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O jogo Tales of Kenzera: Zau chega com uma grande responsabilidade em mãos: apresentar o primeiro título desenvolvido pela Surgent Studios e também manter a qualidade vista em outras experiências do selo EA Originals – como é o caso de It Takes Two, Wild Hearts, Sea of Solitude e diversos outros.

Inicialmente eu não estava dando muitos créditos para o game, mas resolvi ver se ele me surpreendia e a resposta que tive foi muito positiva em relação a tudo apresentado. Enquanto mais um “metroidvania” em meio a diversos outros que estão disponíveis por aí, é na narrativa e no crescimento constante do personagem central da trama que você será mergulhado em uma jornada que explora luto, maturidade e várias emoções.

O luto em Tales of Kenzera: Zau

Vou ser bem honesto, é bem difícil falar sobre Tales of Kenzera: Zau sem citar o impacto inicial que ele causa, antes mesmo de apresentar seu protagonista. “Toda história começa no fim de outra” surge na tela, não como um aviso do que encontrará na jornada, mas também como um tema que ditará tudo o que verá na experiência.

Ali você conhece Zabari, um jovem que acabou de perder seu pai e recebeu um livro que estava sendo escrito por ele. Era uma história sobre um xamã que também tinha acabado de ver seu “baba” falecer e foi confrontar Kalunga, o deus da morte. A partir disso, ele recebe uma missão: derrube os três grandes espíritos e a divindade devolverá a figura paterna – e você jogará como o personagem do livro por grande parte da sua estrutura.

“Toda história começa no fim de outra”

Todas as discussões de Tales of Kenzera: Zau são relacionadas ao trabalho do jovem como xamã – guiando espíritos para o mundo dos mortos. Eu achei impressionante a delicadeza e todo o processo de storytelling administrado pela equipe da Surgent Studios, conseguindo impactar e trazer lições sem perder o tato e nem acabar naquele abismo de “monotonia”.

Eu não via uma história tão tocante e que explorasse tanto a juventude e crescimento dos personagens quanto esta, o que já é algo grandioso por si só. Sei que muita gente pode reclamar de certos elementos do game, que discutiremos nos parágrafos abaixo deste review, mas é impossível jogar sem torcer para que os planos de Zau e Kalunga deem certo – assim como torcemos para que certas situações não ocasionem em tragédias.

Um metroidvania vazio

Em termos de gameplay, como citei acima, Tales of Kenzera: Zau é um metroidvania que permite que o jogador alterne o uso das duas principais máscaras do protagonista: uma com o poder do sol e a outra com o poder da lua. A primeira te permite usar golpes físicos, enquanto a outra é especializada em fazer com que atire projéteis em seus oponentes – com outras funções que desbloqueará no seu caminho.

Apesar de tudo ser bem fluído e uso das habilidades ser extremamente criativo em determinados pontos, alguns pontos não me agradaram neste aspecto dentro da experiência. Um deles é a variedade de inimigos, que beira na quantidade que poderá contar nos dedos das suas duas mãos e cujas principais variantes são apenas versões com “escudo” – adicionando apenas uma dificuldade a mais e nada além disso.

Também não achei bacana o espaço de tempo em que fica sem confrontar oponentes, só andando de um lado para o outro em Tales of Kenzera: Zau. A impressão que tive é que criaram um mapa grande demais para pouco conteúdo que está contido ali. Em alguns momentos isso é camuflado pelos desafios e colecionáveis, mas não será nada estranho perceber que já se passaram vários minutos que você corre pela tela sem fazer mais nada.

Já relacionado ao cenário, personagens e até mesmo o nível de desafio, não tenho nada do que reclamar do que mostraram. Os mapas têm uma diversidade que te hipnotiza de vez em quando, assim como alternam com maestria momentos de travessia mais simples com algumas pegadinhas para quem for curioso e observador o bastante para encontrar seus segredos.

“Os mapas têm uma diversidade que te hipnotiza de vez em quando”

Uma experiência cultural africana

Outro ponto que me surpreendeu extremamente positivamente em Tales of Kenzera: Zau é em seu aspecto cultural. A cidade de Amani é belíssima e me parece muito com o reino de Wakanda – apresentado nas HQs da Marvel e também nos filmes do Pantera Negra e dos Vingadores. Objetos, quadros e diversos outros elementos africanos são extremamente bem-vindos e enriquecem ainda mais a mensagem do game.

Ainda assim, nada me deixou mais perplexo do que ver que tínhamos a linguagem Suaíli disponível em áudio. Ela é popularizada em territórios da costa oriental e em diversas ilhas da África, se apresentando como a única opção de dublagem ao lado do inglês. Não querendo ditar a forma como vocês devem ou não jogar, mas optar pelo inglês é perder por grande parte do que torna este título tão especial.

Trazer a cultura dos xamãs, seus rituais e de tudo que eles representam também foi um acerto e tanto, com Tales of Kenzera: Zau não medindo esforços nem se segurando para mostrar como eles enxergam alguns assuntos e sua relação com os espíritos. Sendo bem honesto, foram raras as vezes que vi investirem tanto em trazer elementos africanos nos games e a Surgent Games não poderia trazer um resultado mais positivo neste aspecto.

Derrapa, mas não cai

Ainda assim, eu vi alguns pequenos problemas que não me permitiram aproveitar toda a experiência da forma como minha hype guiava. Uma delas era um bug que, falando sério, me tirou várias vezes da imersão para xingar não terem consertado isso em qualquer atualização desde o lançamento. De forma aleatória, quando você abre o mapa, seu personagem basicamente trava no momento que você o fecha – sendo obrigado a direcionar ele para o caminho oposto e aí sim ele podia seguir o trajeto normal que você desejava.

Também vi que em determinados momentos de Tales of Kenzera: Zau, ao menos no PlayStation 5, o console chora para renderizar e acompanhar o personagem. Não foram muitas, sendo que me recordo de apenas dois momentos em que isto aconteceu, mas não acredito que seja pela falta de poder de processamento do console que a lentidão se apresentou. Sobrou carinho para a cultura, faltando um pouco dele na otimização.

Além disso, vale notar que a experiência é bem curtinha e os jogadores devem conseguir finalizá-lo em um ou dois dias de jogatina intensa. Eu consegui finalizar a história principal, sem ir atrás de tudo o que ele mostrava – apesar de que eu dei diversas voltas e reuni boa parte dos power-ups disponíveis nele – em questão de 10 horas.

Seu brilho se mantém

Para mim, o saldo de Tales of Kenzera: Zau é bem positivo e ele trouxe mais pontos bons do que ruins. Algumas das adversidades que citei acima são chatas? Sim, não tem como negar isso. Só é importante lembrar que este é a primeira experiência da Surgent Studios na indústria gaming e que poucos dão um foco tão legal assim na cultura africana, merecendo uma atenção especial pelos seus esforços.

E quem ganha, obviamente, é você. O selo EA Originals, por natureza, pega títulos que estão sendo desenvolvidos por estúdios indies e injetam uma boa quantia financeira para tirá-los do papel. Mesmo que este não se equipare a It Takes Two, que recebeu o prêmio de Jogo do Ano em 2021, ainda assim não fica para trás em sua mensagem e ao mostrar a força que diversos desenvolvedores têm para contar uma boa história.

78 %


Prós:

🔺 Narrativa é fortíssima e bem-estruturada
🔺 O foco cultural na África é o tempero especial
🔺 Cenários, desafios e personagens são ótimos

Contras:

🔻 Não há muitos inimigos e eles não aparecem com frequência
🔻 Sofre com alguns bugs e engasgos
🔻 A experiência é bem curta

Ficha Técnica:

Lançamento: 23/04/2024
Desenvolvedora: Surgent Studios
Distribuidora: Electronic Arts
Plataformas: PS5, Xbox Series, Switch e PC
Testado no: PS5