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Depois de diversos adiamentos e muitas dúvidas, finalmente temos o lançamento de The Lord of the Rings: Gollum. Desenvolvido pela Daedalic Entertainment, o jogo chega falhando em todas as propostas e entregando uma péssima experiência.

Mesmo com aprovação da Middle-earth Enterprises e com a promessa de cobrir canonicamente os acontecimentos num período não explorado por Tolkien em seus livros, os fãs de uma das franquias mais importantes receberam o pior jogo do ano.

Nada de precioso por aqui

Vamos tirar logo da frente o que tem de no trabalho realizado pela Daedalic? A ideia e proposta do jogo são os pontos fortes desse jogo e, acompanhando bem de longe, a trilha sonora com seu “quê” nostálgico para quem viveu os filmes de O Senhor dos Anéis. Apenas isso! Se quiser parar de ler por aqui, com certeza você não ficará ainda mais revoltado ao final deste review.

The Lord of the Rings: Gollum
Gandalf tenta descobrir mais sobre as aventuras de Gollum em Barad-dûr

Com foco no Gollum, um dos personagens mais criativos e curiosos da Terra Média, a proposta original é explorar o que aconteceu com ele logo após a perda do Um Anel e qual rumo ele teve após a fuga de Bilbo Bolseiro das Montanhas Sombrias, indo até seu encontro com Frodo e Sam. Este período de quase 80 anos é utilizado como pano de fundo e motivo para este jogo de aventura, que propõe colocar o jogador na pele de uma criatura furtiva e cruel.

Mesmo com toda essa proposta interessante e abordagem diferente do que tivemos até o momento para adaptação desse universo para os games, The Lord of the Rings: Gollum acaba falhando em tudo. De problemas visuais, passando pela jogabilidade rudimentar e chegando à falta de coesão na condução da narrativa, os desenvolvedores parecem ter entregado um jogo inacabado, o que justifica o lançamento abrupto e com péssima campanha de marketing.

Com uma performance sofrível mesmo rodando no PS5, o jogo peca por apresentar diversos problemas gráficos, com texturas pobres e modelagem das mais horrendas possíveis, que parecem ainda estarem em versão beta ou em baixa qualidade para evitar tempo de renderização. Tudo resultado de uma direção de arte incomum, com escolhas duvidosas para representação visual dos personagens, principalmente a modelagem do próprio protagonista.

The Lord of the Rings: Gollum
Péssima IA dos inimigos faz com que o sentido do Gollum seja inexpressivo

Ao deixarmos o visual de lado para analisarmos a narrativa, fica ainda mais claro que toda a trama é mal construída. Já sabemos que Gollum ficou preso em Barad-dûr e foi torturado para que Sauron conseguisse informações sobre o Um Anel, no entanto temos metade dos capítulos do jogo focados apenas nesta prisão e com missões que transformam o pobre Hobbit em um peão de obras, repleto de atividades repetitivas, fúteis e que não contribuem em nada com a história ou lore desse universo.

Cortes secos, saltos temporais, loopings repetitivos, personagens inexpressivos e rasos, além da falta de conteúdo para mostrar o que fez com que Sauron se interessasse pela criaturinha, temos apenas o uso das suas habilidades para explorar a movimentação do personagem, com diversos problemas nos comandos e animação, dificultando ainda mais a exploração por plataformas e paredes para coletarmos itens.

Mesmo com a presença de diversos personagens canônicos como, por exemplo, Gandalf, Thranduil e Boca de Sauron, além de novos personagens criados para o jogo, não vemos esse conteúdo ser explorado ou capaz de evoluir dentro desse espaço temporal. O melhor exemplo sobre isso está nos novos Gwendil, Mell e o próprio vilão do jogo, se é que podemos chamar o Homem das Velas assim, que não apresentam relevância e poderiam ser mais personagens que somem ao longo do jogo sem você se importar com eles ou os acontecimentos ao redor deles.

The Lord of the Rings: Gollum
Muitas decisões para tomar para nenhuma consequência enfrentar

A prova dessa confusão narrativa e ausência de conteúdo relevante, principalmente quando lembramos da promessa sobre trazer algo canônico para a franquia, está na falta de conexão dos acontecimentos com o final do jogo, sem contar a “retomada” para a timeline principal dos acontecimentos, que ainda tentam oferecer um final bom e outro ruim, mas que não se apoiam na construção do que fazemos ao longo da nossa jornada como Sméagol ou Gollum.

Uma dicotomia desperdiçada

O que mais me atraiu e, mesmo com todos os problemas, ainda me deixa curioso e ansioso para encontrar ao longo das dez horas de jogo, são os momentos em que precisamos tomar decisões como Gollum ou Sméagol, a personalidade original do personagem, como um Hobbit do tipo Grado (uma das três “variantes dessa raça).

Fora dos diálogos e respostas rápidas para apenas tomar uma decisão mais cruel, como Gollum, ou mais branda, como Sméagol, os desenvolvedores trabalharam numa espécie de mini-game para você argumentar e tentar vencer uma das personalidades. Ao responder de acordo com cada perfil, você pontua em direção ao desfecho de até cinco respostas válidas para tomar uma decisão entre duas possíveis.

The Lord of the Rings: Gollum
O embate mental entre Sméagol e Gollum tinha tudo para ser bom

Mesmo sendo curioso e oferecendo um conteúdo sob duas perspectivas diferentes, infelizmente o jogo não sofre em nada a influência da escolha tomada ou chega a falhar por conta da resposta não ser a que precisamos. A história simplesmente continua, sem causa e consequência, para qualquer atividade boba que em nada vai acrescentar ou muito menos apresenta qualquer desdobramento. O único ponto em que tem uma leve conexão com escolhas, resultando em um dos dois finais possíveis, é a criação do seu pássaro e que tem ligação com Sauron.

Falando em história, quando temos a oportunidade de conferir algo retirado diretamente do trabalho original, bebendo diretamente da fonte do Tolkien, temos um conteúdo interessante como, por exemplo, o Compêndio de História, com textos sobre a Terra Média. Fora isso será difícil convencer qualquer fã da franquia em engajar nesta jornada através da perspectiva de um personagem que poderia ter oferecido uma aventura interessante.

Para quem tiver a Precious Edition, talvez ajude um pouco contar com a trilha sonora original e a Art Exhibition, com conteúdo visual que somente aqui parece ser bem trabalhado, além da opção de ativar Sindarin para os diálogos dos elfos. O problema é pagar o valor cheio de um jogo AAA e ainda ter um “pack de emotes” para comprar, apenas para ver expressões em um Gollum que peca em tudo.

The Lord of the Rings: Gollum
Depois de tudo, finalmente voltamos para os acontecimentos canônicos

Infelizmente The Lord of the Rings: Gollum acaba entregando uma experiência datada, incompleta, confusa e com graves problemas de polimento e jogabilidade. Mesmo com uma boa proposta e ideias interessantes, esta com certeza será a pior experiência de 2023.