O final de 2022 está parecendo uma viagem no tempo, pois ao finalizar o review de Tactics Ogre: Reborn, já tenho a grata oportunidade de retornar ao mundo de Mardias em Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered.
A Square Enix deixou aberto seu baú de tesouros e, depois de um remake para WonderSwan e PS2, finalmente esta franquia se desvencilha do gatcha para enfim chegar aos consoles da nova geração. Se você gostou da proposta de Octopath Traveler, então este pode ser o jogo perfeito para você!
“Era uma vez”, não… Oito vezes!
Senta que lá vem história, afinal o que mais importa nesse jogo é a experiência que não somente uma narrativa poderia proporcionar, mas, sim, oito diferente jornadas. Isso mesmo! O trabalho encabeçado por Akitoshi Kawazu ganhou um escopo diferente dos demais jogos da casa ao montar um quebra-cabeça de acontecimentos dividido entre oito personagens diferentes.
Há mil anos, os deuses malignos, Saruin, seu irmão Death e sua irmã Schirach, desafiaram os demais deuses e seus filhos mortais. Na esperança de salvar Mardias, Elore, o Deus Supremo, criou as Fatestones e entregou-as ao herói Mirsa, que daria sua vida para salvar os mortais, selando Saruin e tendo todas as pedras espalhadas pelos quatro cantos deste mundo.
Como em toda boa aventura, o selo de Saruin começa a se enfraquecer e sinais de que ele está retornando surgem por Mardias. No entanto, a batalha de Mirsa acabou virando uma lenda e poucos conhecem o real perigo iminente. Então cabe aos oito protagonistas desta história encontrar as pedras que podem selar novamente este mau.
Oferecendo uma liberdade para escolhermos com quem começar e independentemente da sua escolha, você experimentará começos e situações diferentes. Esta característica aumenta imensamente o fator replay, ainda mais trazendo a melhoria do New Game+, que carrega o seu progresso salvo para a próxima vez que for jogar.
No entanto fica a ressalva de que por se tratar de uma história não-linear, alguns acontecimentos podem parecer confusos ou até mesmo desconexos, exigindo que o jogador faça algumas ligações ao longo das oito jornadas e montando esse quebra-cabeça que gira ao redor do eixo principal: a batalha entre os deuses.
Para facilitar, os desenvolvedores trouxeram um menestrel (taí o subtítulo do jogo “The Minstrel Song”) que pode ser encontrado nos bares das cidades e que será o NPC responsável por colocar em ordem a história e sua continuidade. Inclusive uma cena extra é dada como recompensa para os bravos guerreiros que explorarem todas as histórias.
Não é Frozen, mas “Let It Go”…
A proposta principal em Romancing SaGa é de praticar o desapego. Se você não terá um fio condutor para ter a história colocada de maneira ordenada, sem ser pelo seu próprio interesse de ir até o menestrel, o mesmo acontece com a exploração do jogo. Para quem ficou mal acostumado com o sistema de pinpoint no mapa para saber qual a próxima missão, aqui a exploração é raiz.
Eventos, mapas e missões precisam ser descobertos e conquistados. Seja interagindo com NPC, falando com as crianças que fazem parte da brigada de voluntários ao chegar em uma nova cidade, comprando ou descobrindo em baús, suas missões passarão das mais básicas às mais complexas com o decorrer do jogo.
Inclusive você poderá perder algumas delas com o passar do tempo, pois o jogo oferece um Event Rank em que faz com que o mundo de Mardias e suas missões se ajustem com o avançar dos protagonistas. Você utilizará este recurso para manter certas missões em progresso para o New Game+, pois com certeza não conseguirá completar tudo numa mesma run.
Essa liberdade toda também favorece para que as experiências sejam diferentes para cada jogador, pois além dos oito protagonistas nós temos também as missões secundárias e algumas escolhas para fazermos nas principais. Por conta do Free-Form Scenario System, conseguimos conferir pequenas diferenças entre as partidas e que permitem com que você ganhe aliados, membros da party, novos inimigos, explorem áreas novas ou até mesmo perca alguma oportunidade.
Considere também estar livre para explorar o mundo, abrindo o mapa ao explorar cidades e masmorras, abusando das viagens rápidas disponíveis. Que por sinal também está disponível a alteração na velocidade para agilizar os acontecimentos durante o jogo, tentando aumentar o dinamismo por conta de um jogo mais cadenciado.
Muitos sistemas para desafiar seus neurônios
Mesmo sendo o primeiro Romancing SaGa a chegar ao Ocidente, na época em que recebeu o remake para PS2, já existiam outros três jogos originais da franquia e permitiu que Minstrel Song recebesse um amontoado de mecânicas com foco em combate que foram testadas previamente.
O básico deste jogo é termos o combate em turnos, porém previamente estabelecido que a agilidade dos personagens definirão a ordem das ações. Além disso temos um sistema bem interessante de posicionamento, bem parecido com o de Tactics Ogre, em que podemos colocar nossos personagens na linha da frente, intermediária ou no fundo. A estratégia está em administrar as vantagens e desvantagens atreladas aos equipamentos.
Esqueça o grind em busca de level, pois não existe esse tipo de sistema nesse jogo. Ao final de cada batalha, seus personagens melhorarão os atributos base conforme os ataques realizados, as armas utilizadas e danos sofridos. Isso também acontecerá com a sua perícia para as armas e acessórios, fazendo com que a dificuldade esteja em você adaptar seu personagem e equipamento ao inimigo sem depender do level propriamente dito.
Os desenvolvedores também trabalharam em um sistema de Action Point (AP), muito comum nos board games e em títulos como, por exemplo, Darkest Dungeon, para você realizar suas ações. Além disso temos contadores para o uso de habilidades da sua classe, que permitirá usar suas proficiências (pular, escalar, abrir baús, etc.) ao explorar o mundo.
Como se não bastasse, você terá que prestar atenção nos Battle Points (BP), gastos para desferir seus ataques e com custo baixo ao utilizar ataques fracos, além dos Durability Points (DP), que são os mais críticos, pois, eles não se regeneram durante o combate, como acontece com os BPs, e estão ligados à durabilidade de cada arma.
E não acaba por aí. Além de exigir que você balanceie entre baixo BP e alto DP para sobreviver aos inimigos mais fortes, além de calcular sua próxima ida à cidade mais próxima para reparar seu armamento, as duas principais mecânicas dos jogos anteriores retorna para este remaster: Glimmer e o Combo System.
O Glimmer explora a falta de levelamento e foca nas classes, permitindo que você aprenda habilidades de outras classes para incrementar sua evolução. Já o Combo System permite que os ataques da sua party aconteça de maneira combinada ou até mesmo que os personagens aprendam novas técnicas e invocações, esta última atrelada ao nível de divindade de cada um.
Diferente de Pokémon, que possuem seus ataques e habilidades pré-determinadas para cada level, os ataques são espontâneos e as técnicas aprendidas dependem de fatores como inimigo, ambiente, arma e classe, não ficando claro como “farmar” estes atributos.
Ambicioso e à frente do seu tempo
Mesmo com a função de retrabalhar o 2D da versão para SNES em um 3D embebido pela moda do início dos anos 2000, com estilo cell shading, este remasterização também trouxe uma melhora nas texturas para a nova geração de consoles e telas. Além disso o incremento de até 3x na velocidade para combate, diálogos e exploração, ter o mini-mapa na tela e manter o save para uma nova jornada com o New Game+ trazem boas melhorias para adequar o título aos dias de hoje.
Como conteúdo a Square Enix também se preocupou em oferecer nova classes e personagens, inclusive ouvindo os fãs de Romancing SaGa Re;univerSe, para termos boas adições à diversidade que o jogo pode oferecer. Aldora, que acompanhou o herói Mirsa, assim como a amada Shciele, entre outros 30 novos, podem integrar o time de heróis.
Temos também um desafio ainda maior com os chefes em versões aprimoradas e mais difíceis, que contam com uma nova trilha sonora exclusiva, dando ainda mais razão à possibilidade de salvarmos em qualquer lugar e momento do jogo.
Mesmo com aquela sensação de que dava para trabalhar o visual para algo mais atual e melhor, inclusive com a movimentação dos personagens, que continua muito datada, o jogo é uma ótima adição à coleção de clássicos que retornam para as novas gerações que não tiveram acesso ao título. Sem contar que ele oferece uma galeria com muito conteúdo extra para os fãs e entusiastas da franquia, com ilustrações e informações.
Ainda acredito que, assim como Tactics Ogre, este não é um jogo de entrada e está longe de ser algo fácil, principalmente para quem precisará de mais de 100 horas de jogo, mas ainda assim é uma boa pedida para quem busca uma boa história e um excelente desafio estratégico.
