Como um dos raros casos de um jogo financiado via Kickstarter, Undungeon finalmente chega ao Nintendo Switch, depois de suas estreias no PC e Xbox. Desenvolvido pela Laughing Machines e publicado pela tinyBuild, famosa pelo recente Tinykin, este título embebido em sci-fi também se propõe em oferecer um gameplay que parece mais um hack ‘n slash gourmet.
Surfando na onda de narrativas sobre multiverso, você terá a oportunidade de viajar entre realidades e planos para tentar sobreviver num mundo caótico, perigoso e difícil, enquanto se deleita com a beleza da direção de arte que este jogo possui.
Um mundo bizarro de belo
O acontecimento catastrófico conhecido como “A Mudança” chegou mudando a percepção de mundo como conhecemos, nos apresentados a uma realidade em que o multiverso existe separado em dimensões por uma fina camada. Este conceito de multi-realidades faz com que sete versões do mundo original fossem criados e o caos instaurado ao que restou.
A partir desta caótica realidade quebrada em suas multiversões, nós controlamos um personagem chamado Void. Criado pelo Deus do Vazio a partir de bio-sucata, você tem a missão de encontrar os seis arautos para enfrentá-los e recuperar os selos que serão usados para restaurar a ordem do multiverso.
Um dos pontos altos deste jogo é perceber que a narrativa causa uma das, senão a melhor mecânica: a customização do seu personagem. Por ter sido criado a partir da junção de matéria pós-apocalíptica, você poderá trocar seus órgãos em busca de melhorias e upgrade para o seu personagem. Inclusive dando personalidades, já que você pode trocar seu cérebro e buscar por algo mais voltado para o ataque ou intelecto.
Como se não bastasse, você também poderá trocar o núcleo do seu personagem, chamado de Core. Isso será combinado aos equipamentos para criar combos de melhorias que ajudam demais no gameplay, já que estamos falando de um jogo com uma curva de aprendizado bem curta e um nível de desafio altíssimo.
Muito difícil ou muito sci-fi?
A dificuldade de Undungeon é algo discutível e não necessariamente justificável, já que a proposta do jogo é apostar na história que nos levará pela exploração de seis mundos, com dezenas de missões aparecendo em sua HUD.
Como contrapontos fortíssimos, a narrativa construída com muito texto e diálogos, inclusive trazendo a interpretação dos personagem em texto, a jogabilidade não é algo agradável ou atrativo para você continuar esta jornada.
Mesmo contando com movimentação 360 graus, utilizando o direcional direito para mirar, a movimentação é travada e muitas vezes nem utilizava o direito para mudar minha direção por conta de ataques com “auto mira”. Já que estamos falando do combate, muitas vezes acontecia de mover ou atacar de lado, na esperança que o ataque atingisse alguém, já que se mover na mesma velocidade dos inimigos não é fácil.
O que achei interessante foi a proposta de criar uma escalada nos ataques, tanto de inimigos quanto do Void, fazendo com que uma investida realizada com sucesso faz você acumular mais dano para o próximo ataque.
Os inimigos ganham estrelas sobre suas cabeças, enquanto o personagem principal ganha um indicador no menu rápido da HUD. Importante ressaltar que a dificuldade do jogo pode ser balanceada (no início do jogo) optando essa escalada de ataque maior ou menor que o padrão.
Mesmo tendo esta sensação de falta de peso para o personagem e com um combate que não favorece em nada o gameplay, os desenvolvedores se preocuparam em oferecer, além da customização que já comentei, diversas opções de ataque.
Além daquele padrão de ataque, defesa e esquiva, você terá diversas garras e armas, sem contar a infinidade de flechas e granadas para usar como ataque à distância. No fim, a combinação de botões no Switch não favorece para mesclarmos as diversas armas e ataques, optando sempre pelo mais fácil: o normal e carregado.
Promessas não cumpridas
Se o gameplay parece ter ficado como uma promessa vazia, infelizmente os desenvolvedores não cumpriram a campanha do Kickstarter e ao invés de entregarem um jogo com sete personagens jogáveis, nós temos apenas dois: Void e Marduk.
Este segundo personagem, ao contrário do amontoado de órgãos, temos um sarcófago que mantém o real personagem vivo por conta de um Core especial. Para este personagem o combate deixa de ser o corpo-a-corpo para focar nos tirinhos para todos os lados.
Como já comentei, o grande trunfo deste jogo é a narrativa. A construção de mundo é interessante, todos os personagens possuem uma história para contar (mesmo que sejam apenas cristais voadores) e cada fase deste multiverso possui seu “mini-lore” que estão ligados aos seus arautos. Até mesmo a mecânica para viagem rápida através de espelhos possui uma história e um motivo.
Acompanhado da narrativa temos a direção de arte primorosa, com um trabalho de encher os olhos ao encontrarmos os personagens (mesmo falhando na falta de diversidade e a maioria serem autômatos ou robôs, além de insetos) ou ao passarmos pelas diversas paisagens. Tudo muito bem representado visualmente e acompanhado por uma incrível trilha lo-fi para situar bem essa mescla de solidão, vastidão e tecnologia pós-apocalíptica.
Por mais que tenhamos conteúdo, narrativa e qualidade visual, infelizmente Undungeon apresenta muitos defeitos até mesmo nas escolhas de design para a quantidade de loadings (acredite em mim, existe load para telas de dicas que ficam entre uma área e outra), como exploramos o mapa do mundo antes de entrarmos em cada região, ao melhor estilo Final Fantasy de NES, ou até mesmo como a tela fica escura quando o personagem está para morrer.
Ainda acredito que seja um jogo interessante, principalmente pela história, mas que também oferece um bom desafio para explorarmos. O que vai definir se realmente vale o seu esforço é a sua dedicação, já que os problemas podem ou não aumentar ainda mais a dificuldade.
Minha dica? Espere uma promoção ou aposte no XBox Game Pass para experimentar este título, mas, por favor, não pule os diálogos! Cada leitura das imensas caixas de texto vale os minutos em Undungeon.