Dando continuidade à minha saga de jogos de navinha, Vasara Collection chega aos consoles como um port do bullet hell lançado nos anos 2000. Jogo clássico de combate aéreo nos moldes dos mais saudosos jogos do gênero desenvolvido originalmente pela Visco Corporation e trazido de volta pela QUByte Interactive, a mesma desenvolvedora brasileira que nos trouxe o jogo 99 Vidas, o game traz aos consoles atuais exatamente o mesmo jogo arcade que foi apreciado quase 20 anos atrás.
Por se tratar de uma coletânea, Vasara Collection traz os jogos Vasara e Vasara 2, além de um novo modo adaptado aos moldes mais modernos. Os dois jogos clássicos são retratados de forma fiel, inclusive na resolução esquisita. O jogo deixa 2 tarjas ao lado da imagem, deixando a tela do jogo numa posição bem vertical. Mais um fator de nostalgia é o fato do jogo dar a liberdade do jogador inserir “fichas” pra continuar jogando, lembrando muito a sensação de um fliperama (porém gastando menos dinheiro).
Samurais, katanas, naves e explosões
A ambientação do jogo mistura um Japão feudal com naves hipertecnológicas, com direito a diálogos estilo anime com os chefes te desafiando e dizendo que vão te esmagar como um inseto. Quase todo o jogo está em japonês, mas com legendas aparecendo nos momentos mais importantes. Porém as onomatopeias e algumas frases de efeito aparecem como ideogramas na tela, e por mais que eu tenha sido graduado em Naruto, não dá pra entender nada.
Vasara é um bullet hell dos mais clássicos, difícil e frenético e com aquele esquema clássico de ir evoluindo o poder de fogo com power-ups que são adquiridos conforme são derrotados os inimigos, que são muitos na tela ao mesmo tempo e com tiros pra todo lado, como é de praxe nesse estilo de jogo. Mais um detalhe: não existe barra de vida ou algo similar, é um tiro e você morreu. O jogador tem a opção de escolher entre 3 personagens com um esquema clássico de diferenciação, um mais balanceado, um mais lento porém mais forte e outro mais rápido porém mais fraco.
No primeiro jogo da série, você tem além dos tiros normais com os power-ups, um ataque forte mas de alcance curto, uma bomba e um especial que pode ser habilitado conforme sua barra “Vasara” enche. Sem grandes inovações (e nem precisa) para o gênero shoot ‘em up. Mas a movimentação da nave por vezes se perde por alternar a velocidade, e tem horas em que um toque leve te leva pro outro canto da tela e outras em que você se move tão lentamente que acaba tomando um tiro de bobeira.
Vasara 2 não muda muito, é basicamente o mesmo jogo com algumas “skins” diferentes, pelo menos nos cenários e inimigos. A dificuldade se mantém porém com uma diferença: a tal barrinha de especial enche mais rápido e tem 3 níveis (usos). Por outro lado, nada de bombas, temos apenas os tiros que vão evoluindo com os power-ups, o ataque de curto alcance e os tiros especiais. Novamente, a diferença entre um personagem e outro segue a mesma fórmula.
O port do jogo foi de certa forma bem feito, acrescentando algumas boas opções. Você pode jogar no modo free, onde os continues são infinitos, ou jogar no modo coin, onde você tem que apertar um botão pra colocar fichas e aí então dar seu continue. Se você não for um ninja extremamente habilidoso nível Sekiro, vai precisar de muitos continues. Dentre as outras opções que o jogo acrescenta, podemos usar filtros que dão ao jogo uma cara de monitor CRT, voltar ao menu inicial pra escolher qual dos dois jogos queremos jogar, aumentar o número de vidas, o número de bombas e por aí vai. Parece muito um emulador.
Uma das opções de Vasara Collection, que é até interessante porém pouco prática, é virar a tela do Nintendo Switch pra diminuir as bordas laterais. Contudo, o híbrido da Nintendo não tem um suporte pra ficar em pé verticalmente, e os controles continuam na orientação horizontal, logo você vai precisar destacar os joy-cons e apoiar seu console em algum lugar improvisado para conseguir jogar direito.
Um novo modo de jogo? Sem tempo, irmão
Já o novo modo implantado se chama Timeless Mode e acaba por resolver alguns problemas, sendo basicamente uma repaginada nos jogos originais, com fases exatamente idênticas e a possibilidade de escolher qualquer um dos personagens dos jogos originais, sendo que cada um mantém as características de jogabilidade dos seus jogos originais. A resolução é corrigida pra widescreen e os cenários receberam um leve toque 3D, melhorando o visual do jogo.
Esse modo de Vasara Collection também acrescenta a possibilidade de jogar com até 4 personagens. Mas aqui o desafio é maior, pois não temos nem um free mode nem um coin mode. Você tem uma chance pra zerar o jogo, apenas uma. Tanto que nesse modo a escolha do nível de dificuldade se resume basicamente ao número de fases, e não ao desafio em si.
Graficamente, os jogos são aquilo que se espera, e existe de fato a sensação de que estamos jogando em um emulador quando jogamos Vasara e Vasara 2. Não há quedas de frames mesmo nos momentos mais frenéticos, o que é essencial num jogo desse tipo. A parte sonora não deixa nada a dever, mas também não inova, e as músicas não são marcantes o suficiente pra te fazer cantarolar depois de uma jogatina, nem são chatas a ponto de irritar. Os efeitos vão no básico do básico, feijão com arroz dos shooters – tirinho, laser e explosão.
Sem inovações, mas com muita nostalgia
Ao contrário dos demais jogos shooters lançados ultimamente, Vasara Collection não tenta inovar em nada, é a mesma coisa de sempre. Por vezes, até me senti jogando o clássico PilotWings (mas sem o mesmo carisma). Porém a temática do Japão feudal é muito bacana e acrescenta aquele toque de anime ao jogo.
Infelizmente, o fator replay do jogo é bem comprometido pelo fato das fases serem muito parecidas, tanto no 1 quanto no 2, e que são de certa forma repaginadas no modo Timeless. Jogar com mais de uma pessoa é interessante, e embora não tenha conseguido formar um time com 4 jogadores, com 2 a diversão já sobe bastante. Infelizmente, o multiplayer é apenas local.
Um último fato interessante é que Vasara Collection traz a franquia pela primeira vez para as plataformas da Sony, e mais curioso ainda é que o jogo saiu também para o já enterrado PS Vita.