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Trail Out, da desenvolvedora alemã Good Boys, é uma carta de amor aos jogos de corrida com destruição. Jogos de que tenho muita saudade, como as franquias Flatout e Burnout. Bastou testar a demo para me fazer ficar de olho na distribuidora Crytivo e viabilizar este review, feito por um fã do gênero e que buscava algo mais casual para se divertir e dar boas risadas.

Forza e Gran Turismo, por exemplo, eu coloco em outra categoria ou patamar. São séries exemplares, cada vez mais caprichadas. DiRT e GRID também, não podemos esquecer deles. Need for Speed? Bem, confesso que eu curtia muito mais na época do Underground, Most Wanted e Shift. Mas gosto é gosto, não é mesmo?

Se tratando de jogos de corrida mais casuais, como Hot Wheels Unleashed, os derivados de kart e excelentes indies como Wreckfest, Hotshot Racing e o brasileiro Horizon Chase Turbo, confesso me divertir bem mais com eles. Trail Out se encaixa perfeitamente neste nicho, inclusive garantindo o fator “nonsense” de suas referências.

Trail Out
Tem Fusca em Trail Out!

Vale tudo pra vencer

Trail Out é o nome de um festival que acontece anualmente nos Estados Unidos e reúne os 8 melhores (ou mais irresponsáveis) pilotos do mundo. Mihalych é o nome do protagonista no modo carreira, um russo que trabalhava como dublê em filmes e decide participar do festival para tentar mudar a sua maré de azar com acidentes. Mas o desafio para subir posições no ranking e destronar o líder, Frank Woods, será enorme.

A história é bem simples, cheia de clichês e esteriótipos, mas cumpre seu propósito de amarrar as corridas com os personagens, tratados como chefões em uma lista negra. Mihalych usa um ferro velho para montar seu primeiro carro com carcaça e peças enferrujadas. Uma ideia genial, uma vez que seu carro capenga sempre destoa dos veículos dos adversários.

A cada vitória, de 1º a 3º lugar, o jogador ganha dinheiro e fãs proporcionalmente. Quanto mais fãs conseguir, mais carros e peças são desbloqueadas para comprar. A grana também permite mudar o visual de Mihalych e ampliar o tamanho da garagem, onde você armazena os carros criados. Dá também pra ganhar um troco extra aceitando os desafios propostos pelos fãs no Fest App, bem como receber doações, recompensas por conquistas alcançadas e até fazer live streams para juntar mais fãs.

Trail Out
Só com pintura pra disfarçar os carros velhos da coleção

O mecânico Zhenka, amigo de Mihalych, dá as caras no ferro velho para não deixar essa interface monótona demais. Ele opera um trator e a trituradora de carros, mas também participa da história. E é justamente este o ponto mais fraco do jogo. Os diálogos são mal escritos, com dublagem ainda pior e que não bate com as legendas. Pra piorar, as animações dos personagens são todas horrorosas. E rapidamente você odiará Mihalych por suas dancinhas de vitória.

Não sei quanto à você, caro leitor, mas eu consigo relevar a história e seus personagens genéricos – alguns deles lembrando jogos famosos, como é o caso de Big Cheese (GTA San Andreas) e a policial Sonya Mass (Mortal Kombat). Um formato mais simples de contar a história, talvez substituindo as trabalhosas animações 3D por motion com ilustrações estilosas, teria resolvido essa questão. Mas o que realmente importa em Trail Out são as corridas.

Uma divertida e longa campanha

O modo carreira oferece corridas divididas em classes, abrindo novas opções conforme aumenta a sua base de fãs. Tanto que, em certo momento da progressão, os fãs passam a ser mais importantes do que as medalhas de ouro para desbloquear as coisas. Quando isso acontecer basta rejogar as corridas, especialmente as que não conseguiu chegar em 1º. Até os chefões ficam bloqueados enquanto você não tiver fãs o suficiente.

Trail Out
Pra avançar no modo carreira é preciso ter muitos fãs

Há uma grande quantidade de pistas, com variações de tempo (dia e noite), efeitos climáticos e até sentido contrário. São todas muito bem construídas, cheias de obstáculos e atalhos. As pistas são apresentadas em três modos clássicos (Rush, Cross e Mono Class), outros 3 do tipo Derby (Domination, Derby e Mono Derby) e mais três não tradicionais (Stunts, Hunter e Escape).

Rush é corrida normal com longa distância e destruição de cenário, Cross traz pistas curtas com cruzamentos perigosos e em Mono Class todo mundo dirige o mesmo veículo, incluindo caminhão, carrinho de golfe, carro antigo de corrida, etc. Pelo menos neste modo as características dos veículos (velocidade máxima, aceleração, controle e robustez) não diferem entre si, deixando todo mundo em pé de igualdade.

Domination promove batalha por pontos, enquanto no Derby vence quem sobreviver à destruição de carros em arena. Mono Derby segue a mesma regra, mas com todo mundo dirigindo o mesmo veículo. Stunts traz dois modos de arremesso de piloto (boliche e dardos), em Hunter você deve eliminar outros competidores, e em Escape você deve permanecer na frente para não ser eliminado por um avião de guerra que sobrevoa a pista.

Trail Out
No Derby, os adversários não te deixam em paz

Contra os chefes, os desafios são sempre dois: correr uma pista do ponto A ao B no 1×1, com outros veículos de suporte (que atiram, arremessam explosivos, etc.), e encarar um Derby no 3×1. O desafio é bem alto, pois além do chefe ter um carro melhor que o seu, ele conta com a ajuda de outros dois veículos te esculachando geral na arena.

Colecionando carros velhos

É muito divertido sair comprando o corpo de carros velhos pra equipar com as melhores peças que puder comprar, além de escolher a pintura e o nome na placa. Para as corridas do tipo Derby, recomenda-se comprar os 4×4 mais parrudos para não ter sua barra de força esgotada facilmente durante os impactos.

Carros leves e muito rápidos, por exemplo, nem sempre são a melhor opção. Tem pistas que pedem mais controle de direção do que velocidade. Com carros assim é muito fácil rodopiar ou mesmo decolar com um desnível na pista que não conseguiu evitar, perdendo tempo e posições.

Com vários carros estacionados na sua garagem, que inicialmente oferece 7 vagas, não demora muito para alguns deles (da série C e B, principalmente) ficarem fracos. Pra abrir vaga e recuperar parte da grana investida, basta mandar estes carros para a trituradora.

Trail Out
O que importa é vencer, não o estado do carro ao final da corrida

Cada veículo, com suas respectivas modificações, oferece um gameplay único. O controle dos carros é excelente e rapidamente você pega as manhas pra usar o nitro na hora certa e derrapar corretamente nas curvas mais acentuadas. Eu diria que o real desafio encontra-se na Inteligência Artificial dos adversários (que pode ser ajustado no menu de opções) e nas pistas. Em um momento você está liderando a corrida feliz da vida e, de repente, um objeto na pista te faz perder o controle do carro e capotar. Perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu comigo.

O mais interessante é que, além da destruição massiva do cenário, as pistas oferecem eventos particulares de ação. Derrubar os pilares de um posto ou atingir as bombas de gasolina causa uma grande explosão atrapalhando quem estiver atrás de você, assim como a queda de uma torre elétrica e a destruição de caixas com fogos de artifício. E isso é demais, visualmente e taticamente falando.

Gráficos mais bonitos com RTX

Visualmente, Trail Out entrega gráficos da geração passada. Desenvolvido na Unreal Engine, o jogo apresenta algumas características conhecidas da ferramenta, como a física geral, deformações nos veículos, marcas de pneu na lama, poeira, dentre outros exemplos. O que ajuda a turbinar um pouco mais os gráficos são os efeitos RTX, para quem possui placa de vídeo da NVIDIA.

Trail Out
Tem até corrida com carrinhos de golfe

Testei o jogo com uma RTX 3070 Ti ligando os efeitos de reflexo, oclusão de ambiente e sombras RTX, bem como ativei o DLSS 2.0 na opção balanceada. Sem DLSS o jogo entrega seus problemas de otimização, sofrendo na performance mesmo ao impor o limite de 60 FPS. Na pista, há poças e outros detalhes com ray tracing, mas na prática é difícil de observar os efeitos de iluminação em alta velocidade. Fica mais evidente nos detalhes do carro, inclusive se trocar a câmera para o cockpit.

Além do modo carreira, o jogo oferece corrida livre com todas as variações e pistas pra escolher, inclusive com opção de partida local com tela dividida. É uma pena que, ao menos por enquanto, não tenha um modo online. A única forma de competir com outros jogadores é através do placar global, com recordes de tempo.

Há muitas coisas para corrigir e polir, mas gostei bastante da experiência que tive com Trail Out. É um jogo divertido, desafiador e com ótima duração no modo carreira (comigo foram mais de 12 horas). Pena que a playlist seja limitada às músicas das bandas Onlap e New Vegas. Mas entendo também que, para um estúdio indie, seja caro licenciar músicas de outras bandas. De modo geral, o que a Good Boys conseguiu fazer com Trail Out é digno de reconhecimento. E que seu jogo conquiste ainda mais fãs quando chegar aos consoles.