recuperar a saúde da party.

Imagem do review de Xenoblade Chronicles: Definitive Edition
Você pode infligir vários efeitos pra derrubar os monstros difíceis.

Entre os recursos, algumas táticas de cura, personagens que usam diferentes tipos de armas e isso afeta diretamente no meio da ação, joias que equipadas à sua armadura dão bônus ou vantagens entre várias outras opções estão lá para tornar sua vida mais fácil. Ou difícil, dependendo da sua paciência. Você acabará realizando grind de tempos em tempos, seja para alcançar níveis superiores, itens mais raros, materiais para criar as joias etc.

Se mostrando muito bem consolidado e com diversas opções, não vejo falhas no sistema deles. Mesmo sendo datado, toda a mecânica funciona de forma excelente e não te dará a sensação de que alguma batalha está injusta ou que seu esforço não estará gerando algum fruto. Por bem ou por mal, você continuará evoluindo e descobrindo mais funções que o ajudarão de algum modo.

Imagem do review de Xenoblade Chronicles: Definitive Edition
Você percorrerá dos pés à cabeça do Bionis atrás dos itens.

Vale notar que estamos falando de um jogo de Wii, relançado no Nintendo Switch. Minha opinião sincera é que, ainda que as épocas sejam distintas, me espanta um game desse continuar tão completo e com suas opções tão funcionais enquanto muitos games criados para a plataforma, incluindo os da própria Big N, não conseguem fazer nem metade disso. Se isso me surpreende de um lado, me desaponta do outro ao ver várias falhas no mercado atual e que, infelizmente, não cabem um apontamento nessa crítica. Fica para um texto diferente.

A edição definitiva de Xenoblade Chronicles

Porém, quem jogou ou conhecia o título, o que ele traz de novidade? Ele não chegou para recriar toda a obra-prima que já conhecemos, trazendo a mesma história e aventura que Shulk e seu grupo viveram no passado. A maior diferença que encontrarão nessa versão é o gráfico extremamente bonito e que faz jus ao nome Definitivo que Xenoblade Chronicles carrega.

Finalmente podemos ver os rostos dos personagens sem nada borrado, o ambiente, monstros e máquinas estão lindas e extremamente fieis em seu conceito original, além de termos todo o som retrabalhado nessa edição. Apesar das vozes e músicas continuarem muito boas, isso não te livrará de ouvir várias vezes a mesma frase de Reyn quando termina o combate. Perdão, mas “Man, what a bunch of jokers” continua sem freios.

Imagem do review de Xenoblade Chronicles: Definitive Edition
Seria engraçado se não fosse trágico.

Um dos únicos defeitos que vi nessa evolução gráfica é o mesmo que vários títulos do Switch passam. No modo portátil é nítido o quanto o trabalho que tiveram para restaurar imagens de duas gerações atrás foi produzido de forma competente. Quando você coloca o videogame na dock, no entanto, acaba te fazendo revirar um pouco os olhos, já que também te torna visível o quanto esticaram para fazer aquilo ser visualmente aceitável. Não é algo que chamará de feio, mas é notória a diferença.

Falando em defeitos, também mantiveram os problemas habituais que já existiam na câmera. Confesso que ela chegou a me irritar em alguns momentos da gameplay, apesar de não ter de fato estragado nenhum momento importante, nem mesmo os combates contra os chefões. Ok que eles queriam manter o mesmo jogo que era antigamente, mas podiam ter ajudado nesse fator.

Imagem do review de Xenoblade Chronicles: Definitive Edition
A câmera dá problemas, mas não estraga tanto o jogo.

E vamos aos fatos aqui. Se você já jogou a versão de Nintendo Wii ou o port criado para o New 3DS, a única novidade é o conteúdo adicional Future Connected. Criado para fazer uma ponte entre o jogo e o futuro da franquia, ele traz cerca de 20 horas de enredo inédito e que dá uma continuidade à saga de Shulk com Melia. Se você jogou o X e o segundo game da franquia, diria que é essencial para montar um panorama do que aguardar dos próximos.

Graficamente ele segue um pouco acima do que é mostrado no game completo, se aproximando um pouco mais de Xenoblade Chronicles 2, mas nada que destoe do que já é apresentado. Poupando quem busca justamente pela novidade ou nunca jogou, não contarei spoilers nem darei detalhes de como isso se desenvolve. Porém, é intrigante e vale a pena caso tenha a oportunidade e queira começar a teorizar como será o próximo capítulo da franquia.

Imagem do review de Xenoblade Chronicles: Definitive Edition
Shulk ainda terá muitos desafios em Future Connected.

Porém, as novidades param por aí. Nada de funcionalidades touchscreen ou que utilize algum recurso disponível do Nintendo Switch. Não que o título já não seja de um grau de excelência absurdo sozinho, muito pelo contrário. São 80 horas do jogo normal mais as vinte do capítulo extra, isso se você não estender e decidir captar tudo que é possível do título. Apesar de um lado meu dizer que ele não precisa ser mais do que já é, o outro pensa que podiam ter aproveitado melhor a plataforma e ter adicionado mais coisas. Cabe a cada fã avaliar isso durante sua experiência.

Jogo obrigatório

Sendo sincero, para quem está vendo uma chuva de remasterizações e remakes surgindo todos os dias na atual geração, Xenoblade Chronicles: Definitive Edition veio para nos lembrar que ainda tem muita coisa boa no passado que podemos aproveitar hoje em dia. Ele supre, com folga, a falta de RPGs de magnitude épica que tivemos neste ano no Switch e renova a franquia para um público diferente e que pode ajudar a reerguer a fanbase, mesmo 10 anos depois.

Com personagens carismáticos, um sistema equilibradíssimo de combate, mapas gigantescos e uma diversidade imensa de equipamentos, monstros e localidades, o game que era do Wii ainda faz bonito e mostra que tem espaço no meio dos lançamentos atuais da Nintendo. Não é aquele tipo de jogo que você percebe que só voltou para faturar mais em cima dele, mas sim que ressurgiu para nos lembrar de que a história não teve um fim. Ainda.

Imagem do review de Xenoblade Chronicles: Definitive Edition
Um dos melhores RPGs de uma geração, título obrigatório.

Mesmo que já tenha jogado antes, o conteúdo Future Connected te dará uma visão mais ampla do que já tem dos três games da série e preparará o terreno para o próximo episódio. Tanto os fãs quanto o novo público que aproveitará o jogo só agora têm o mesmo espaço para criar hype, já que a Monolith assumiu que estava produzindo um projeto secreto que será revelado em algum momento.

Com tudo isso em peso, o RPG que foi um dos melhores no passado e até hoje tem o carinho dos jogadores é a pedida certa caso queira desbravar a profundidade que trazem. Obrigatório para quem curte o gênero, Xenoblade Chronicles: Definitive Edition é uma das melhores indicações que poderia dar na plataforma dos lançamentos de 2020.

Review – Liberté

Rafael NeryRafael Nery09/12/2024