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Das cinzas à neve, Silent Hill se transforma mais uma vez. Shattered Memories, releitura do jogo original para PlayStation, é mais do que um novo título da franquia de survival horror. É o melhor trabalho da Climax Studios, que já havia feito bonito com Silent Hill: Origins (PSP, PS2). Desenvolvido especialmente para os controles do Wii, o game apresenta uma nova forma de jogar, sem combate e focado na exploração e fuga. Uma experiência nova e imperdível.

A história começa com uma consulta com o terapeuta Dr. Michael Kaufmann. O jogador interage respondendo a um questionário composto por sete perguntas. Porém você não vê o paciente, pois tudo acontece em primeira pessoa. Quanto as suas respostas, elas determinam as variações do jogo, como a aparência dos personagens e criaturas. Os testes mudam conforme você avança no jogo, passando por testes como colorir um desenho e interpretar fotos, por exemplo.

Finalizado o primeiro teste psicológico, o jogo volta ao passado com Harry Mason e sua filha Cheryl viajando de carro para Silent Hill. Harry perde o controle do carro e bate num barranco de gelo. Ao acordar, ele descobre que sua filha desapareceu. Uma abertura idêntica ao jogo original. Para alimentar ainda mais o saudosismo dos fãs, a policial durona Cybil, a enfermeira Lisa Garland, e a antagonista Dahlia Gillespie estão de volta. Entre os novos personagens estão a estudante Michelle Valdez e seu namorado, John, além do Dr. Kaufmann.

Silent Hill: Shattered Memories

Após o acidente, o jogador começa a explorar as ruas de Silent Hill e conhece os comandos do game. Com o Nunchuk o jogador controla os movimentos de Harry, enquanto o Wii Remote é utilizado para iluminar o cenário com a lanterna e interagir com o game. As interações são bem simples, mas criativas. Abrir coisas (porta, fechadura, baú, armário, etc), ligar dispositivos, girar botões e resolver quebra-cabeças são alguns exemplos. Mesmo com toda esta simplicidade, o game consegue entreter o jogador com a interação.

Harry possui um celular, o qual ele usa para várias finalidades: acessar a agenda de contatos, fazer ligações, ler/ouvir mensagens, tirar fotos, ver a galeria com todas as fotos, salvar o progresso do jogo, consultar o mapa via GPS, alterar as opções do jogo e consultar seu Log (progresso do jogo, tempo gasto, ligações feitas, e etc). E claro, o celular emite ruídos quando algo ruim está por perto. O barulho aumenta quando você se aproxima de um “eco do passado”, sempre agregado a um objeto que possui uma mensagem do além. Estes ecos revelam detalhes da trama através de mensagens de texto ou áudio. Há também os “ecos visuais”, os quais não causam ruídos no celular. Basta encontrar uma distorção visual e fotografá-la para revelar a foto e obter a mensagem.

Os objetos colecionáveis, chamados Mementos e encontrados durante a exploração, também são elementos importantes na compreensão da história (embora inúteis). Ainda falando sobre a exploração, Harry pode telefonar para números encontrados em anúncios, pôsteres e anotações. Naturalmente o primeiro número que liguei foi o da polícia (911). Depois sai ligando pra todos os números que encontrava pela frente. A curiosidade fará qualquer jogador se interessar pelos números, que dão mais detalhes sobre a história. Alguns deles fazem parte de quebra-cabeças, dando dicas de como resolvê-los ou destrancando portas.

Silent Hill: Shattered Memories

Quando você menos espera, Silent Hill é congelada. E assim começam os pesadelos do game, cujo objetivo principal é achar a saída (marcada no seu mapa). E com o pesadelo vem as criaturas, com aparência baseada no perfil do jogador (definido pelos testes do Dr. Kaufmann). Elas são imortais e tentam vencer Harry pelo cansaço. Tudo que você tem que fazer é correr, pois a única defesa são os sinalizadores, encontrados em lugares específicos e que afugentam as criaturas com sua luz intensa e calor. Quando uma criatura o agarra, você deve derrubá-la movimentando o Nunchuk e Wii Remote juntos para o lado correspondente. São quatro direções para se desvencilhar: frente, costas, esquerda e direita. Da mesma forma, você pode derrubar obstáculos para atrasar as criaturas. E quando muitos deles estiverem na sua cola, a melhor solução é se esconder (sem ser visto, claro).

O primeiro pesadelo assusta mas apresenta pouco desafio. Depois, nos demais cinco pesadelos, a coisa complica e assusta pra valer. É fácil se perder ou dar voltas em círculo pelo mapa, o que deixará qualquer jogador em estado de desespero ou frustrado. Nestas horas o GPS é seu melhor amigo, mas nem sempre dá para consultá-lo. As criaturas são rápidas, numerosas, espertas, e farão de tudo para impedi-lo de escapar. E por mais que você se acostume com os pesadelos, eles dão medo até o final do jogo – principalmente se você jogar no escuro e sozinho.

Shattered Memories possui um visual modesto, mas apresenta bons efeitos e animações fluídas. O jogo surpreende mesmo pela boa história, criatividade e imersão. As sequências animadas e diálogos são ótimos, mas não espere ver interpretações expressivas por parte dos personagens – algo que nunca foi o ponto forte da franquia.

Silent Hill: Shattered Memories

A versão de PSP ficou muito boa, com as esquivas de Harry adaptadas para os botões do portátil. Não dá para controlar a lanterna livremente como no Wii (enquanto você anda), mas de resto o jogo é o mesmo. Já a versão de PS2 ficou bem abaixo da média, com gráficos mais simples. Infelizmente, as três versões sofrem de queda na taxa de quadros – problema visível principalmente na hora de atravessar as portas correndo, durante os pesadelos.

Silent Hill: Shattered Memories é um game obrigatório para os fãs da série e aqueles que curtem o gênero. Sua jogabilidade não chega a inovar, mas a forma como ela é empregada no jogo é original e diverte. A nova proposta de sobrevivência funciona muito bem e causará medo na maioria dos jogadores. Os quebra-cabeças, marca registrada da franquia, continuam presentes e não estão tão difíceis como nos games anteriores (o que eu considero um alívio). Para concluir, a trilha sonora de Akira Yamaoka dá um novo tom sombrio à franquia fazendo mais uma vez um excelente trabalho de composição, que inclui a participação indispensável de Mary Elizabeth McGlynn. Que venha mais um Silent Hill produzido pela Climax.