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Uma das maiores piadas com a série de jogos da Ubisoft é a de que Assassin’s Creed morreu em Black Flag. Afinal, o quarto jogo da franquia é sem dúvida alguma uma dos favoritos dos fãs. Este ano, a Ubisoft retorna mais uma vez ao mundo da pirataria, seis anos após os acontecimentos de Black Flag, com Skull and Bones e os piratas do Oceano Índico.

Skull and Bones é considerado pela empresa e por Yves Guillemot, co-fundador e CEO da Ubisoft, o primeiro título “AAAA” do mercado, mas será mesmo? Realmente é um jogo bem grande e com muito a explorar, mas será isto o necessário para atingir este novo patamar dos jogos e justificar o preço inicial de $70 dólares?

Rejeitado pelas profundezas

Skull and Bones tenta misturar uma experiência online com uma campanha singleplayer, onde o jogador se verá afundando durante uma incursão à uma Armada Francesa, seguida do naufrágio do navio que controlávamos. Acordando à deriva em uma ilhota, o jogador personaliza o corpo, cor de pele e outros detalhes de seu personagem e deve completar um pequeno tutorial com uma barcaça, realizando o resgate de certos itens dos destroços do navio encalhado nas rochas e recifes próximos.

Imagem Skull and Bones

Em posse do manifesto e ordens dadas ao antigo capitão, que agora se encontra morto na cabine de comando do navio, o jogador segue rumo a Saint-Anne, um covil e grande centro de comércio pirata. Aqui começa sua jornada galgando pelos ranques da pirataria, trabalhando para o “chefão” da região. Seu nome é John Scurlock, alguém que abomina ser feito de peão por outros mais poderosos que ele e determinado em dominar toda área das Ilhas Rubras.

Começando com navios pequenos, o jogador trabalhará para ganhar a confiança de John, seja comerciando cargas roubadas através de ataques, mercadorias negociadas com grupos rebeldes, tribos Africanas e das Índias Orientas. Com o passar do tempo pode-se até mesmo começar a distribuição “ilegal” do Rum Caveira Branca e de Ópio Azul, produzidos pelo grupo mercante conhecido pelo nome de O Leme.

Diferente de Black Flag, Skull and Bones tem uma aproximação mais realista, onde o seu objetivo não é o de viver aventuras de duelos e donzelas como O Temido Pirata Roberts, de A Princesa Prometida, mas sim a de um pirata pragmático. Não espere duelos de sabre enquanto se equilibra por mastros de navios pareados. Aqui estamos falando da verdadeira pirataria, onde o butim é o que interessa. Então disparem estes canhões e que os marinheiros inimigos saibam nadar, ou para o fundo eles irão!

Imagem Skull and Bones

Prata encharcada de sangue é mais pesada

Em Skull and Bones o jogador passará mais tempo estudando rotas mercantes, planejando como melhorar seu navio e armamento, além de estar sempre buscando matérias primas, sejam elas adquiridas por comércio, coleta ou como prefiro chamar “apropriação indelicada de bens por fins escusos”. Quanto melhor for o equipamento, mais exótico e exigente serão os materiais, então prepare-se para viajar por todo o Oceano Índico.

Com o avançar da história de John e as habilidades do jogador, Skull and Bones nos permite viajar para além da região da costa africana e explorar as regiões das Índias Orientais através da Chefona Rahma. Tendo ouvido falar das proezas e habilidades do jogador com o leme e canhões, ela nos oferece trabalho ajudando-a a se livrar dos Holandeses, que querem a todo custo tirá-la do poder. Além de não a verem como igual pelo fato de ser uma mulher, desejam dominar as rotas de comércio da região.

Imagem Skull and Bones

Os finais da história base do jogo servem como uma espécie de história introdutiva para o jogador entender mais sobre o mundo do jogo, a época que o jogo retrata e recria com suas personagens baseadas em personalidades reais. John Scurlock pode ter sido baseado em personalidades como William Kidd e Robert Want, enquanto Rahma pode ter sido uma fusão de Zheng Yi Sao e Sayyida al Hurra, fusão está devido ao fato de que a terceira temporada pretende trazer Li Tian Ning como alusão direta a Zheng.

Uma vez que o jogador tenha atingido o título de “chefão”, uma nova cutscene será apresentada, onde recebemos a carta de um personagem chamado Freeman, onde ele nos fala que nossa infâmia chamou sua atenção. Com isso o jogo finalmente libera o jogador das amarras de narrativa e ele pode começar a levantar seu próprio império, onde quem irá decidir o quão grande e poderoso ele será, é você!

Forrando os bolsos com cobre, prata e ocho

Usando o que aprendeu durante o modo de Skull and Bones, o jogador parte a própria sorte no Oceano Índico para comandar as rotas de comércio, caçar grandes piratas e saquear cidades, refinarias e vilarejos. Tanto nas regiões africanas quanto nas longínquas terras das Índias Orientas. Usando principalmente o segundo mais importante elemento narrativo do jogo: a rede do Leme.

Imagem Skull and Bones

Em Skull and Bones, além de Scurlock e Rahma, existem as irmãs Nara que comandam o Leme, uma rede de contrabando de rum e ópio por todas as ilhas e continentes em que conseguem enrolar seus tentáculos, exercendo um poder e domínio nos vícios locais. Para um pirata o rum é extremamente necessário e o ópio é uma chance absurda de lucro, sendo comprados e vendidos através da própria moeda do Leme, chamada de Ocho.

Além da prata obtida durante o jogo que serve como moeda padrão e o ouro que pode ser comprado para fins cosméticos, há ainda outras três moedas. O ocho citado acima como moeda de troca dos contrabandistas, os soberanos que se ganha sempre que se sobe de nível no ranking de posicionamento de tarefas de infâmia do Leme e por último, as moedas de nível do Passe da Temporada contrabandista.

Prata, Ocho e Soberanos são usados nos comerciantes do jogo. A moeda do passe de contrabandista é usada para cada nível ganho no passe de temporada (que vai até o nível 90) e o Ouro pode comprar itens exclusivos da loja da Uplay. Incrivelmente, o sistema de “Game as a Service” de Skull and Bones é bem menos invasivo do que se espera.

Imagem Skull and Bones

Comandando os mares

Porém não adianta você entregar o mais belo e poderoso Man-of-War para um canalha capaz de navegar sua própria banheira. O gameplay de Skull and Bones não é difícil de entender e dá pra finalizar a narrativa principal sem muito esforço. Mas para se tornar um senhor do Índico será necessário mais do que saber navegar e disparar canhões.

O jogador pode escolher as velocidades, sendo elas baixas velas, meio mastro e a todas velas com auxílio de remos. Na última velocidade, as embarcações podem chegar até 12 a 18 nós, uma média de 22 a 33Km/h. Com o auxílio da galeria de remadores, que neste mundo são todos bem alimentados, é fácil atingir velocidades maiores.

As embarcações são divididas entre pequenas e médias com um “dhow”, um tipo extremamente pequeno de veleiro servindo apenas para a caça. Geralmente, os navios pequenos comportam apenas três armas. Já as embarcações médias podem levar até cinco armas diferentes, com as armas laterais sendo compostas de várias fileiras de canhões, torpedos, balistas ou o que quer que seja que use para afundar seus oponentes.

Imagem Skull and Bones

As armas se dividem entre canhões longos, curtos e inúmeras outras variações possíveis, bem como torpedeiros, morteiros, balastras, balistas, lança-chamas e até mesmo paredes de foguetes que lembram baterias aéreas! No geral essas armas tem como função causar o máximo de dano possível, sendo dividas em cinco níveis, além de um sistema de raridade. Quanto mais alto e raro, mais forte. No entanto há também armas que podem curar, como morteiros que disparam bolas de piche capaz de reparar navios aliados.

Um bando de canalhas a saquear os mares

Para sobreviver, um pirata precisa de aliados, mesmo que esses aliados possam rasgar seu estômago durante a noite. É melhor dormir com um olho aberto do que afundar no oceano. Skull and Bones tem um grande foco de instigar o jogador a formar sua própria frota com amigos, pois com o passar do tempo você não irá apenas lutar e saquear o povo Africano, Francês ou Holândes.

Quem domina o leme do navio, domina o mundo da pirataria de Skull and Bones. E para o sucesso também será preciso subir os degraus do multiplayer. Além de comprar cana de açúcar e papoula para a produção do Gim Caveira Branca e do Ópio Flor Azul, o jogador precisa aumentar seu catálogo de itens e rotas de comércio.

Imagem Skull and Bones

Aqui entra uma outra função das moedas ocho, o de aprimorar a produção de itens nos covis do Leme, no entanto as riquezas estão em fazer os ochos entrarem sem você sequer precisar mexer os dedos, surgem aqui as lutas de conquista. Elas permitem que os jogadores batalhem contra as forças que dominam aquela região, causando destruição o suficiente para dobra-los a sua vontade, criando assim ali um posto de produção de bebidas e diferentes tipos de drogas que são vendidas automaticamente.

Além das forças vigentes do local, os jogadores competem entre si, quem completar os 100% da destruição antes, garante o domínio sob o local, mesmo que não possa perder o mesmo depois, ainda assim impedir que seu oponente tenha mais conexões é importante. Sendo estes uns dos poucos eventos de mundo onde o PvP é aberto.

Um mundo cheio de mistérios

O mundo de Skull and Bones possui muitos eventos e mistérios a serem descobertos, indo desde caça a piratas procurados, mapas do tesouro e segredos sussurrados ou encontrados por cartas. Ainda assim há mistérios que fogem do controle dos homens, marujos e capitães, como embarcações fantasmagóricas, com projéteis capazes de furar cascos e blindagens como se fossem nada, monstros marítimos e o terrível capitão amaldiçoado desta temporada, Phillipe La Peste.

Imagem Skull and Bones

Phillipe La Peste tem seus capitães navegando pelos mares e prontos para saquearem NPCs e jogadores sem distinção, então todo cuidado é pouco. Caso consiga afundar um deles, você terá em mãos a cabeça de um dos capitães da Peste. As cabeças da Peste servem como chamarizes para os outros membros da tripulação e frota de La Peste, então guarde-as em um de seus covis pelas ilhas.

Embora o jogo siga focado nesta representação simplificada do imenso comércio ilegal e saques ocorridos no Índico, durante os anos da era dourada da pirataria, ele abre espaço para a fantasia. Fora a presença dos monstros e do capitão místico amaldiçoado que é Phillipe La peste, o jogo também toma certas liberdades como as blindagens dos navios e a alimentação saudável dos marinheiros.

Aproximar-se deste tema de uma maneira mais realista é uma faca de dois gumes, pois mesmo com suas regiões adaptadas do Oriente Médio e leste do continente Africano, há temas sensíveis que é melhor simplesmente não retratar. O ópio foi responsável por uma grande tragédia social na Ásia e é retratado de uma maneira menos agressiva. Acredito que a Ubisoft fez a escolha certa em evitar ao máximo trazer rotas escravagistas para o jogo, mesmo a Companhia Holandesa das Índias Orientais tendo sido a maior contribuidora para este crime desumano.

Imagem Skull and Bones

É um Black Flag 2?

Se você está ainda esperando para saber se Skull and Bones é um Black Flag 2, devo te desanimar e dizer que não. Black Flag promove uma abordagem mais fantástica do tema, enquanto Skull and Bones aproxima-se de maneira mais tática e fidedigna do que realmente “seria” a vida de um capitão pirata na época.

Piratas são retratados na mídia como Robin Hoods dos mares, mas na realidade piratas, como Vikings não possuem treinamento em combate e contam com números e selvageria. Assim sendo, a Ubisoft optar por combates de grandes frotas e uma cutscene de captura é compreensível pelo contexto que o jogo nos apresenta em sua proposta.

Um ataque pirata geralmente era repleto de selvageria. Um “duelista” como Capt. Jack Sparrow muito provavelmente seria eviscerado na frente de seus homens, teria seus olhos arrancados com ganchos de atracagem e teria sua cabeça cortada e pendurada na proa, tal como ocorreu com Edward Thatch, o famoso Barba Negra.

Imagem Skull and Bones

Skull and Bones é um jogo mais voltado para aqueles que buscam uma experiência menos fantástica e mais centrada na vida mercantil de um pirata. O loop de gameplay de Skull and Bones é bem repetitivo e pode acabar se tornando moroso, até para os fãs ávidos como eu. Além disso, a pequena e quase inexistente narrativa deixa a desejar por um jogo que originalmente saiu por $70 dólares.

Ainda assim recomendo para aqueles que gostariam de ver como é o mundo da pirataria com menos fantasia e mais pé no chão. Junte outros canalhas com o qual você gostaria de velejar e dominar lado a lado o Oceano Índico. Coloque um Alestorm pra tocar de música de fundo, beba até cair na frente da tela e lute para conquistar o mundo da pirataria de Skull and Bones!

70 %


Prós:

🔺 Gameplay divertido de batalhas navais
🔺 Excelente retratação de uma época e área pouco exploradas nos games
🔺 Amplo sistema de micro-gerenciamento com rotas mercantis, matérias-primas e mais
🔺Mesmo sendo um “Game as a Service”, o jogo não te empurra DLCs ou microtransações
🔺Excelente trilha sonora e gráficos

Contras:

🔻 Após um tempo, a repetição do gameplay pode enjoar
🔻 O modo história é muito curto e poderia ter sido amplamente mais explorado e trabalhado
🔻 O preço de lançamento não reflete o produto final

Ficha Técnica:

Lançamento: 16/02/2024
Desenvolvedora: Ubisoft Singapora
Distribuidora: Ubisoft
Plataformas: PC, Playstation 5 e Xbox Series
Testado no: PC